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Diversas

Presidente da Statkraft: "Brasil pode assumir a liderança renovável tal como a Noruega"
Publicado em 03/03/2021 às 16h27
A Statkraft é hoje a maior geradora de energia renovável da Europa. Com operação em 17 países, a companhia norueguesa é produtora de energia solar, eólica, hidrelétrica e a gás. O salto das fontes renováveis durante a pandemia jogou o lucro da Statkraft para a casa dos 3,5 bilhões de coroas norueguesas, ou 412 milhões de dólares. Mas, apesar da dominância no velho continente, a Statkraft sintetiza a importância do Brasil para a sua estratégia global em números: o país é o principal mercado da companhia fora da Europa e por aqui, o grupo controla 22 ativos de geração de energia eólica e hidrelétrica.

No início do ano, a empresa anunciou o investimento de 2,5 bilhões de reais na construção de um projeto eólico na Bahia capaz de dobrar a capacidade energética da companhia no Brasil - que hoje gira em torno de 450 megawatts (MW). A aposta, segundo a Statkraft, vem graças ao fato de que o país será a nova potência mundial energética e líder na retomada verde em indústrias vitais como a agropecuária, indústria, construção e sobretudo na mobilidade elétrica.

A projeção é positiva, tendo em vista o fato de que a Noruega é o país com maior participação de carros elétricos em circulação. Mais da metade dos novos emplacamentos do último ano não foram de veículos movidos a combustível. O objetivo do país nórdico é ter 100% das ruas ocupadas por modelos elétricos até 2025.

A cada ano, a Statkraft publica um relatório sobre a evolução das energias renováveis e previsões para as próximas décadas. Na edição de 2020, a empresa estima que, em 2050, as energias renováveis constituirão mais de 80% do total de geração de energia global - e 66% disso virá de fontes da sol e dos ventos.

O CEO global da Statkraft, Christian Rynning Tonnesen, falou em exclusividade com a EXAME sobre as perspectivas da companhia, projeções para o mercado brasileiro e o papel das energias renováveis no combate às mudanças climáticas.

Como a Statkraft está posicionada neste cenário de incentivo a energias renováveis e na luta contra as mudanças climáticas, especialmente no Brasil?

A nossa visão corporativa é de incentivar apenas investimento em energias renováveis. Acreditamos que as mudanças climáticas terão um impacto ainda maior no mundo, e as consequências também serão mais perceptíveis. Um jeito importante de lutarmos contra isso é substituir nossas fontes por energias renováveis. Na Noruega, somos um grande produtor de óleo e gás, mas precisamos tomar partido nesta mudança global, por isso estamos mobilizando a indústria a ir em direções sustentáveis.

E de que maneira a Statkraft dissemina esse incentivo?

Isso começa na escolha de onde estamos. Escolhemos estar na Europa, com a maior parte dos ativos na Noruega, mas temos nos tornado cada vez mais europeus, com presença em diversos países do bloco e nos tornando o maior produtor de energia renovável do continente. Também olhamos para a América do Sul, principalmente o Brasil, Chile e Peru.

A escolha pelo Brasil está relacionada à matriz naturalmente composta por fontes renováveis?

No Brasil, temos a oportunidade de nos posicionar no mercado geral de renováveis, como país de energia hidráulica. Há uma combinação entre essa característica e o fato de que o mercado brasileiro é muito similar à Escandinávia. Tenho visto que muitos países escandinavos têm tido boas experiências no mercado brasileiro - isso também nos trouxe para cá e faz com que o Brasil seja o país mais importante fora da Europa onde operamos. Acreditamos que o Brasil pode assumir a liderança renovável tal como a Noruega.

Hoje, a liderança do mercado de renováveis no Brasil está na mão de empresas como CPFL e Engie. Parte dos esforços limpos delas está na energia solar e hidrelétrica, diferente da Statkraft, que recentemente investiu em um parque eólico e como disse, no Brasil, tem inclinação à energia hidráulica. Como estabelecer a liderança vista na Europa, também por aqui?

A nossa vantagem está na operação global. Somos uma empresa conhecida no universo empresarial do Brasil, e isso nos permite entregar contratos de energia para todos os tipos de empresas no Brasil. Estamos trabalhando para alavancar a energia hidrelétrica, solar e eólica. Hoje, a maior parte de nosso portfólio de construção está na energia eólica, mas temos a capacidade de mudar isso, à medida em que antecipamos grandes tendências de mercado.

No estudo, há a menção de que a energia solar será, de longe, a fonte com maior crescimento nos próximos anos. Ao mesmo tempo, a Statkraft investiu milhões de reais em parques eólicos. Qual é a perspectiva da empresa sobre esse essa e outras fontes promissoras e a destinação de recursos para cada uma delas?

Acreditamos que a energia solar será a maior fonte de eletricidade globalmente e, pelo menos, 15 anos a partir de agora. O Brasil é abençoado não apenas com sua capacidade hidráulica, mas com a força dos ventos, especialmente no Nordeste. A razão por estarmos expandindo no setor eólico é o fato de termos tido sucesso nesse modelo de negócio até o momento.

Há um complemento quando falamos não apenas de eletricidade. O Brasil tem um potencial imenso de produção oleaginosa. É o principal produtor de etanol do mundo. Estamos criando uma nova tecnologia que converte óleo e gás em diesel e gasolina. Por esse e outro motivos, acredito que o Brasil se tornará um potencial produtor de combustíveis líquidos renováveis em um futuro próximo. E, para combater as mudanças climáticas, não precisamos apenas de eletricidade, mas também de combustíveis limpos.

O ano de 2020 trouxe consigo uma pandemia que expandiu o setor de energias renováveis. Qual foi o proveito e também os desafios que a Statkraft tirou desse período?

Fomos afetados pela covid-19 assim como qualquer outra empresa. Por outro lado, conseguimos manter em operação todas as nossas plantas, incluindo no Brasil. Alguns dos nossos projetos na Índia e Chile foram atrasados, mas ainda assim tivemos benefícios. Estamos particularmente preocupados com a segurança e saúde mental dos nossos colaboradores - que em sua maioria estão trabalhando de casa - em todos os países onde estamos.

Em termos de demanda, tivemos uma queda de cerca de 10% no início da pandemia. Mas esse número voltou ao normal pouco tempo depois.

Com base no estudo, alguns setores como o de construção, indústria e transporte irão reduzir drasticamente suas emissões de carbono nas próximas décadas. Como a Statkraft está se preparando para essa nova realidade?

Gerando energia renovável entendemos que estamos contribuindo com esse cenário de zero emissões. Nossa produção hoje tem mais de 90% de fontes renováveis. A interação com outros participantes do mercado também é parte de nossa contribuição e, como um dos principais fornecedores de energia limpa, também podemos dar o suporte que outros desenvolvedores precisam para avançar.

Algumas conversas e parcerias com empresas desses segmentos já estão acontecendo?

R: Sim, com certeza, principalmente como uma empresa que vem do país com a maior participação de carros elétricos do mundo. Na Noruega, há ambição de que não haverá venda de carros movidos a combustíveis fósseis em 2025. E para a Statkraft, a propriedade de uma das principais redes de recarga de carros elétricos da Noruega é também um exemplo desse desejo de expansão. Estamos levando a rede para a Suécia, Alemanha e Grã-Bretanha e queremos isso em outras partes do mundo. A ambição é de que nos tornemos neutros até 2040.

Como os investimentos bilionários em projetos de energia podem acompanhar a curva de declínio da demanda por energia elétrica dos próximos anos?

R: O número de pessoas que usarão energia crescerá a todo tempo graças ao aumento populacional. Mas, quando mudamos para substituir os combustíveis por eletricidade, temos mais eficiência - o que derruba a demanda. Nossos investimentos, incluindo no Brasil, levam em consideração esse futuro. Vejo que o Brasil será o líder em energia limpa na América Latina e, em breve, será capaz de fazer pelo continente o que a Noruega faz pela Europa.
Maria Clara Dias
Fonte: Exame Invest
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