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Fórum de Articulistas

Perdas na Cana Acontecem em Momento Crítico de Necessidades de Produtos
Boletim Cana30: resumo de maio e os pontos selecionados para junho
Publicado em 17/05/2021 às 14h43
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Reflexões dos fatos e números da cana em maio e o que acompanhar em junho. A safra 2020/21 de cana-de-açúcar na região Centro-Sul está concluída, vamos ao seu balanço final: a moagem totalizou 605,46 milhões de toneladas, crescimento de 2,56%; a produção de etanol foi de 30,37 bilhões de litros, queda de 8,70% em relação ao ciclo passado; no açúcar, foram produzidas 38,46 milhões de toneladas, aumento de 43,73%. Com isso, o mix de produção ficou em 46,07% para açúcar e 53,93% para etanol. Já em relação ao ATR, a média fechou em 144,72 kg por tonelada de cana, um crescimento de 4,44%. Por fim, as vendas de etanol fecharam em 30,79 bilhões de litros, redução de 7,49% em relação ao ciclo anterior.

Outro dado relevante da safra recém-finalizada, divulgado pelo CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), aponta que a produtividade média das lavouras ficou em 77,9 toneladas de cana por hectare; crescimento de 2,3% na comparação com as 76,1 toneladas por hectare da safra 2019/20.

Na safra 2021/22 já em operação, dados divulgados pela Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) até a segunda quinzena de abril indicam que 45,26 milhões de toneladas de cana foram processadas, valor 25,44% inferior ao obtido no mesmo período da safra passada, o que aponta um ritmo mais lento no ciclo atual. Esse fator está relacionado, principalmente, ao número de usinas em operação, que está em 205 contra 217 da safra 2020/21. Em relação ao ATR, a média do primeiro mês de safra (abril) fechou em 116,69 kg/tonelada de cana (-1,65%).

A forte estiagem enfrentada no verão do ano passado somada à falta de umidade no mês de abril e maio prejudicou o desenvolvimento dos canaviais da região Centro-Sul, levando à revisão das projeções para o ciclo 2021/22. A Canaplan estimou a safra atual entre 540 e 553 milhões de toneladas, redução de 11,7% a 13,1% em comparação ao ciclo passado. Já a StoneX projeta uma quebra de colheita menor, na ordem de 5,8%, refletindo numa produção de 570,2 milhões de toneladas. Por sua vez, a Czarnikow espera uma moagem de 558 milhões de toneladas.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) divulgou as metas de comercialização de CBios (Créditos de Descarbonização) para 2021, que será de 24,86 milhões de títulos, mais 363 mil que não foram adquiridos no ano passado (total de 25,22 milhões). Desse montante, a BR Distribuidora deve comprar cerca de 26,3% (6,55 milhões de títulos), seguida da Ipiranga com 19% (4,71 milhões de títulos), e da Raízen com 17,3% do total (4,3 milhões de títulos).

Cerca de 50% de toda a meta de CBios já haviam sido comercializados pelas unidades produtoras de biocombustíveis até o início de abril, o equivalente a 12,1 milhões de créditos com operações concluídas na B3. Dessa forma, restam pouco mais de 11,8 milhões de CBios para o atingimento da meta. A oferta dos CBios neste ano deve superar a demanda das distribuidoras. Segundo a StoneX, haverá de 6,5 milhões a 7 milhões de créditos a mais que o necessário às distribuidoras, ou seja, um total de, aproximadamente, 31,5 milhões de títulos disponíveis para aquisição. Com a oferta excedente, os preços estão num valor médio de R$ 31,00/CBio contra R$ 43,00 do ano passado.

Com o desenvolvimento de projetos relacionados à sustentabilidade, a Tereos já alcançou R$ 1 bilhão em financiamentos "verdes", montante que representa 1/3 da dívida da companhia. A empresa vem trabalhando na melhoria de indicadores-chave, como redução de emissão de gás carbônico, consumo de água e aumento de cana certificada (pela Bonsucro), os quais são requisitos para a obtenção desse tipo de recurso financeiro.

No açúcar, segundo a Unica, a produção de açúcar na safra 2021/22, até a segunda quinzena de abril, totalizou 2,15 milhões de toneladas, uma queda de 28,51% em relação ao ciclo anterior. Importante lembrar que o número de unidades que já entraram em operação é menor que o registrado na safra 20/21. A produção do adoçante no ciclo 2021/22 deve totalizar, aproximadamente, 33,5 milhões de toneladas, 4 milhões a menos que em 2019/20, de acordo com a estimativa da Canaplan. Por sua vez, a StoneX projeta produção de 36,1 milhões de toneladas, enquanto que a Czarnikow espera um volume de 35,6 milhões de toneladas.

As exportações de açúcar do mês de abril totalizaram um volume de 1,9 milhão de toneladas, 25,7% superior àquela constatada no mesmo mês de 2020, segundo dados do Mapa. Por sua vez, as receitas com os embarques somaram US$ 615,6 milhões, valor 38,5% maior. No acumulado do ano, as exportações brasileiras do adoçante já somam 7,7 milhões de toneladas e US$ 2,5 bilhões. Indonésia, Bangladesh e Argélia têm se destacado como principais mercados compradores.

A derrubada das projeções da produção brasileira tem refletido no aumento dos preços internacionais da commodity. Em maio, os contratos de açúcar bruto em Nova York com vencimento para maio/21 foram negociados a US$ 18 cents/libra-peso, com variações diárias de até 4,5%. Vale lembrar que os preços dobraram nos últimos doze meses. Já no açúcar cristal, os papéis para agosto/21 foram comercializados a US$ 480,40/tonelada, com demais vencimentos apresentando crescimento semanal de até US$ 15,00.

O relatório mensal do Itaú BBA indica valores de negociação próximos de R$ 2.000 por tonelada do adoçante, sendo que cerca de 85% de todo o volume que foi produzido na safra 2021/22 já tiveram os preços travados na bolsa. Segundo a organização, estamos em período de oferta e demanda em equilíbrio para os próximos meses.

Já para o ciclo 2022/23, de acordo com a Archer Consulting, 12% das exportações brasileiras de açúcar, o equivalente a 3 milhões de toneladas, já estão com os preços fixados em um valor médio de R$1.696/tonelada FOB Santos.

No âmbito internacional, a produção do adoçante na Tailândia deve se recuperar no ciclo 2021/22, alcançando o volume de 10,6 milhões de toneladas, crescimento de 40% em relação ao período passado, segundo dados do USDA. Assim, o país asiático também deve aumentar a sua exportação na mesma proporção, embarcando volumes de 10,45 milhões de toneladas, reequilibrando a oferta global.

Enquanto isso, a produção chinesa de açúcar deve crescer modestas 100 mil toneladas em 2021/22, atingindo volume de 10,6 milhões de toneladas. O consumo do país asiático está estimado em 15,8 milhões de toneladas para o ciclo, voltando aos patamares pré-Covid, com importações de 5 milhões de toneladas.

No etanol, de acordo com dados da Unica, 2,07 bilhões de litros de etanol foram produzidos no mês de abril, uma redução de 20,13% em relação ao que havia sido divulgado no mesmo período da safra 2020/21. No etanol de milho, a produção fechou em 228,43 milhões de litros, crescimento de 15,16% na comparação com o período em 2020.

No mesmo período, as vendas de etanol totalizaram 2,15 bilhões de litros ( 18,41%), impulsionadas especialmente pela retomada do consumo doméstico do biocombustível. Segundo a Unica, 1,16 bilhão de litros foram comercializados na segunda quinzena de abril ( 18,41%).

O etanol produzido a partir do milho ganhou espaço nesta última safra, alcançando 2,57 bilhões de litros, um aumento de 58,13% em relação à anterior, conforme dados da Unica. A expectativa da Agroconsult é que sejam produzidos 3,2 bilhões de litros a partir do cereal no ciclo 2021/22.

Os preços do etanol também têm evidenciado altas substanciais durante o mês de abril. De acordo com os indicadores ESALQ Cepea, o valor do etanol hidratado teve incremento de 15,5% no mês, enquanto no anidro houve acréscimo de 19,3%.

Segundo a Canaplan, são esperados 24 bilhões de litros de etanol para o ciclo 2021/22, 3 bilhões a menos do que na temporada passada. Já a Czarnikow projeta um volume de etanol de 27,3 bilhões de litros, contra 30,4 bilhões de 2020/21.

E no âmbito das políticas públicas internacionais em relação aos biocombustíveis, o governo colombiano estabeleceu a obrigatoriedade da mistura de etanol à gasolina comum e extra em volume de 10%. A medida, que passa a valer a partir de setembro de 2021 para a maioria das regiões, tem como principal objetivo reduzir as emissões de GEE e melhorar a qualidade do ar nas cidades.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em junho na cadeia da cana:

1. A seca que assola os canaviais e o impacto na produção de cana, açúcar e etanol;

2. O consumo de etanol hidratado. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 3,69/l com impostos nas usinas, e o anidro a R$ 3,55/l. Algo inédito: preços subindo em plena entrada de safra;

3. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 67, ficando praticamente estável no mês. Observar seu comportamento agora em maio/junho para saber os preços da gasolina, mas com a recuperação da economia mundial, é provável que passemos esta safra acima dos USD 60/barril;

4. Os reflexos da redução da produção nos preços de açúcar. Ao fechar esta coluna, o açúcar estava em 17 cents/libra peso na tela de maio de 2021. O consumo mundial deve aumentar com o crescimento econômico mundial, e a oferta maior deve vir do Brasil mesmo;

5. As exportações de açúcar do Brasil, que estão muito fortes, e os preços para o mercado interno que vêm se mantendo.

Valor do ATR: O ATR começa a safra 2020/21 com o valor de R$ 1,014/kg. Tenho impressão de que, com estes preços dos produtos, será provavelmente o maior valor dos últimos anos.

Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
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