União Nacional da Bioenergia

Este site utiliza cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Ao continuar navegando
você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade

"O País pode ganhar dinheiro com a economia verde", diz ex-ministro do Meio Ambiente
Joaquim Leite diz que o Brasil ‘não é só floresta’ e que deve mostrar suas soluções climáticas na COP-30
Publicado em 27/02/2025 às 10h21
Foto Notícia
O Brasil é uma potência verde que precisa ser mostrada para além das nossas florestas, afirma o ex-ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite, que ocupou o cargo entre 2021 e 2022 e é especialista em crédito de carbono, tendo trabalhado 13 anos no setor.

O banco UBS percebeu isso e comprou, semana passada, uma participação minoritária na YvY, gestora focada na transição energética, fundada por Leite, Paulo Guedes, Rodrigo Xavier (ex-UBS Brasil) e Gustavo Montezano (ex-BNDES), entre outros.

O ex-ministro afirma que o setor privado está muito mais atento à questão ambiental. “O mundo está mais consciente, o consumidor está mais consciente, o investidor está mais consciente.”

Também ao lado de Guedes, Leite ajudou a criar a Vivens Business School, uma nova escola de negócios “verde”. O propósito é ensinar a empresários e executivos que trabalhar de maneira sustentável, com conceitos verdes, pode, sim, resultar em lucro. Vale lembrar aqui que o ex-ministro da Economia percebeu, décadas atrás, que faltava aos executivos brasileiros formação em Finanças. E, assim, criou o Ibmec. A seguir, trechos da entrevista ao Estadão.

Como surgiu a Vivens Business School?

A Vivens é uma escola focada em negócios para economia verde, que pretende treinar executivos a se adaptarem à nova realidade da economia verde e lucrarem com isso. Trabalhar de maneira sustentável dá lucro, sim. Tudo nasceu dois anos atrás, no Rio de Janeiro. Levei ao (ex-)ministro Paulo Guedes a ideia de a gente escrever um livro com uma visão ambiental positiva, mensurar a eficiência ambiental das empresas e valorizar os produtos e serviços. Não é aquela visão clássica, que é do ‘eu não posso usar o canudo de plástico’, ‘eu não posso andar de avião’, ‘eu não posso andar de carro’, ‘eu não posso andar de caminhão’. Ele, então, propôs a criação de um MBA de Economia Verde. Foi daí que veio a ideia de criar a escola.

O Brasil sediou a Rio 92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Desde então, como o setor privado se engajou no tema sustentabilidade?
Em 1992, esse tema estava muito distante do setor privado, que não via a possibilidade de trabalhar com as questões ambientais. Acho que isso mudou a partir de 2021, na COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Glasgow, na Escócia), quando o consumidor e o investidor fizeram esse movimento acontecer. Foi uma convergência de interesses. Houve a percepção de que o tema ambiental é um atributo que faz diferença na venda do meu produto, na captação de recursos de investidores.

O mundo está mais consciente?

O mundo está mais consciente, o consumidor está mais consciente, o investidor está mais consciente. Acho que agora o desafio é transformar os compromissos feitos em 2021 em conhecimento para as empresas, atuar de forma inteligente, buscando soluções climáticas lucrativas. O setor privado só vai dar escala à economia verde se isso for lucrativo.

O Brasil tem tudo para liderar essa transição verde. O que pode dar errado?

Acho que o Brasil tem de se colocar como uma grande nação verde por características naturais e econômicas. Essas características naturais nos transformam em uma grande economia verde. O desafio do Brasil é não apresentar uma conferência do clima (COP-30, em novembro) que se limita apenas ao tema da floresta. Somos muito mais do que isso. Somos um exemplo de sustentabilidade para o mundo inteiro.

Nossas florestas não são importantes?

São, mas o Brasil é muito mais do que isso. É um país muito diverso. Pergunto: como é que a gente não mostra para o mundo esse Brasil dos produtos verdes e da energia verde? Esse é o desafio. O Brasil tem de começar a ter orgulho do que é, e mostrar para o mundo que não é simplesmente uma colônia ambiental, onde a gente vai discutir só floresta. Quero discutir o hidrogênio verde, quero discutir os veículos híbridos, quero discutir a produção sustentável da agricultura. O Brasil é uma nação com uma oportunidade de ganhar dinheiro na economia verde.

Qual é a demanda nesse sentido?

A primeira empresa em que nós investimos aqui na YvY Capital foi uma chamada Solinftec. É uma companhia de tecnologia no agro. Ela tem robôs autônomos e uma inteligência artificial que monitora os equipamentos e tratores. Essa é uma das teses da gestora: inovação, tecnologias no agro e infraestrutura.

As decisões de Trump em relação ao meio ambiente não foram muito entusiasmantes. Como é que fica o Brasil nessa história?

Acho que os Estados Unidos estão se colocando numa posição clara de que o tema para ele é: vou acelerar a minha economia com a possibilidade de exploração de recursos naturais, como o gás, mas não vou desacelerar também a economia verde. E o Brasil pode fazer parte dessa cadeia global, por exemplo, com o etanol. Ou ainda usar resíduo industrial brasileiro, como o sebo, também para a produção de diesel verde.

O governo passado não foi percebido como um governo pró-ambiente. Por que isso aconteceu?

Definitivamente, faltou comunicação do que nós fizemos. Lançamos muitos projetos. Eu e o (ex-)ministro Paulo Guedes lançamos o Programa de Crescimento Verde, para energias renováveis, agricultura de baixo carbono. Lançamos com a Tereza Cristina (ex-ministra da Agricultura) o Plano ABC+, que é a agricultura de baixo carbono. Fechamos mais de mil lixões. A agenda de saneamento andou bem, e continua andando em alguns Estados, como aqui em São Paulo.
Sonia Racy
Fonte: Estadão
Fique informado em tempo real! Clique AQUI e entre no canal do Telegram da Agência UDOP de Notícias.
Notícias de outros veículos são oferecidas como mera prestação de serviço
e não refletem necessariamente a visão da UDOP.
Mais Lidas