União Nacional da Bioenergia

Este site utiliza cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Ao continuar navegando
você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade

Fórum de Articulistas

Auditoria de terras é crucial para reduzir custo agrícola das usinas
Publicado em 23/08/2019 às 15h32
Foto Notícia
Para adequado entendimento da recente voracidade por terras para plantio de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil, vamos usar dados referentes ao Estado de São Paulo. De 2000 a 2018 aconteceram importantes mudanças no uso das terras paulistas. Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), neste período as pastagens diminuíram em 3,61 milhões de ha, seguidas de milho, que se reduziu em 0,22 milhão de ha, e de laranja, com menos 0,80 milhão de ha. As culturas que mais cresceram no mesmo período foram cana-de-açúcar, com novos 3,34 milhões de ha, seguida de soja, com mais 0,42 milhão de ha, e de eucalipto/pinus, com expansão de 0,35 milhão de ha. A Figura 1 mostra estas mudanças nas áreas ocupadas em 2000 pelas dez culturas até então com maior participação em área no Estado de São Paulo.



Pode-se dizer que praticamente 92% de toda a área perdida pelas pastagens em São Paulo foram ocupados pela cana-de-açúcar, restando um pouco ainda para a expansão de soja e de eucalipto/pinus. A cana, portanto, mais que dobrou sua área em 18 anos.


Mais área, mais cara

Ainda segundo o IEA, em 2000 pagava-se em média 35,09 t de cana por alqueire. Este número médio subiu para 43,96 t por alqueire em 2018, ou seja, houve um incremento de 24,7% na quantidade de toneladas de cana pagas por alqueire em 18 anos.

Especialmente onde há maior concentração de usinas e nas terras mais próximas às indústrias, não é difícil achar contratos que paguem de 60 a até 75 toneladas por alqueire. Isso pode ser verificado em regiões como Catanduva, Ribeirão Preto, Orlândia, Franca, Jaboticabal, Limeira, Araçatuba, Araraquara e São José do Rio Preto.

Paralelamente, o preço da tonelada de cana, que é a base do cálculo do preço a se pagar pelas terras, cresceu ainda mais. Em 2000/2001, o valor do quilograma de ATR (Açúcar Total Recuperável) estava em R$ 0,1961. Já na safra 2018/2019, este valor fechou em R$ 0,5826. Como o preço do quilograma do ATR deve ser multiplicado por 121,97 kg para se chegar ao preço da cana colocada na esteira da usina de cada safra, em 2000/2001 a cana era precificada a R$ 23,92 por tonelada e na safra passada, dezoito anos depois, subia para R$ 71,06 por tonelada. Assim, o preço da cana elevou-se em 197,1%

Juntando o aumento da quantidade média de toneladas de cana pagas por alqueire pela terra em São Paulo com o crescimento do preço da cana nestes 18 anos, a terra paulista evoluiu seu custo para as usinas em 272,2%. Logo, as terras vêm crescendo em média 7,2% ao ano!


Impacto no custo de produção da cana

Num trabalho que vem sendo realizado de forma contínua faz vários anos, a empresa Sucrotec monitora o custo caixa -- ou seja, somente o que foi realmente desembolsado, sem depreciação - das mesmas usinas, que representam aproximadamente 5% da cana processada no Estado de São Paulo. Com dados deste monitoramento até a safra 2015/2016, foi possível produzir a Figura 2, que aponta o peso do que as usinas pagam para arrendamentos e parcerias em relação ao seu custo final de produção da cana própria.



É visível o crescimento do peso do desembolso das usinas para arrendamentos e parcerias agrícolas frente ao seu custo final de produção. Tal item representava ao redor de 10% de todo o custo na virada do século e já tinha alcançado 24% na safra 2015/2016, numa tendência crescente.

Aliás, este mesmo levantamento apontava que o desembolso com terras numa usina só perdia da Folha de Pagamento (mão de obra) como maior desembolso para produzir cana própria, conforme aponta a Figura 3.




Gestão Minuciosa

Dado o expressivo custo das terras nas usinas, torna-se crucial que sua gestão seja mais acurada e tenha maior profundidade para se conseguir frear tal encarecimento.

Justamente por isso que recomendo que as usinas iniciem imediatamente o serviço de Auditoria de suas Terras. Este trabalho, de forma neutra e isenta -- daí a sugestão de se contratar uma equipe de fora da usina -- deverá atuar nos seguintes tópicos:

1) conhecer os padrões que a usina cliente pratica com seus "fornecedores de terras":

a) de precificação das terras,
b) de definição de área a ser contratada (só área com cana plantada ou área com carreadores ou mesmo área com demais usos),
c) da forma de pagamento,
d) de subsídios ao contratado, se existem,
e) de outros fatores usados nas negociações;

2) comparar os padrões listados acima com os das demais usinas da região, identificando práticas que possam ser reduzidas e até eliminadas nas renovações de contratos e novas contratações;

3) revisar os padrões adotados, definindo parâmetros para a contratação/renovação de contratos de terras que reduzam seu custo sem afetarem sua disponibilidade à usina, inclusive propondo critérios e um sistema de negociação que sejam controláveis e auditáveis;

4) auditar todos os contratos de parceria agrícola e arrendamentos, identificando aqueles que estejam acima dos padrões que a usina está adotando ou passará a adotar após o benchmarking que a RPA Consultoria fará junto ao mercado regional, isolando os casos que extrapolem os padrões;

5) identificar se há terras sem contrato ou com contrato vencido;

6) elencar os contratos vencendo nos próximos anos, definindo previamente o plano de ação para cada um deles no tocante aos seus limites de negociação;

7) levantar as áreas efetivamente ocupadas com cana nas áreas constantes nos contratos, identificando áreas em pousio ou "em estoque" (sem cana por incapacidade de plantio da usina) e áreas realmente não plantadas;

8) finalmente, mapear o valor que poderá ser reduzido e mitigado ano a ano com terras em função de cada uma das ações listadas acima, de forma a facilitar o monitoramento e a cobrança da efetiva concretização destas ações.

É complicado de se estimar o quanto este trabalho pode agregar em economia ao caixa das usinas, posto que cada caso é um caso, mas certamente não estamos tratando de quantias pequenas.
Ricardo Pinto
é engenheiro agrícola, administrador de empresas e mestre em Agronomia, além de fundador da RPA Consultoria, com 31 anos de experiência no setor sucroenergético, sendo 24 anos como consultor
Fique informado em tempo real! Clique AQUI e entre no canal do Telegram da Agência UDOP de Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não representando,
necessariamente, a opinião e os valores defendidos pela UDOP.
Últimos Artigos
Foto Articulista
PLÍNIO NASTARI
Brazil moves ahead in sustainable mobility
Publicado em 03/04/2024
Foto Articulista
ARNALDO JARDIM
Paten acelera a transição energética, por Arnaldo Jardim
Publicado em 03/04/2024
Foto Articulista
MARTINHO SEIITI ONO
Biocombustíveis no plano de voo, por Martinho Ono
Publicado em 28/03/2024
Foto Articulista
ANTONIO CESAR SALIBE
Etanol: sobreviver para avançar! - por Antonio Cesar Salibe
Publicado em 27/03/2024