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Além do combustível: Raízen quer fatia de 10% do mercado livre com solar e geração distribuída
Raízen Power, braço de geração e comercialização de energia do grupo, chega a 70 mil clientes, com quase 22 mil megawatts comercializados
Publicado em 19/02/2024 às 15h45
Foto Notícia
Frederico Saliba, CEO da Raízen Power
O lucro líquido de 754 milhões de reais obtido pela Raízen no terceiro trimestre do ano safra 2023/24, quase três vezes maior do registrado um ano antes, foi celebrado como um dos melhores resultados da história pela empresa. Nem a queda de 3% na receita, ou a pressão sobre o preço do etanol, abalaram o otimismo de seus executivos na divulgação dos resultados, anunciados dois dias antes do carnaval. Mas, há um aspecto pouco explorado pelos analistas na estratégia da companhia que causa certa ansiedade pré-celebratória na liderança: o avanço na comercialização de energia.

No mesmo período, a Raízen Power, braço de geração e comercialização de energia do grupo, entregou 9.476 MWh aos seus 70 mil clientes, alta superior a 400% na comparação anual. No acumulado do ano safra, as vendas totalizam 21.964 MWh, crescimento próximo de 45%, na mesma base de comparação. “Os clientes querem saber de onde vem a energia”, justifica Frederico Saliba, CEO da Raízen Power, chamando atenção para o foco em energia renovável.

A Raízen, que tem na produção de açúcar e etanol e na distribuição de combustíveis seus principais negócios, almeja conquistar 10% do mercado livre de energia em 6 anos, e, para isso, busca conquistar um quarto do segmento de geração distribuída, composto por fontes geradas localmente em menor escala, como a energia solar. Até o momento, a Power conta com 100 parques solares em operação, própria ou por terceiros. A estratégia é seguir pelo caminho fotovoltaico. “A eólica não faz sentido na geração distribuída”, afirma Saliba.

One stop shop de energia

Não é de hoje que companhias do setor de combustíveis, notadamente as petroleiras, buscam se posicionar como “empresas integradas de energia”. A Raízen e sua controladora, a Cosan, não fogem dessa regra. Alheia a jogadas marqueteiras ou discurso publicitário, a Power atua como elo entre os negócios legados do grupo e sua visão de futuro, calcada na transição energética. É através dela, ou de sua plataforma, que os clientes da empresa poderão acessar as diversas opções energéticas disponíveis, sejam elas via caminhão-tanque, rede elétrica ou baterias.

O plano de instalar, até o final do ano, mil pontos de recarga para carros elétricos, por exemplo, faz parte dessa estratégia. No início de fevereiro, a BYD, fabricante chinesa de veículos elétricos, anunciou uma parceria com a Raízen que vai render 600 desses pontos em diversas localidades. Em outra frente, a empresa trabalha no desenvolvimento do mercado de SAF, sigla em inglês para o combustível de aviação sustentável, grande aposta do setor aéreo para a descarbonização.

Essa visão holística sobre o setor de energia, que refuta a ideia de “caixinhas” para separar as fontes fósseis e renováveis, advém da ideia de tratar a transição energética como uma indústria, não apenas uma campanha ambiental. “Temos que encarar como brasileiro, como governo e como iniciativa privada que isso [a transição energética] é uma indústria”, disse à EXAME o CEO da Cosan, Luis Guimarães, durante a COP28. “Temos que estar na mesa de negociação para construir regras para que as nossas soluções sejam comercializadas”.

Para Saliba, o Brasil está bem-posicionado em termos estruturais, porém, há a necessidade de investimentos em transmissão para não frustrar a entrega dos megawatts produzidos de energia limpa. Holisticamente, é preciso entender que, neste cenário de descarbonização, cada parte tem seu papel. Mas, no todo, a energia tem de chegar ao consumidor sem interrupções e barata. 
 
Por Rodrigo Caetano, editor ESG
Fonte: Exame
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