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Minerais críticos e hidrogênio do Brasil estão na lista de importações estratégicas da Itália
Publicado em 23/01/2024 às 15h32
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Michal Ron, diretora de Negócios Internacionais da Sace (Foto: Douglas Schinatto)
A agência de fomento ao comércio exterior do Ministério da Economia e Finanças da Itália (Sace) avalia apoiar a compra de minerais críticos e hidrogênio do Brasil, conta a diretora de Negócios Internacionais, Michal Ron.

Os bens integram a lista do programa de “garantia estratégica de importação” da agência, que cobre parte dos empréstimos a fornecedores estrangeiros de matérias-primas e produtos estratégicos para a segurança energética e industrial da Itália.

“Estamos analisando as importações do Brasil para a Itália (…) E isso é muito relevante para as empresas brasileiras, porque estamos olhando para matérias-primas críticas como terras raras, nióbio, lítio”, disse a executiva da Sace em entrevista à agência epbr.

“São matérias-primas que vêm do Brasil, do Chile, e outros países vizinhos, onde garantiremos esta importação para a Itália”.

A ideia do programa é garantir aos exportadores brasileiros desses materiais estratégicos contratos de compras futuros com clientes na Itália.

Em 2021, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) obteve junto à Sace US$ 375 milhões para financiar embarques de minério de ferro da CSN Mineração, com o objetivo de promover negócios com empresas do país europeu.

De acordo com Ron, hoje, a prioridade é o GNL, devido à necessidade emergencial de substituir o gás da Rússia, segundo maior fornecedor do energético da Itália.“Temos perto de 1 bilhão de euros em importações estratégicas. Em grande medida, não tudo, mas principalmente fontes de substituição para o gás russo. Portanto, temos muito GNL sendo importado com essa garantia”, destaca.

O Brasil não é um exportador de gás natural e também compra cargas de GNL para complementar o atendimento ao mercado doméstico. Contudo, no longo prazo, a executiva não descarta a possibilidade de uma parceria comercial no mercado de hidrogênio.

“Penso que o nosso país manifestou abertamente o seu interesse e a Sace está prontamente disponível para realizar este tipo de garantia”.

Estratégia italiana

A estratégia italiana para o hidrogênio prevê, até 2030, atingir uma participação de 2% do combustível de baixo carbono no consumo final de energia, incluindo aplicações em transporte de mercadorias de longa distância, indústria pesada, refinarias e mistura na rede de gás. Até 2050, a meta passa para 20%.

Para suprir essa demanda, está prevista a instalação de 5 GW de capacidade doméstica de eletrólise até o fim da década. O plano também considera que parte do hidrogênio verde poderia ser integrado com o importações, como de hidrogênio com baixo teor de carbono, a exemplo do hidrogênio azul.O país também poderia funcionar como um hub de distribuição de hidrogênio para outros países da Europa, uma vez que já possui conexões de gasodutos com países do Norte da África – potenciais candidatos a grandes produtores de hidrogênio verde.

“Em termos de fornecimento de fontes de energia, poderia ser gás e outras formas do Brasil. Mas devo dizer que o hidrogênio está na nossa lista de importações estratégicas, por isso, não há absolutamente nada que nos impeça de fazer exatamente isso. E trabalharemos nessa frente também”, explica Michal Ron.

€ 1,1 bilhão para transição verde no Brasil

O país também vê no Brasil grandes oportunidades para vender tecnologia italiana. Recentemente, a Sace anunciou um investimento de € 1,1 bilhão em crédito para impulsionar a transição verde no Brasil, com a iniciativa Green Push.

O programa é um braço sustentável da Push Strategy, que já garantiu mais de € 7 bilhões em apoio a projetos envolvendo fornecedores italianos, parte deles no Brasil. A produtora de bioenergia Raízen, por exemplo, obteve um empréstimo verde de 300 milhões de euros com a garantia da Sace.“Estamos convencidos de que o Brasil é um dos melhores candidatos para o Green Push. Vemos isso pelas pessoas com quem falamos, pelos bancos que atuam localmente no Brasil”, explica Ron.

Um dos motivos para o lançamento do programa aqui foi o posicionamento do governo Lula (PT) em relação aos investimentos monitorados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Boa parte do portfólio de projetos está relacionado à transição ecológica e contempla tanto investimentos privados como de estatais – majoritariamente da Petrobras.

Entre os R$ 1,7 trilhão em projetos sob o PAC, R$ 41,5 bilhões são estimados para energia solar e R$ 22 bilhões para eólica. No setor de combustíveis, são R$ 26,1 bilhões para rotas de baixo carbono, além de R$ 8,9 bilhões para tecnologias de descarbonização do setor de óleo e gás.

Já as ferrovias e hidrovias, meios de transporte mais sustentáveis, ficaram com R$ 94,2 bilhões e R$ 4,1 bilhões, respectivamente.

Cobrimos por aqui:“Estamos olhando para biocombustíveis. Estamos buscando baterias para carros híbridos e elétricos. E tudo isso somado ao agronegócio com novas metodologias sustentáveis”, conta a diretora da Sace.

De acordo com dados levantados pela agência, as exportações italianas para o Brasil, depois de atingirem um recorde de 5,1 bilhões de euros em 2022, devem alcançar um desempenho positivo em 2023 e em 2024, com as previsões de crescimento de 7,2% e 4,5%, respectivamente.

Transição do óleo e gás

Outro desafio da Itália é reduzir sua dependência dos combustíveis fósseis, que representam cerca de 80% do fornecimento total de energia primária, sendo gás natural e petróleo as principais fontes, 43% e 32% respectivamente.

“A Itália tem estado tradicionalmente muito exposta ao setor do petróleo e do gás. Então, para nós, é uma transição. É um processo gradual que estamos tentando acelerar, mas tudo isso anda de mãos dadas com novos produtos e com os planos de investimento específicos”.

A Sace decidiu manter seus investimentos em projetos de petróleo e gás no exterior até 2028. A política apoiará a exploração e produção de gás até 2026, a distribuição de petróleo até 2028 e o transporte de petróleo e refino até 2024.

No Brasil, a agência ainda considera o financiamento de navios offshore de processamento de petróleo e gás. Contudo, a executiva afirma que a Sace vem ajudando as companhias de óleo e gás a realizarem projetos que garantam a transição para atividades mais verdes.

“Estamos a reduzir de uma forma muito importante o nosso apoio aos projetos tradicionais de petróleo e gás, mas estamos também a incentivar o nosso apoio e, acima de tudo, os nossos exportadores a realizarem cada vez mais iniciativas ecológicas”.

Ela cita como exemplo, a possibilidade de apoio a projetos de transição da Petrobras, com participação de companhias italianas.

“Mesmo empresas como a Petrobras, por exemplo, seriam boas candidatas ao Green Push com o plano de transição”, comenta.

A Petrobras planeja investir US$ 11,5 bilhões em projetos de baixo carbono. O Plano estratégico da estatal para 2024-2028 prevê investimentos em eólica, solar, hidrogênio e captura, uso e armazenamento de carbono.

“Não é só no setor privado, por isso mencionei a Petrobras, mas também com o setor público. Achamos que vamos realmente avançar como parceiros dos principais players industriais do Brasil, porque o encaixe é muito bom. Não há elemento de competição. É muito complementar”, finaliza.
Gabriel Chiappini
Fonte: Agência epbr
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