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Diversas

"Pegada de carbono" começa a pressionar bancos e empresas
Publicado em 27/11/2020 às 10h24
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O BV (antigo Banco Votorantim) passará a neutralizar toda a emissão de carbono dos veículos que financiar a partir de 2021. O Itaú Unibanco trabalha numa iniciativa com a Mastercard que deve permitir a compensação de emissões de clientes. A fabricante de calcinhas absorventes Pantys vende seus produtos nas lojas com uma etiqueta de carbono neutro.

Os três casos fazem parte de um fenômeno novo, mas que está despontando no Brasil - o de empresas que começam a zerar a pegada de carbono do resultado dessa atividade, seja por pressão de consumidores e reguladores, seja pelo foco em investidores com bolso mais fundo. São relativamente comuns no país exemplos de companhias que adquirem créditos para mitigar o rastro de suas operações corporativas, ou seja, aquelas feitas da porta para dentro.

Para especialistas em questões ambientais, iniciativas desse tipo vão se multiplicar e terão impacto relevante, já que vão aonde o dinheiro e o consumo estão. "A ideia por trás é que o cliente não teria comprado aquele carro se o banco não tivesse financiado. Então, ele é responsável também e é isso que o setor financeiro tem de fazer", afirma Felipe Bittencourt, sócio-diretor da WayCarbon, consultoria que elaborou o projeto do BV.

O banco não comenta o assunto porque está em período de silêncio pelo processo de IPO, mas o projeto prevê compensar 4 milhões de toneladas por ano. A iniciativa do BV é, de longe, a maior já realizada no país e envolve investimentos da ordem de R$ 30 milhões por ano, apurou o Valor.

Para chegar a esse volume, foram considerados o tempo em que um veículo fica na carteira do BV (cerca de 4 anos), a rodagem média e o consumo estimado de combustível no período. Os créditos serão adquiridos de projetos certificados, principalmente de energia solar e florestas, diz Rodrigo Wanderley, gerente do programa amigo do clima da WayCarbon.

A compras são realizadas no mercado não regulado de carbono, onde são negociadas cerca de 100 milhões de toneladas por ano, sobretudo por empresas que querem mitigar seu impacto. Os preços caíram muito no governo Trump, mas voltaram a subir nos últimos meses e a expectativa é que continuem em alta com Joe Biden na presidência americana e com um número crescente de investidores adotando critérios ESG (parâmetros ambientais, sociais e de governança corporativa).

"Estamos saindo do zero para um lugar onde isso vai acelerar muito rapidamente", avalia Fabio Alperowitch, fundador da Fama Investimentos. Outro fator que deverá empurrar mudanças é a exigência do Banco Central para que os bancos passem a reportar, em 2022, o impacto ambiental de suas operações. Ficará mais incômodo financiar empresas sem boas práticas.

"É uma tendência e a gente vê oportunidades", diz o gerente-geral de relações com investidores do Banco do Brasil (BB), Daniel Maria. De acordo com o executivo, a instituição está avaliando como medir o impacto de clientes para, então, traçar um plano para mitigá-lo. O banco tem R$ 169,4 bilhões em operações que considera sustentáveis, acrescenta Ana Maria Macedo, gerente-executiva de sustentabilidade empresarial.

O Itaú também desenvolve estudos sobre como compensar emissões relacionadas à carteira de crédito e, em parceria com a Mastercard, deve lançar no ano que vem uma plataforma de neutralização de emissões de clientes pessoa física, apurou o Valor. Procurado, o banco não comentou o assunto.

A busca pela "descarbonização" das operações de empresas é nova no mundo todo, mas está crescendo. "Temos várias companhias nos procurando para compensar o impacto final de suas operações", afirma Milton Pilão, presidente da Orizon Valorização de Resíduos, que gera 6 milhões de toneladas de crédito de carbono por ano.

A Moss, dona de uma plataforma de negociação de créditos de carbono, está em conversas com varejistas e bancos digitais, entre outros, para oferecer a seus clientes a possibilidade de neutralizar a pegada de carbono de suas compras. Como a startup transforma os créditos em criptoativos, é possível vendê-los fracionados a pessoas físicas, com valores pequenos. "Vai ser possível neutralizar uma calça ou um sanduíche que você comprar", diz Luis Adaime, fundador da Moss. "A empresa pode oferecer isso ao consumidor e ainda tirar um custo que ela tem."

Esse custo é alto, por exemplo, para companhias aéreas. Na Europa, várias delas já perguntam aos clientes se aceitam pagar alguns euros a mais pela passagem e neutralizar o impacto da viagem. Entre as brasileiras, a Latam disse que está
trabalhando em projetos para mitigar, reduzir e compensar a sua pegada de carbono". A Azul afirmou que não tem iniciativas nesse sentido. A Gol não se manifestou.

A fabricante de calcinhas absorventes Pantys não só resolveu bancar o custo como também decidiu transformar a ação em marketing. Os produtos são vendidos com uma etiqueta que mostra o impacto deles da produção ao consumo e diz que ele já
foi compensado. "Fizemos para entender o processo porque sempre tivemos uma preocupação grande na escolha dos materiais, mas daqui a uma década todo mundo vai ter que fazer isso", afirma Emily Ewell, fundadora e presidente da empresa. Também sócia da Pantys, Maria Eduarda Camargo diz acreditar que, no futuro, os produtos em geral virão com etiquetas de impacto ambiental, assim como os alimentos vêm com a tabela de informações nutricionais.

A Edenred, dona da companhia de gestão de frotas Ticket Log, lançou no ano passado a plataforma Compense para negociação de créditos de carbono. Até agora, viu mais empresas querendo vender do que comprar esses ativos. "Mas o mercado vai aquecer naturalmente. A pressão da sociedade só vai aumentar, não tem como", diz Douglas Pina, diretor da Ticket Log.
26/11/2020
Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico
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