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O papel da mulher na governança corporativa - Por: Cláudia Tonielo
Publicado em Revista Opiniões, ano 20, número 78, divisão C, nov-jan 2024
Publicado em 06/12/2023 às 14h35
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“Preconceito é opinião sem conhecimento.” - Voltaire

A grande lição que extraí nesses anos que tenho atuado nas empresas da minha família é o fundamental comprometimento que todos os envolvidos no processo de gestão da empresa devem assumir diante das responsabilidades propostas pelo modelo de governança adotado. Só assim, serão obtidas melhorias no gerenciamento e clima organizacional, e o benefício será sentido por todos.

A proposta é permitir que a gestão se torne harmoniosa e eficaz no que tange a todas as atividades, processos, decisões e mudanças que possam ocorrer na empresa, caracterizando a melhoria da gestão organizacional por meio da aplicabilidade do conceito, princípios e boas práticas de governança corporativa.

Tais responsabilidades vão muito além da eficiência em questões administrativas, financeiras e contábeis, sem tirar o mérito e a importância dessas pautas no desempenho dos negócios. O que quero dizer aqui é que o modelo de governança deve romper parâmetros e quebra de paradigmas, enraizados durante anos, inclusive pensamentos e ações gerenciais preconceituosos. Na minha opinião, uma organização disposta a abandonar velhas crenças e modos de agir retrógrados demonstra sintonia com o que acontece no mundo e engajamento com a sociedade.

Não podemos esquecer completamente as práticas do passado, nem mesmo desprezar tudo o que foi realizado pelos membros da família que geriram os negócios até chegarmos aos novos modelos. 

Afinal, todo o patrimônio foi construído nas gestões anteriores, mas é preciso se abrir para o novo. Não podemos admitir desigualdade entre homens e mulheres, intolerâncias religiosas, de gênero ou qualquer outra diferença, nada disso contribui para o bom desempenho de um profissional.

A visão dos negócios precisa ser mais sistêmica, olhando o papel dos departamentos e dos colaboradores como partes igualmente importantes para “rodar a engrenagem” da máquina chamada empresa. A maturidade dos membros da governança é um indicador para se obter esse reconhecimento.  

Como diretora de Recursos Humanos, estou muito atenta às questões sociais mais engajadas e menos tolerantes ao preconceito. Certamente, esse comportamento afeta todos os âmbitos da sociedade, inclusive as relações de trabalho.

É verdade que as mulheres alcançam posições cada vez mais altas nas corporações, mas estudos apontam que elas ainda recebem menos do que os homens, se sentem reféns dos colegas, mesmo que sua capacidade seja igual e suas funções sejam complementares. Muitas barreiras ainda precisam ser vencidas. É claro que as mulheres assumiram seu papel de protagonista na vida e no mundo dos negócios e estão mais participativas e empoderadas. Porém, esta história só terá um final feliz quando a parceria “homem e mulher” for realmente aceita com igualdade.
 
Não é fácil se impor diante de homens que carregam em seu DNA o machismo cultural, que acreditam que o papel da mulher ainda deve ser decidido por alguém do sexo oposto, seja ele o pai ou o marido. Muita coisa mudou para as mulheres. Elas não aceitam mais a sociedade patriarcal de dominação masculina e se recusam a agir como homens para conquistar seu espaço na organização. Penso que sua força feminina, sua sutileza e sua adaptabilidade para fazer várias coisas, ao mesmo tempo, são pontos positivos que devem ser considerados na vida profissional. E nem mencionarei a intuição, algo mágico na vida das mulheres.

Capacitar-se é o caminho, já que a ideia está longe de pregar o discurso do ódio, que visa trocar a ideologia machista por sua oposta. A busca incessante deve ser em direção a formas mais justas de viver em sociedade. Nós, mulheres, precisamos ter consciência da nossa capacidade, mas, além disso, precisamos nos qualificar para poder assumir papéis e cargos de liderança. Nesse contexto, cargos de alta direção são almejados por muitas trabalhadoras, mas, na hora de assumir a posição, deparam-se com inúmeros desafios, principalmente, por falta de preparo e qualificação.

Costumo brincar: quem disse que ser líder é fácil? Um dos maiores desafios dentro do RH é conseguir manter o espírito de equipe motivado. Nos deparamos diariamente com o desafio de inspirar e desenvolver pessoas para que elas superem suas limitações e conquistem muito mais do que imaginam.

A relação de confiança entre os gestores e os colaboradores precisa ser permanentemente exercitada, mediante práticas transparentes de administração, em que as informações e a tomada de decisões importantes para a organização são compartilhadas com todos os integrantes da equipe.

A retenção de profissionais que “vestem a camisa” e o desenvolvimento do time passam por um cotidiano construído e vivenciado de dentro para fora, em todos os níveis hierárquicos. Mais que isso, tem que ser algo completamente natural na corporação.

Caso contrário, a imagem passada para o profissional se torna exatamente oposta à que se deseja transmitir. Por isso, é de extrema importância que a empresa mantenha um posicionamento contrário e firme a condutas discriminatórias.

A inteligência emocional, quando se trata de pessoas, é um ponto ainda mais importante. Conflitos de interesse, situações inesperadas, metas não atingidas, dificuldades de relacionamento são desafios infindáveis. Como se manter equilibrado diante de tantas dificuldades? A resposta é pensar de forma estratégica, negociando metas, elaborando planos de ação com a equipe e impulsionando o pertencimento de cada integrante do time.

Concluo meu artigo, afirmando que um ambiente de trabalho harmonioso é fundamental para o sucesso de qualquer negócio. Toda empresa tem pessoas de diversas classes sociais, raciais e culturais que, muitas vezes, não têm muito em comum, além do fato de trabalharem juntas. Portanto, a melhor estratégia é manter sempre um comportamento de respeito. 

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Cláudia Tonielo
Diretora de Recursos Humanos do Grupo Toniello
Fonte: Revista Opiniões
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