União Nacional da Bioenergia

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Safra de cana fechando com chave de ouro
Publicado em 05/02/2021 às 13h54
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Vamos aos nossos fatos relevantes do mês de janeiro e as perspectivas para fevereiro. Na cana, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), no acumulado da safra até 16 de janeiro, a moagem total de cana-de-açúcar chegou a 597,59 milhões de toneladas, um aumento de 3,17% em comparação ao ciclo passado. Com relação à safra 2021/22, há otimismo para as condições climáticas dos dois primeiros meses, o que pode permitir a recuperação dos canaviais e pouca alteração no ATR disponível em comparação a 2020. O açúcar deve continuar remunerando acima do etanol, com as usinas priorizando a produção do primeiro, mas limitadas à capacidade instalada produtiva. Para o etanol hidratado, o mercado espera que os preços superem os R$ 2.000/m³, podendo ficar um pouco menores de abril a julho.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) divulgou o status de cumprimento das metas das distribuidoras referente ao programa RenovaBio nos anos de 2019 e 2020. De acordo com a agência, até dia 31/12/2020 foram adquiridos 14,5 milhões de CBios pelas distribuidoras, o que equivale a 97,6% da meta compulsória. Para 2021, a meta a ser encalçada está estipulada em 24,86 milhões de créditos. Mais de 5,7 milhões de CBios já foram emitidos pelas usinas no ano de 2021, sendo 750 mil contratos comercializados, de acordo com o MME (Ministério de Minas e Energia). O ministério também divulgou o balanço de 2020, revelando a emissão de 18,5 milhões de títulos e negociação na ordem de 14,9 milhões, que foram comercializados a um preço médio de R$ 43,66, totalizando a cifra de R$ 650,4 milhões.

A ANP divulgou um estudo que mostrou uma leve desconcentração na distribuição de combustíveis no Brasil. Segundo a entidade, entre 2014 e 2019, o índice que mede a participação das quatro maiores distribuidoras (BR, Ipiranga, Raízen e Alesat) caiu 9,1% para a gasolina, 8,2% para o etanol e 9,8% para o diesel, fechando em 67,5%, 59,4% e 74%, respectivamente.

Outro estudo da organização mostrou que o Brasil é líder na proporção de energias renováveis em sua matriz energética, composta por 46,1% de fontes renováveis, e com os produtos de cana representando 53% do total de bioenergia. O Brasil iniciou a exportação de um novo produto do setor sucroenergético: pellets de bagaço de cana-de-açúcar. O produto, oriundo da Raízen, será utilizado como biomassa para a produção de biocombustíveis e tem como destino o mercado do Reino Unido.

Em termos de investimentos, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou financiamento de R$ 941,6 milhões para dois novos projetos da São Martinho: a construção de unidade de etanol de milho flex na Usina Boa Vista em Goiás, e de uma termelétrica em Pradópolis, que irá utilizar bagaço de cana como fonte de energia. O valor liberado representa 79% do valor total dos projetos, orçados em R$ 1,2 bilhão, e com expectativa de inauguração em 2026.

A BP Bunge Bioenergia revela que a joint-venture firmada no final de 2019 tem proporcionado a captura das melhores práticas de cada um dos negócios. Exemplo claro disso é o sistema de automação da cadeia logística de corte, colheita e transporte, que se tornou referência no mercado, unificando práticas em cada uma das organizações e originando o hub de controle SmatLog.

Um projeto da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com a Coplacana, a Safra Trace e a Usina Granelli, deve contribuir para implementação de um sistema de blockchain na produção de cana-de-açúcar no Brasil. O sistema permite o registro dos dados de forma simultânea, em diferentes dispositivos, e envolve tecnologias de sensoriamento remoto para armazenar e processar essas informações que, além de contribuir para a certificação da produção de biocombustíveis, deve favorecer práticas de manejo no campo. Iniciativas semelhantes também vêm sendo estudadas pela Embrapa para as cadeias de grãos.

Terminamos as notícias das empresas comentando sobre o sucesso total da operação de I.P.O da Jalles Machado. A oferta total foi de R$ 642 milhões, com mais de duas vezes a demanda pelas ações existentes. Vale destacar que mais de 30% do capital veio de investidores internacionais.

No açúcar desde o início da safra, foram produzidas 38,19 milhões de toneladas de açúcar -- 44% maior que o registrado no mesmo período de 2020. Segundo a Unica, esse volume não deve sofrer grandes alterações até o final da safra, em virtude do término da operação de grande parte das usinas de cana-de-açúcar. A exemplo disso, nos 15 primeiros dias de 2021, foram fabricadas apenas 7,57 mil toneladas de açúcar. As exportações de açúcar do mês de dezembro totalizaram US$ 740,08 milhões, um crescimento de 119,3% ante o mesmo mês de 2019. Destaque para a comercialização com a China que somou US$ 156,84 milhões ( 665,3%), Argélia com US$ 98,34 milhões ( 72,0%) e Malásia com US$ 69,86 milhões. Para a safra 2021/22, estimativas da BP Bunge apontam para queda na produção de açúcar na ordem de 5,3%, chegando a 36 milhões de toneladas.

Levando em consideração esse cenário, a Archer Consulting informou que 69% das exportações brasileiras de açúcar da safra 2021/2022, ou 17,25 milhões de toneladas, já tiverem seus preços fixados até 31 de dezembro de 2020. Esse volume é 153% maior que o registrado no mesmo período de 2019.

Em relação aos preços, a estimava é que as cotações para março estejam em torno de R$ 1.920,00 a tonelada, e para entregas ao longo da safra, entre R$ 1 730,00 e R$ 1.740,00 -- de acordo com dados da consultoria Czarnikow. Para a safra 2022/23, a Archer estima que aproximadamente 23% do total a ser exportado, também já teve seu preço fixado.

Na Índia, a produção do ciclo 2020/21 deve ser de 30,2 milhões de toneladas, segundo informações da Isma (Associação de Usinas de Açúcar Indianas). A estimativa é 2,6% inferior ao projetado anteriormente, devido a quedas de produtividade. Nesse mesmo ciclo, a Índia deve embarcar 6 milhões de toneladas de açúcar, contando com o apoio de subsídios do governo em US$ 477 milhões.

Contrariando as expectativas levantadas no início da pandemia sobre uma possível queda no consumo global de açúcar, a demanda pelo adoçante se manteve estável, mesmo com o fechamento de restaurantes e proibição de eventos. De acordo com a ED&F Man Holdings, o consumo deve cair apenas 1% na atual safra e, para a seguinte, Czarnikow Group e JP Morgan já projetam crescimento de 2% e 1%, respectivamente.

A StoneX estima que o déficit na temporada 2019/20 (out-set) deve ser de 2,5 milhões de toneladas e de 3,3 milhões para 2020/21. A produção global de açúcar deverá alcançar 183,6 milhões de toneladas em 2020/21, 0,3% superior ao registrado em 2019/20. Por sua vez, o consumo foi estimado em 186,9 milhões de toneladas, crescendo 0,7% frente a safra anterior, com forte demanda no Paquistão, Indonésia e China. Já no Brasil, a produção no ciclo 2021/22 (abr-mar) deve totalizar 35,5 milhões de toneladas, queda de 7,3% em comparação com a atual. O mix para açúcar deve ficar em 45,2%.

O USDA, por sua vez, prevê que os estoques finais de açúcar na safra 2020/21 devem ficar próximos de 14,87 milhões de toneladas, um crescimento de 1,78% em comparação com a safra passada, ou 260 mil toneladas adicionais.

A Copersucar pode se tornar a maior trading de açúcar do mundo, caso adquira a participação da Cargill na Alvean. As negociações estão em pleno curso. No ciclo 2019/20, a trading faturou R$ 30 bilhões, sendo responsável pela comercialização de 32% das exportações brasileiras de açúcar, que somaram mais de 10 milhões de toneladas.


No etanol, os dados divulgados pela Unica apontam para uma produção acumulada de 29,42 bilhões de litros de etanol, desde o início do ciclo 2020/21. Desse total, 32,7% é de etanol anidro (9,62 bilhões de litros) e 67,3% de hidratado (19,8 bilhões de litros). A queda acumulada em comparação à análise realizada na mesma quinzena do ano passado é de 11,46%

Na primeira quinzena deste ano, segundo a Unica, a produção de etanol somou 124,8 milhões de litros de etanol, sendo que 92,2% da produção é proveniente do etanol de milho (115,1 milhões de litros) -- o que já era esperado em período considerado como entressafra na cana-de-açúcar.

Com as vendas acumuladas até a primeira quinzena de janeiro, o volume total comercializado nessa safra chegou a 24,56 bilhões de litros, uma redução de 9,98% em comparação ao registrado no mesmo período da safra passada (27,0 bilhões). Desse total, 63,3% se refere ao etanol hidratado, ou 15,32 bilhões de litros (redução de 17,3%).

Para 2021, a BP Bunge estima que o consumo de etanol no Brasil deverá crescer 9%, enquanto a produção do biocombustível deve cair 10% na região Centro-Sul, chegando a 27 bilhões de litros na safra 2021/22, por conta da queda de 4,1% na disponibilidade de cana. As vendas externas de etanol somaram US$ 120,6 milhões no mês de dezembro de 2020, o que equivale a um aumento de 57,2%.

A China comprou 200 milhões de galões (aproximadamente 757 milhões de litros) de etanol dos EUA, superando o recorde de importações de 2016, quando adquiriu 198,1 milhões de galões. O país asiático não adquiria etanol americano há dois anos. A mistura de etanol na gasolina da China pode ser a grande notícia do ano.

Já a Índia antecipou sua meta de mistura de 20% de etanol à gasolina, antes prevista para o ano de 2030, para até 2025. No ano passado, o país já havia definido as metas de mistura de 10% de etanol à gasolina até 2022, e de 20% até o ano de 2025. O país hindu tem o objetivo de reduzir suas dependências de importação de petróleo e deve consumir 4 bilhões de litros de etanol até 2022 e 12 bilhões até 2025, redirecionado a cana, antes demandada para a produção de açúcar, para o biocombustível.

A usina Alcooad, situado em Nova Marilândia no MT, recebeu autorização da ANP para iniciar suas operações de produção de etanol de milho. A unidade recebeu investimentos na ordem de R$ 160 milhões por um grupo de 24 agricultores do estado, estando apta a produzir 112 milhões de litros de etanol, 80 mil toneladas de DDG e 42 mil megawatts de energia por ano.

Valor do ATR

No início da safra, tivemos algumas quedas no valor acumulado do ATR: abril com R$ 0,70/kg; maio com R$ 0,69/kg; junho em R$ 0,68/kg; e julho em R$ 0,676/kg. No entanto, de agosto para cá, temos observado um aumento do indicador: agosto em R$ 0,679/kg; setembro em R$ 0,687/kg; outubro com R$ 0,70/kg; novembro com R$ 0,71/kg e dezembro fechando com R$ 0,729/kg. Em janeiro de 2021, registramos o maior preço de toda a safra, com o ATR valendo R$ 0,86/kg, e com isso, chegamos a um acumulado de R$ 0,74/kg. Essa foi minha última previsão para o fechamento da safra. Seguimos acompanhando o comportamento nos próximos meses, mas é provável que passe de R$ 0,75/kg.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em fevereiro na cadeia da cana:

a) Observar o consumo de etanol no mercado interno na entressafra. Ao fechar esta coluna pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 2,62 com impostos nas usinas e o anidro a R$ 2,57. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 58, um incrível aumento nos últimos 30 dias.
b) Consumo de açúcar: ao fechar a coluna, o açúcar estava em 16 cents/libra peso na tela de março de 2021. O consumo segue firme mesmo com a pandemia e pode aumentar com o crescimento econômico mundial.
c) Os efeitos do clima sobre o canavial 2021/22, que vem se recuperando após um início difícil nos meses de setembro a novembro.
d) As exportações de açúcar do Brasil estão incrivelmente altas e os estoques caindo, o que pode refletir na situação da próxima safra e nos preços para o mercado interno;
e) Observar o que deve acontecer com o câmbio devido o caminhar das reformas e provável volta da confiança com a vacinação e melhoria da governança política.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, e outros materiais no site doutoragro.com e vídeos no canal do YouTube (marcos fava neves) e no Market Club da Credicitrus, a quem agradeço pelo apoio.

*Este texto contou com a inestimável ajuda de Vinicius Cambaúva e Vitor Nardini Marques, co-autores.
Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
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