União Nacional da Bioenergia

Este site utiliza cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Ao continuar navegando
você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade

Opinião

Mercado de energia cambaleando - Por Arnaldo Luiz Corrêa
Publicado em 08/08/2022 às 08h35
Foto Notícia
A semana teve como destaque o colapso do mercado de energia. O barril do petróleo tipo Brent -- que serve de referência para a Petrobras -- caiu 9.4%, encerrando a sexta-feira a 94 dólares o barril. O tipo WTI também derreteu 11%, enquanto a gasolina RBOB encolheu 9%. Gás natural, diesel, café e trigo também experimentaram quedas entre 3 e 5%. O açúcar foi a honrosa exceção, encerrando a semana com o vencimento outubro/22 cotado a 17.95 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 41 pontos em relação ao fechamento da semana passada, ou pouco mais de 9 dólares por tonelada.

Com a queda do mercado de energia, a Petrobras tem espaço para a redução do preço da gasolina na refinaria, o que deve afetar o preço do hidratado e sua arbitragem com o açúcar. O curto prazo deve trazer mais pressão às commodities com a queda no consumo global, temor de inflação descontrolada e aumento na taxa de juros.

No Brasil, a situação não é diferente com o Banco Central aumentando a taxa básica de juros da economia para 13.75%. A curva de NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira), impactada pelo aumento do spread (juros internos menos juros externos) eleva a curva de reais propiciando mais receita para as fixações do açúcar de exportação de longo prazo. A média da safra 23/24 subiu 30 reais por tonelada esta semana. O dólar encerrou a semana cotado a R$ 5,1656.

Da recente e preocupante mínima de contratos em aberto na bolsa de NY, comentada aqui há duas semanas, que marcou 697,000 contratos em 21 de julho passado, vimos uma recuperação de mais de 60,000 contratos. Essa retomada de volume pode ser uma indicação de que mais hedges foram feitos cobrindo os volumes remanescentes da safra 22/23 que aguardavam um número mais conclusivo acerca da produção das usinas para poderem oferecer mais produtos (açúcar) ainda nesta safra e, também, fixações de preço para a 23/24, aceleração no hedge provocado por temor de um enfraquecimento do binômio petróleo e dólar.

Também vale observar que os fundos não-indexados aumentaram suas vendas a descoberto em 24,500 lotes totalizando sua posição, com base nos números do COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, publicado com base na posição da última terça-feira, em 65,600 lotes.

Aí reside toda a instabilidade, volatilidade, dicotomia e neurastenia dos fundos. Ou seja, qualquer fagulha fundamentalista que por algum motivo eleve os preços do açúcar em NY, pode mostrar a vulnerabilidade dos fundos. Explico: boa parte da posição vendida foi construída próxima dos valores mínimos negociados pelo mercado (17.20 centavos de dólar por libra-peso na segunda-feira), o mais baixo desde julho de 2021.

O preço médio dos fechamentos diários de NY no mês de julho, convertido e corrigido pela inflação, foi de R$ 2,273 por tonelada FOB, ligeiramente melhor que os R$ 2,200 por tonelada observados no mês de junho.

As usinas estão preocupadas com a insegurança jurídica acerca dos CBios (Crédito de Descarbonização), devido à discussão de uma eventual desobrigação de metas para as distribuidoras da redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. Vamos aguardar e esperar que esse instrumento não seja eliminado.

Nossa análise acerca da safra 23/24 do Centro-Sul continua construtiva. Acreditamos que o custo de produção de açúcar para o ano que vem deverá sofrer uma queda em função de que muitos dos insumos estarão mais oferecidos e partiram de uma base de preços mais altas seguindo a escassez e/ou problemas logísticos que impediram a disponibilidade imediata desses produtos. As chances de que o conflito entre Rússia e Ucrânia chegue próximo de uma solução é o principal fator que justifica nossa visão de queda do custo de produção.

A mudança gradual da matriz energética da Europa vai abrir inexoravelmente uma janela para a utilização de combustíveis renováveis, que pode demandar não apenas o etanol de cana, mas o de milho igualmente. Uma "contaminação" de eventual demanda mundial pode atrair o etanol brasileiro (cana e milho) se o preço for mais competitivo. Num cenário de estresse, sem interferência governamental, a exportação de etanol pelo Brasil (lembrando que já chegamos a exportar 5.4 bilhões de litros) pode estreitar a arbitragem de açúcar com etanol fazendo com que a produção de cana (sem grandes expansões de área no horizonte) seja bastante disputada entre um e outro produto. Ainda tem muito tempo, mas não consigo tirar essa possibilidade do radar.

O contraponto é um mercado de energia mais fraco, o dólar se desvalorizando frente às moedas dos países emergentes e o mercado de commodities ficar francamente vendedor. Além disso, o forte crescimento no número de empregos nos EUA pode dar munição para o FED (Banco Central americano) aumentar ainda mais os juros por lá. E aí então, as commodities.
Fonte: Arnaldo Luiz Corrêa - Archer Consulting
Fique informado em tempo real! Clique AQUI e entre no canal do Telegram da Agência UDOP de Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não representando,
necessariamente, a opinião e os valores defendidos pela UDOP.
Mais Lidas