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Diversas

Questões ambientais vão afetar comércio com os EUA
Publicado em 27/01/2021 às 09h24
Uma das frentes em que provavelmente o governo brasileiro mais vai ter que se esforçar para construir as relações com a nova administração dos Estados Unidos é a comercial. O realinhamento praticamente cego do governo de Jair Bolsonaro às propostas comerciais, políticas e ideológicas do ex-presidente Donald Trump quase nada rendeu em termos de aumento de exportações e importações, nem livrou o Brasil das tarifas e cotas que Trump impôs ao restante do mundo.

O comércio entre o Brasil e os Estados Unidos teve, em 2020, o pior resultado desde a crise financeira de 2009. As exportações brasileiras para os Estados Unidos encolheram 27,8%, para US$ 21,4 bilhões. E as importações diminuíram 19,8%, somando US$ 24,1 bilhões. O saldo deficitário em US$ 2,7 bilhões para o Brasil é o pior em seis anos. O fluxo comercial entre os dois países caiu 23,8%, para US$ 45,6 bilhões, segundo levantamento da Câmara Americana de Comércio, menos da metade dos US$ 101,7 bilhões em trocas com a China. Principal parceira comercial do Brasil, com 28,4% de participação, a China é frequentemente criticada por apoiadores de Bolsonaro e sua própria família.

A pandemia, a retração econômica global e o câmbio ajudaram a reduzir os negócios entre o Brasil e os Estados Unidos em 2020. Mas houve forte influência das limitações impostas pelo governo Trump. Descrente do multilateralismo e das negociações em fóruns internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), Trump geralmente preferiu impor cotas e sobretaxas sem muito espaço para negociação. As exportações de produtos siderúrgicos, importantes no comércio bilateral, foram das mais prejudicadas pelas restrições colocadas em vigor desde 2018, que tiveram efeito nos anos seguintes, especialmente em 2020.

Já em março de 2018, Trump impôs cotas para o aço brasileiro e taxou em 10% as compras de alumínio do país - apenas essas duas medidas tiveram impacto negativo de US$ 1,2 bilhão na balança comercial. A medida foi tomada por meio da Seção 232, sob o argumento que as compras ameaçavam a segurança nacional dos Estados Unidos. Diversos países, como Rússia, Índia, Turquia, e a União Europeia abriram reclamações na OMC contra os americanos.

Neste último ano de governo, Trump foi especialmente ativo em distribuir cotas e sobretaxas. Aumentou a taxa sobre chapas de alumínio importadas do Brasil e mais 17 países. Abriu investigação contra o Brasil e outros países por taxação de serviço digital, para defender empresas americanas como o Google e a Amazon. Em agosto, lançou novas ameaças sobre as importações caso Brasília não reduzisse as tarifas do etanol americano. Mesmo sendo o país um dos maiores produtores do etanol de cana, Bolsonaro cedeu, mas não ganhou nada em troca. Já nos últimos dias de Trump em Washington, o Congresso americano não renovou o Sistema Geral de Preferências (SGP), vantagens concedidas às compras de países em desenvolvimento, o que pode prejudicar alguns produtos brasileiros.

Esses problemas estão longe de uma solução. O Brasil não é claramente uma prioridade do governo Biden no campo comercial. A China, que emerge da pandemia ainda mais forte, é certamente o principal motivo de preocupação, como competidor no cenário global. Durante o governo de Trump, ações comerciais atingiram importações de produtos chineses que somam mais de US$ 360 bilhões. A preocupação com a China certamente é de Biden. Isso ficou evidente na escolha de Katherine Tai pelo novo presidente para o comando do US Trade Representative (USTR), que cuida das relações comerciais de Washington. Fluente em mandarim, ela foi a chefe de fiscalização da China no escritório do organismo.

Para negociar com o governo Biden, Brasília deve se preparar para uma conversa diferente. Para começar, o ponto mais sensível deve ser a questão ambiental, como indicou Biden ainda na campanha presidencial, quando mencionou o Brasil e as queimadas na Amazônia em debate com Trump. A questão ambiental deverá ser transversal, pontuando todas as frentes de discussão do novo governo americano, que ainda contará com apoio dos europeus em relação ao tema. A carta enviada por Bolsonaro ao novo presidente americano foi um bom passo, mas tudo indica que Washington vai demandar ações concretas do governo brasileiro diante do aumento recorde de desmatamentos e queimadas no país registrado no ano passado.
Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA
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