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Nas Olimpíadas, Paris quer metade das emissões de Tóquio e construções sustentáveis
Publicado em 25/07/2024 às 08h53
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Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters
As Olimpíadas de Paris, que começam nesta sexta-feira, 24, buscam ser as “mais sustentáveis da história”. Com os olhos do mundo voltados para a França, o governo e os comitês Olímpico e Paralímpico atuam para trazer o ESG de vez para as competições esportivas.

Na busca pela redução das emissões, as medalhas de ouro ficam em segundo plano para a França. A meta principal é de atingir metade da pegada de carbono das últimas edições das Olimpíadas. Em Tóquio (2021), o Comitê Olímpico estimou 2,73 milhões de toneladas de emissões de CO2, mas comprou créditos equivalentes a 4,38 milhões de toneladas. Nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, as emissões atingiram 3,5 milhões de toneladas, e em Londres, 2012, 3,4 milhões de toneladas.

Uma das ferramentas criadas para diminuir as emissões de gases causadores de efeito estufa foi o Treinador Climático para Eventos (tradução literal de Coach Climat Événements). Criado pelo Ministério do Esporte da França e pelos comitês Olímpico e Paralímpico, o serviço calcula as emissões de carbono de eventos esportivos relacionados às Olimpíadas.
A partir de um questionário, o programa busca entender o impacto ambiental do evento de acordo com a atividade física, número de participantes, duração e necessidades de cada esporte. Outras informações ajudam a calcular a pegada de carbono corretamente, como detalhes de transporte, energia e alimentação durante a competição. O site apresenta o total de emissões previstas para o evento e, como um treinador de esportes, informa etapas para diminuir os “erros” cometidos.

Entre as soluções apresentadas para reduzir a pegada de carbono estão escolhas simples, mas que dada a dimensão dos Jogos -- que devem receber mais de 10 mil atletas, 4 mil paratletas e 15 milhões de visitantes --, têm um impacto positivo: utilizar materiais recicláveis e reutilizáveis, escolher centros esportivos que possam ser acessados a partir de transporte público, serviços de alimentação com opções vegetarianas e veganas e o uso de energias limpas durante a competição.

Até novembro de 2023, data do último relatório de sustentabilidade das Olimpíadas, mais de 560 eventos de 46 modalidades esportivas já tinham calculado suas emissões, o que ajudará a reduzir uma média de 24% da pegada de carbono nas competições. A plataforma pode ser acessada, em francês, por meio deste site.

O motivo de toda essa preocupação se relaciona com o próprio impacto que os franceses podem sofrer com o aumento das temperaturas globais. De acordo com o estudo “O mundo dos esportes em +2ºC e +4ºC”, da ONG ambiental WWF França, os franceses podem perder de 24 a 66 dias de atividades esportivas caso as temperaturas ultrapassem os 32ºC.

Torneios em pontos históricos - e adaptados

A sustentabilidade também foi prioridade na escolha de onde os torneios vão acontecer. Entre as construções que receberão os jogos olímpicos, a gigante parcela, de 95%, já eram infraestruturas existentes ou temporárias, informou a diretora de Excelência Ambiental das Olimpíadas, Georgina Grenon, para a Folha de São Paulo.

Cartões portais da cidade, como a Torre Eiffel, serão preparados e adaptados para receber as competições. O principal ponto turístico da capital francesa será espaço para disputa de vôlei de praia. O Palácio de Versalhes receberá provas de hipismo e pentatlo moderno. O estádio Roland Garros, sede dos torneiros mundiais de tênis, também receberá as competições de boxe. O Parc des Princes, estádio do clube Paris Saint-Germain, é onde as partidas de futebol acontecerão.

A única instalação que foi construída do zero para as Olimpíadas é o centro aquático de Saint-Denis, bairro ao norte de Paris no qual, segundo as autoridades francesas, metade das crianças de até 12 anos não sabe nadar. O objetivo é que o centro receba as competições de nado artístico, polo aquático e saltos ornamentais e, posteriormente, fique como um legado para a região.
Com um teto feito por 5 mil metros quadrados de painéis fotovoltaicos, a construção de baixo carbono coletará a energia necessária para toda a iluminação interna. Além disso, a estrutura utiliza madeira e materiais reciclados, o que permite uma climatização que reduz o uso de ar-condicionado em 20%. Os assentos permanentes (cerca de 2.500 lugares) foram construídos a partir de tampas de garrafas plásticas recicladas.

A construção teve custo de 151 milhões de euros, equivalentes a quase R$ 900 milhões. A partir do próximo ano, as piscinas de 25m e 50m serão abertas para a população como um complexo poliesportivo.

Até mesmo a Vila Olímpica, bairro que hospedará os atletas durante os jogos olímpicos, foi construída visando a redução do impacto ambiental. A diminuição nas emissões na comparação com construções tradicionais é de até 30%, segundo o Comitê Olímpico. Construída com resfriamento geotérmico, sistema de climatização que pode diminuir a temperatura em até 10ºC na comparação com o clima externo, a Vila Olímpica não conta com aparelhos de ar-condicionado – decisão polêmica e que gerou pressão no Comitê Olímpico, já que a Europa está no verão.

As Olimpíadas ainda motivaram a França a implementar uma promessa de décadas: limpar o rio Sena, principal corpo d’água do Norte do país. O investimento para a limpeza foi de 1,4 bilhão de euros (mais de R$ 7,5 bilhões). Para provar que as águas parisienses estão aptas para a prática de esportes, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e a ministra dos esportes, Amélie Oudéa-Castéra, nadaram nas águas do Sena, mas manter a qualidade do rio enfrenta desafios como o excesso ou a escassez de chuvas.
Letícia Ozório
Fonte: Exame
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