Diversas

A startup umgrauemeio, que desenvolveu um algoritmo capaz de identificar focos de incêndio em três segundos, captou R$ 18,7 milhões em uma rodada de investimento. Depois de anos operando com capital próprio, a empresa levantou recursos para expandir comercialmente e alcançar novos públicos.

O ditado diz que onde há fumaça, há fogo. No entanto, incêndios florestais muitas vezes só são percebidos quando já tomaram proporções desastrosas. Rogério Cavalcante, diretor executivo da startup, ouviu pela primeira vez relato sobre esse problema em 2016, em uma conversa despretensiosa durante um voo.

Um desconhecido uma vez a ele contou que uma usina de cana-de-açúcar estava prestes a fechar em decorrência de prejuízos causados por incêndios. A única estratégia da empresa era posicionar funcionários em torres, na esperança de que eles avistassem o fogo logo no começo, o que nem sempre era possível.

Depois de pesquisar sobre o tema, Cavalcante fundou a Sintecsys — que viria a se tornar a umgrauemeio em 2019 — e criou uma tecnologia capaz de reconhecer padrões de incêndio em estágio inicial. “Todo incêndio quando começa pode ser apagado com um único pé. Quanto mais cedo começar o combate, menor será o esforço”, afirma o diretor executivo, ao Valor.

Hoje, a startup monitora mais de 17,5 milhões de hectares no Brasil, sendo 2,2 milhões de florestas, 7,8 milhões de áreas nativas e 7,5 milhões de lavouras, utilizando mais de 130 torres de monitoramento.

No ano passado, a startup lançou o projeto “Abrace o Pantanal”, custeado pela JBS, para monitorar 2,5 milhões de hectares desse importante bioma. Segundo a umgrauemeio, houve uma redução de 60% na perda de mata nativa na área do projeto em relação a 2020, ano em que incêndios devastaram o Pantanal.

A umgrauemeio é considerada uma climatech, startup que desenvolve tecnologias que ajudam na luta contra as mudanças climáticas. A mudança de nome marcou o reposicionamento da empresa nessa frente, fazendo alusão ao limite de 1,5ºC que a temperatura do planeta pode subir sem comprometer a vida na Terra.

Segundo Cavalcante, o combate aos incêndios florestais são o meio mais eficiente e econômico de reduzir o aquecimento global. “Diferentes atividades falam em descarbonização e emissões zero, mas não se muda uma matriz energética do dia para a noite. No caso do incêndio, você cessa a emissão no dia seguinte”, afirma.

Números do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) indicam que 20% das emissões mundiais são oriundos de incêndios em florestas. No Brasil, dados preliminares da plataforma MapBiomas mostram que mais de 9 milhões de hectares queimaram no país no ano passado. Desse total, 84% ficavam em zonas de mata nativa.

Agora, com a solução testada com grandes parceiros, a startup quer chegar também aos pequenos e médios produtores rurais. Além disso, adaptou o algoritmo para identificar áreas desmatadas e monitorar a biodiversidade — e está só esperando um convite do governo federal para ajudar no combate ao desmatamento da Amazônia.

Com o recurso novo captado, Cavalcante vai focar no fortalecimento da área comercial e dos indicadores econômicos do negócio. Também pretende expandir a atuação da startup no Brasil e começar a dar os primeiros passos para a internacionalização. Em 2023, o faturamento da climatech foi de R$ 19,2 milhões, e a expectativa é chegar a R$ 23,9 milhões neste ano.

A gestora Baraúna Investimentos liderou a rodada da umgrauemeio com um cheque de R$ 9 milhões, seguida pela Indicator Capital, que aportou R$ 7 milhões. A The Yield Lab Latam e a Rural Ventures também participaram da rodada, mas o valor de seus aportes não foi informado.