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Etanol

"O etanol substituirá os derivados de petróleo dentro de 15 anos" - Evandro Gussi
Publicado em 18/07/2024 às 12h01
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Veja abaixo a entrevista de Evandro gussi, presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar e Bioenergia (Unica), para a ISTOÉ.

O setor sucroalcooleiro quer transformar as graves mudanças climáticas, que estão levando o planeta a um cenário desolador, em uma oportunidade de oferecer soluções para um dos problemas que mais impactam o meio ambiente: aumentar cada vez mais a produção de energia limpa, obtida com o etanol, para substituir as emissões provocadas pelos motores movidos a derivados de petróleo. Em entrevista à ISTOÉ, Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar e Bioenergia (Unica), diz que as destilarias brasileiras têm condições de dobrar a produção de etanol extraído da cana e do milho e, dentro de 15 ou 20 anos, poderem abastecer a frota nacional de automóveis, estimada em 115 milhões de veículos.

“Nossas usinas terão potencial para substituir totalmente os combustíveis fósseis e obter a descarbonização da indústria automobilística”, garante o empresário, dono de destilaria no interior de São Paulo. Ex-deputado federal de 2015 a 2019, Gussi garante que não fosse o etanol, o Brasil estaria entre os maiores poluidores do mundo, ao lado da China e dos EUA. “Em 20 anos, evitamos a emissão de 660 milhões de toneladas de CO? na atmosfera apenas com a utilização do etanol”. Nesse período, o consumidor brasileiro também economizou mais de R$ 110 bilhões na troca da gasolina pelo etanol.

A frota brasileira de veículos pode ser toda movida a etanol, que polui menos?

Em 2023, o Brasil produziu 31,2 bilhões de litros de etanol só da cana e mais 4,3 bilhões de litros extraídos do milho. Hoje, mais de 80% da frota de automóveis são de modelos Flex. O etanol já representa entre 40% e 50% do consumo anual do que chamamos de motores de ciclo Otto.

Como o Brasil possui 115 milhões de veículos, quanto as destilarias teriam que produzir para dar conta do consumo da frota?

Precisaríamos dobrar a produção de etanol para atingir o abastecimento de 100%.

Seria necessário um novo Proálcool?

Não. Hoje é bem mais simples. Primeiro porque temos uma demanda pela redução de emissões de poluentes que não era tema lá atrás e que hoje é muito forte. O etanol traz uma redução de até 90% das emissões quando com- paramos com a gasolina. Segundo, o etanol tem se mostrado uma maneira mais eficaz de o consumidor economizar. Os dados da Unica mostram que de 2003 até agora, por essa oportunidade de poder escolher entre gasolina e etanol, o consumidor brasileiro economizou mais de R$ 110 bilhões.

Houve vantagem também para o meio ambiente?

Em 20 anos, evitamos a emissão de 660 milhões de tone- ladas de CO? na atmosfera com a utilização de etanol. Com isso, se o consumo fosse só de gasolina, precisaríamos plantar mais de 4 bilhões de árvores e esperar que elas cresçam para termos o mesmo carbono capturado do que deixamos de emitir.

Dá para comparar essa redução de poluição com os grandes poluidores globais, como China e EUA?

O Brasil representa 2% ou 3% das emissões globais. Poderíamos estar numa situação muito pior sem o etanol. Estaríamos no grupo de maiores poluidores, já que 20% da energia do Brasil vem do setor sucroalcooleiro, que tem uma matriz energética muito limpa.

E o setor também produz energia elétrica, não é?

Produzimos energia elétrica e biogás com o bagaço de cana. Como a utilização de biogás é para a produção de energia elétrica, isso está dentro dos 20% de energia limpa que produzimos. E ela tem algumas características interessantes. Primeiro, é 100% renovável. Segundo, está próxima dos centros de consumo. O grande consumo de energia elétrica está no centro-sul e é exatamente onde estão as destilarias brasileiras. Então, ela não demanda linhas de transmissão de 1.500 ou 2.000 quilômetros como observamos em outros modelos. É por essa razão que de 50% a 60% da produção de cana-de-açúcar está aqui no estado de São Paulo, que possui o maior mercado consumidor. E com menos impactos ambientais gerados e menos investimentos na infraestrutura de distribuição de energia.

O Brasil será autossuficiente em etanol para substituir os derivados de petróleo?

Isso é possível. O setor tem uma tradição de responder muito bem às demandas de incremento de oferta. Quando olha- mos para o Proálcool, o setor quase dobrou em menos de 10 anos na década de 70. Depois, surgiu o veículo Flex e o setor dobrou em menos de 10 anos. Como responder a esta nova demanda? O mundo vai ter que reduzir suas emissões e o etanol tem uma participação fundamental nisso. Temos variedade de cana-de-açúcar que já entrega cerca de 40% a mais de produtividade na mesma área plantada. Deve ser lançada no próximo ano, mediante um novo sistema de plantio da cana.

A tecnologia será importante nesse processo?

Um ponto importante será a mudança no sistema de plantio. Porque hoje cortamos um pedaço da cana para fazer uma muda, que depois é plantada no campo. Cerca de 92% do canavial será para moer e os 8% restantes vão virar mudas para a safra do ano seguinte. Fora isso, o Centro de Tecnologia Canavieira está desenvolvendo uma nova semente de cana. Tecnicamente, é um embrião para germinar. Essa variedade, nesse sistema de plantio, duplicará a produtividade por hectare. Hoje, a média é de 70 toneladas de cana por hectare, mas a meta do Renova Bio é que a gente chegue a 50 bilhões de litros de etanol por ano em 2032.

Temos a meta de que até 2030 substituiremos totalmente os combustíveis fósseis como alguns países europeus?

Não dá para dizer isso. A Europa pretende banir motores a combustão até 2030, mas não oferece alternativas para isso. A Noruega, por exemplo, tem 4 milhões de habitantes e pode pensar em substituir totalmente os fósseis em sua frota de veículos. Eles têm também uma das maiores reservas petrolíferas do mundo, têm um fundo soberano de cerca de 13 trilhões de coroas norueguesas, então, dá para bancar esse tipo de meta. Como perspectiva, e tendo os estímulos adequados, o setor sucroalcooleiro terá potencial para substituir totalmente os combustíveis fósseis dentro de 15 ou 20 anos. O setor tem plena capacidade de oferta não só para abastecer o Brasil, mas para atender outras partes do mundo onde o etanol é uma solução viável.

Quais seriam os estímulos desejados pelo setor?

Somando os híbridos e os Flex temos um panorama bom dentro da indústria automobilística, que anunciou investimentos de R$ 110 bilhões. Todas as grandes montadoras hoje têm metas de descarbonização e elas querem chegar a ser neutras em carbono até 2050. O que estão observando é que o Brasil oferece uma opção de produzir o carro com baixa emissão de carbono, porque a nossa energia é de baixo carbono e utiliza o carro sobretudo por conta do etanol. E no caso dos veículos pesados temos a possibilidade do biometano, que vem da vinhaça e do bagaço da cana. Hoje as usinas não tem mais resíduos que antes poluíam os rios.

Como o Sr. vê o papel do automóvel dentro da crise provocada pelas mudanças climáticas?

O tema ganha ainda mais importância ano a ano. Passamos por uma pandemia onde as pessoas acharam que as mudanças climáticas não eram tão importantes, mas só que não, pelo contrário. O mundo está cada vez mais dizendo que precisamos reduzir as emissões. O primeiro-ministro alemão Olaf Scholz disse há dois meses que, diferente de 15 anos atrás, em que a gente apostava nas tecnologias disruptivas, o nosso momento agora é pegar as coisas que estão prontas e que estão aqui na prateleira, porque eu tenho uma demanda pela descarbonização. Hoje, temos necessidade do que já está pronto. É o caso da bioenergia, do etanol e do biometano. Não é necessário testar. Antigamente, pensávamos só no preço do combustível, comparando a gasolina com o etanol. Agora, a comparação é com o que provoca uma menor emis- são e o etanol tem emissão reduzida.

Há risco de que o crescimento desordenado da cana possa substituir lavouras de alimentos?

Toda essa cana que produzimos ocupa 1% do território nacional. O nosso crescimento de produtividade vai ser verticalizado. O Brasil ainda tem entre 40 e 60 milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser revertidas para o plantio de cana, sem ocupar a área plantada de alimentos. Ao contrário do que se fala no exterior, mais de 90% da cana-de-açúcar não derrubou floresta alguma. Temos o Código Florestal e o Renova Bio, que é a política nacional de biocombustíveis, e ela prevê o desmatamento zero.

O setor investe pesado em tecnologia, em tratores, computadores, drones e muito mais, muito diferente do que era há 40 ou 50 anos. Como o senhor avalia a evolução tecnológica do segmento?

O setor passou por uma grande revolução tecnológica, que ainda está em andamento. A colheita mecanizada é uma revolução, não se queima mais a palha da cana, não tem mais o corte manual, em que os bóias-frias se feriam com gravidade. Isso trouxe uma série de vantagens em termos de logística, em termos de qualificação da mão de obra. A Unica ajudou inclusive no programa, renovação e qualificação de mais de 400 mil cortadores de cana que passaram por programas de aprimoramento profissional e hoje são operadores de máquinas e eletricistas.

Como a alta taxa de juros impacta o setor?

Nos atinge da mesma forma que no restante da economia. Obviamente que dinheiro mais barato fomenta o investimento. Juros mais baixos contribuem para a dinâmica da atividade econômica.

Como o Sr. avaliou o bate-boca entre o presidente Lula e Roberto Campos Neto, presidente do BC?

Esses temas precisam ser analisados com uma base técnica profunda para embasar a decisão política. A economia tem suas regras, que precisam ser respeitadas. O diálogo é sempre a melhor a solução para problemas complexos. Bate-boca não resolve nada neste momento e parece que todos chegaram a essa conclusão.

Como vê a necessidade de corte de gastos para resolver a questão fiscal?

Na casa da gente, na empresa da gente, e no país da gente, sempre temos que pensar no controle de gastos antes de pensar no aumento da receita. Essa é uma lei que eu não tive que aprender na universidade. Aprendi com meu avô. Ele dizia que o acelerador do gasto tem de ir mais devagar que o acelerador do ganho.

Galípolo seria um bom nome para o BC? Lula disse que ele é um “menino de ouro”.

Sempre vou pelo caminho da legitimidade. A pessoa que tem legitimidade para fazer indicação do presidente do BC é o presidente da República, com o suporte do Senado. A decisão tem que ser respeitada. Galípolo é um economista reconheci- do, com sólida formação e experiência no mercado, com atributos para eventualmente assumir o cargo dentro das rígidas e elogiáveis regras de governança da instituição.
Germano Oliveira
Fonte: IstoÉ
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