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Ampliando o portfólio de produtos da cadeia bioenergética: rumo a um futuro sustentável, por Hugo Cagno Filho
Hoje muito se fala do uso do etanol para outras frentes, como fonte do hidrogênio para mover os carros, como combustível de aviação e de navegação. Todas estas operações abriram um mercado maior que nossa atual capacidade de produção
Publicado em 22/03/2024 às 08h34
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Prontos para iniciarmos um novo ciclo de colheita e produção para a safra 2024/25 vivemos, uma vez mais, o dilema da sazonalidade, alternando anos bons, com safras excelentes, como fora 2023/24, a anos desafiadores, como o que estamos prestes a adentrar.
 
Na maioria das vezes essa sazonalidade leva em conta fatores climáticos que alternam-se ano a ano e cuja previsibilidade está cada vez mais difícil de se acertar. Daí que, normalmente, torcemos para que São Pedro e Deus, brasileiro como é, possa intervir a nosso favor.
 
Anos excepcionais nos trazem recursos para reformas de canaviais, tratos culturais mais adequados, ampliação de áreas, busca por novas tecnologias e financiamento de pesquisas para ampliação de nosso portfólio e por aí vai.
 
Entretanto, períodos de vacas magras exigem otimização de gastos, com redução, especialmente, em renovações de canaviais, práticas culturais e, consequentemente, nas expectativas para as próximas safras. Um ciclo constante de altos e baixos se estabelece.
 
Uma estratégia usada por outros elos do mercado é o de se agregar valor ao produto final, estratégia fundamental para empresas que desejam se destacar no mercado, atender às expectativas dos consumidores e melhorar sua rentabilidade. Envolve, assim, uma abordagem holística que considera diversos aspectos da produção, qualidade e relação com o consumidor.
 
Entendemos por agregar valor o processo de transformar um recurso ou insumo inicial em um produto final mais valioso, seja através de melhorias na qualidade, na utilidade, ou na percepção do consumidor. O conceito é aplicado em diversas indústrias e setores, incluindo agrícola, manufatureiro e de serviços.
 
Em mais de 500 anos de história nossa indústria que começou açucareira, desde o Brasil-Colônia, se reinventou e agregou valor. Passamos para sucroalcooleira, quando introduzimos a produção de álcool em nossas usinas; bioenergética: quando nos utilizamos do bagaço e depois da palha da cana para a produção de energia pela biomassa; a produção de etanol de 2ª geração, de resíduos até então desprezados ou mal utilizados; biogás através de biodigestores; plástico verde; e por aí vai.
 
Essa agregação de valor envolve inúmeras frentes, desde a melhoria da qualidade; investimentos em inovação tecnológica; diversificação de produtos; sustentabilidade ambiental; personalização e customização; eficiência na produção; certificações e qualificações; sustentabilidade; dentre outras.
 
É imperativo que nosso setor se reinvente constantemente, focando em novas abordagens para garantir segurança contra as incertezas climáticas e ambientais. Somos experts no processo de transformação de energia, e o foco em novas frentes nos trará a segurança necessária para um ciclo virtuoso.
 
Por vezes venho defendendo que devemos quebrar o estigma das 600 milhões de toneladas de cana por safra. Parece incrível como sempre estamos em volta desse número. Quando o ultrapassamos, como o ocorrido na safra 2023/24, no ano seguinte retornamos para algumas casas decimais abaixo desse teto. Romper esse ciclo requer agregarmos valor à nossa cadeia e furarmos essa bolha com investimentos sólidos e permanentes.
 
Hoje muito se fala do uso do etanol para outras frentes, que não, apenas, carburante. Podemos agregar valor como fonte do hidrogênio necessário para mover os carros elétricos do futuro (e porque não dizer do presente), ou mesmo para usos mais nobres, como no SAF (combustível de aviação) e até mesmo na navegação, operações que abririam um mercado infinitamente maior, inclusive, que nossa atual capacidade de produção.
 
Acreditar que essa ampliação do portifólio da cadeia cana possa ser o futuro de nosso setor é de crucial importância, mas, isso requer, uma visão de longo alcance com os pés fincados no presente e na sobrevivência de nossas usinas.
 
Analisando a história da captura de imagens, por exemplo, percebemos que a evolução partiu de mecanismos primitivos até alcançar câmeras de alta qualidade nos smartphones de hoje. Da mesma forma, antecipar-se ao futuro é essencial para o sucesso. Precisamos visualizar como podemos agregar ainda mais valor à nossa cadeia e expandir nosso portfólio, adaptando-nos às crescentes demandas mundiais e buscando a excelência em nossas práticas.
 
Se formos pensar no futuro apenas quando ele chegar, estamos fadados ao fracasso. Precisamos nos antever, imaginarmos quais as possibilidades de agregarmos ainda mais valor a nossa cadeia e ampliarmos nosso portfólio, mantendo em nossas prateleiras, uma gama de produtos e subprodutos que possam atender às crescentes demandas mundiais e nos tornarmos excelentes no que fazemos.
 
Quiçá, assim, conseguiremos finalmente romper o ciclo constante de sazonalidade, ampliando nossos horizontes em direção a um futuro mais sustentável e humano.

* Publicado originalmente na Revista Opiniões, edição fev-abr 2024, veja no original aqui.
Autor: Hugo Cagno Filho
Presidente da UDOP
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