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Opinião

Comunicação no Agro
Publicado em 19/11/2019 às 08h41
Foto Notícia
Muita gente do nosso meio acha que existe um problema de comunicação no Agro.

Vivemos uma eterna crise existencial entre ser pop, tech e tudo, levar o país nas costas ao mesmo tempo em que nos sentimos "injustiçados" pela sociedade. Não gostam de nós, dizem...

Não tenho paciência. Participei recentemente em Cuiabá do Lab de Comunicação para o Agronegócio promovido pela Aberje. Aqui algumas coisas que falei e que gostaria que todo mundo ouvisse.

Em primeiro lugar é mentira que a sociedade não gosta do Agro. O brasileiro gosta do Agro. Agro significa progresso, emprego, renda, dinheiro, sucesso. Tejon e outros já pesquisaram isso. E outra coisa, em cidades onde o Agro é forte, vive-se em média muito melhor do que em outros cantos do país. Educação, saúde, PIB, desenvolvimento humano, tudo é melhor.

Não existe preconceito contra o Agro, o que existe é desinformação em alguns temas, o que é muito diferente, e perfeitamente compreensível em uma população que em grande parte tem baixa escolaridade e pouquíssima leitura. É preciso informar, mas também criar empatia entre o homem do campo e da cidade. Precisamos mostrar não aquele esquadrão de colheitadeiras em V que mostra todo o poder do Agro, mas as pessoas e famílias, e as histórias de coragem por trás daquilo. Algumas empresas já se movimentam neste sentido.

A nossa impressão de que a sociedade "não gosta de nós" não vem do povão, vem de meia dúzia de representantes da intelligentsia progressista do eixo Leblon - Vila Madalena que escreve coluna de jornal, e aparece na GNT. Estes de fato não gostam do Agro, são contra o Agro e acham que todos poderíamos sobreviver comendo hortaliças orgânicas e açaí.

Eu acho que estes, quando falam bobagem, ou seja, sempre, devem ser respondidos sim, com fatos e dados e pelos mesmos canais. É preciso que o Agro esteja presente na opinião pública, essa formada por jornais, tv e a mídia em geral.

Mas eu não perderia muito tempo com isso. Sabem por quê? Porque um Fábio Porchat ou uma Anita não interferem em absolutamente nada no nosso negócio. Ninguém deixou de comer carne ou tomar leite por causa de algum deles. Aliás, os argumentos que usam são tão primários que uma guria de 20 anos como a fofíssima Camila Telles responde-os com os pés nas costas e com muita propriedade.

E ainda assim, cada vez que um cretino desses fala, é uma enxurrada de revolta no mundo Agro. Entidades escrevem cartas raivosas, clamam pelo direito de resposta, colegas publicam textos, fazem vídeos.E as falas desse povo tem muito mais repercussão entre nós do que no resto da população... Lembram da Escola de Samba? O carnavalesco deve estar até hoje soterrado pelas cartas de protesto que chegaram do Brasil todo. Quem se lembra daquele samba enredo? Quanto deixamos de faturar com soja, milho, algodão, boi, açúcar, leite, carne, por causa do samba, da Anitta ou do próximo sem noção? Nada, zero, nadinha.

Querem um verdadeiro desafio de comunicação?

Eu concordo plenamente com nosso Marcos Jank quando ele fala que o futuro do Agro brasileiro nas próximas décadas está intimamente ligado a ascensão de bilhões de pessoas à classe média na China, no Sudeste Asiático, no Oriente Médio na Índia e em breve na África. É uma gigantesca janela de oportunidade para o país, e para nossas futuras gerações. É o pré-sal da roça.

Nos próximos 20 anos haverá um aumento de 35% na demanda mundial por carnes. 90% deste crescimento está em países emergentes, 60% está na Ásia. O Brasil é dos maiores exportadores mundiais de aves, carne bovina e suína. A demanda adicional por soja, a nível global, até 2028/2029 é de 70 milhões de toneladas. 50% da oferta virá do Brasil, onde a área vai crescer de 36,5 milhões para 45 milhões de hectares. Temos terra, água, clima, tecnologia, empresas fortes e pessoas capacitadas para isso.

Mas tem gente que acha que se todos os asiáticos comerem carne e precisarem de mais soja, o planeta vai aquecer, as florestas vão acabar, a fauna vai ser extinta, as calotas polares irão derreter, as pragas do Egito retornarão, e vamos nos acabar em um deserto apocalíptico de fome, doenças e desespero, e arderemos todos no quinto dos infernos. How dare you?

Alguém precisa dizer calma Greta, calma.

Mas este é debate mais significativo para o nosso setor acontecendo hoje. Poderá o Brasil, e outras regiões produtoras de commodities, atender a esta demanda explosiva de forma sustentável, ou seja, contribuindo para a preservação das florestas, da biodiversidade e para a mitigação de mudanças climáticas? E infelizmente hoje, pouquíssima gente, fora daqui, tem confiança de que o Brasil conseguirá ao mesmo tempo atender esta demanda e promover um uso racional de seu território.

O porquê da desconfiança? Perguntas mal respondidas.

Qual o plano para proteger as terras públicas de grilagem? Qual o plano para combater o desmatamento ilegal? Qual o plano para recuperar milhões de hectares de terras degradadas? Qual o plano para implementar a lei do Código Florestal quando existem milhares de produtores sem recursos para cobrir seus passivos? Qual o plano para a regularização fundiária? Para eliminar a pobreza rural? Qual o plano para disseminar nossa tão propagada tecnologia tropical para milhares de produtores que estão em baixíssimo nível de produtividade? Qual nossa ideia de ordenamento territorial? Como desenhar nossa infraestrutura de forma a contribuir com a expansão inteligente da agropecuária?

Não adianta mostrar aos gringos as fazendas mais bonitas e produtivas do Brasil, a ILPF, o estoque de carbono em belas pastagens, nossa porcentagem de florestas em pé se não respondermos essas perguntas. Em em vez de dar respostas simplesmente declaramos que somos os mais sustentáveis do mundo.

Este é o desafio do século da comunicação do nosso setor. Paradoxalmente é o mais negligenciado. Preferimos infelizmente bater boca no Facebook com imbecis em vez de encarar a busca destas respostas, e comunicar claramente estas respostas. E isso vai interferir muito mais do que a Anitta no que vendemos ou deixamos de vender.

Aproveitando a onda da desconfiança, surfam nela os protecionistas, os hamburgers veganos, os radicais... A ponto de milhões de dólares estarem sendo investidos em carne de laboratório, apostando que esta é uma solução mais viável para a humanidade do que confiar o planejamento do uso da terra a brasileiros.

A questão de clima e florestas há muito transformou-se em cláusulas de acordos internacionais, política externa, compromissos públicos, políticas de compra. Hoje são mais de mil compromissos de empresas, indústrias, traders, varejistas e outros que querem desvincular cadeias de commodities de desmatamento. Ah mas eu não acredito em aquecimento global porque é coisa de comunista. Dane-se, pode continuar não acreditando, mas é um jogo global e que está com as cartas dadas. E se você não está sentado à mesa, meu amigo, muito provavelmente você é o menu do dia. Diante da ausência absoluta (com raras exceções) do nosso Agro no debate, temos gente na Europa e nos Estados Unidos tomando decisões que afetam o Brasil e os consumidores do outro lado do mundo. Diante da desconfiança e de nossa ausência o que propõem são as soluções mais fáceis. Sanções, embargos, exclusões.

É contra isso que temos que lutar.

Ao mesmo tempo em que precisamos comunicar sobre isso, precisamos nos engajar em um diálogo direto com a Ásia sobre sustentabilidade.

Já demonstramos soberbamente como podemos ter uma agricultura de baixo carbono dentro da fazenda. Resta demonstrar que temos a capacidade de fazer um uso racional do nosso território. A PCI em Mato Grosso é uma resposta a isso. Sim, podemos produzir mais, podemos conservar o que temos, podemos incluir pequenos produtores e populações tradicionais em um processo de desenvolvimento. E para isso precisamos do setor público, do setor privado e do terceiro setor atuando juntos. E precisamos de mercado e de investimentos. Não de soluções simplistas goela abaixo.
16/11/19
Fernando De Mesquita Sampaio
Fonte: ADEALQ
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