União Nacional da Bioenergia

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Geopolítica e Agro - Por: Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio
Publicado na Revista Opiniões, Ano 21, Número 82, Divisão C, Novembro/24-Janeiro/25.
Publicado em 22/11/2024 às 14h33
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“Infelizmente, o Brasil nunca perde uma
oportunidade de perder oportunidades.”
Roberto Campos

 
Vivemos, no Agro brasileiro, talvez a sua maior oportunidade em uma nova complexa geopolítica, num ciclo de fragmentação política, com o comércio global todo assustado com a segurança alimentar, em fase de conflitos graves tanto na Europa (Ucrânia – Rússia) quanto no Oriente Médio (Israel – Hezbollah – Hamas – Irã), e da transição energética face à luta contra as mudanças climáticas. O protagonismo brasileiro nesses campos vem se acentuando pela crescente e competitiva presença dos seus produtos agroindustriais em diferentes mercados e diversos países.
 
Os déficits (em bi US$), segundo a OMC, em importações de alimentos, cresceram aceleradamente na Europa, China, Rússia, Japão, Oriente Médio, Coreia do Sul e Indonésia, principalmente, com uma visão prospectiva com sensível aumento desses déficits. As mudanças foram muito sensíveis nos últimos 30 anos.

Se, por um lado, a segurança alimentar passa a ser prioridade global, os crescimentos da renda e da população mundial trazem o temor do acesso à energia, mal distribuída no mundo, sensivelmente afetado pelo processo da transição energética, base da luta essencial contra as mudanças climáticas.

Os dois temas estão intimamente ligados e são essenciais ao grande pilar do desenvolvimento global no século XXI – a bioeconomia. Enquanto a Europa Oriental passou a ser efetiva produtora agrícola e exportadora (Rússia e Ucrânia, principalmente), a guerra entre esses países quebrou esse esforço relevante europeu. Os EUA, por seu lado, vêm consumindo mais do que exportam, transformando também esse gigante na geopolítica alimentar. A China, maior produtor mundial de alimentos, é crescente exportadora de quase tudo, mas é a maior compradora de produtos brasileiros do agro.

Exceto os EUA e a Rússia, fundamentais exportadores de energia fóssil, os outros países são altamente dependentes de importações e lutam para diversificar as suas complexas fontes. O ano de 2024 trazia uma complexa mudança na geopolítica, com a pressão pela União Europeia de iniciar (dez/24) a implantação formal do seu Green Deal, sob os protestos dos países no mundo (Brasil entre eles) face à postura unilateral e apressada da UE. Em out/24, houve o recuo europeu, adiando por um ano essa implantação, até porque a reação contrária ao Green Deal pelos agricultores europeus foi muito forte e base da onda de direita nas eleições do Parlamento Europeu.

Enquanto o Acordo Mercosul-União Europeia não deslancha, a China vai se antecipando e crescendo na América Latina, exportadora de comida e de energia renovável. Os EUA vão atraindo empresas e investimentos com o seu programa IRA, voltado a tecnologias disruptivas e ao desenvolvimento de países “amigos”, com plantas industriais realocadas e onde há energia disponível, enquanto a Arábia Saudita comanda a OPEP em sintonia com a Rússia e os interesses dos produtores de petróleo (shale oil) norte-americanos.

E o Brasil, como está nisso?

O Brasil mostra duas faces em mesma moeda: de um lado, apresenta-se com ativo discurso sobre o tema ambiental onde as mazelas amazônicas o atingem duramente e, do outro lado, dados e narrativas relevantes sobre sua competitividade, seja produzindo alimentos e/ou bioenergia em larga escala e a baixos custos, sempre com baixa pegada de carbono e moderna e limpa matriz energética.

Isso é um fato, mas sempre contestado pelos competidores europeus, que insistem em buscar o regramento global à sua imagem e interesse. O mundo, no entanto, é muito diverso. Isso, aliás, gerou o multilateralismo que buscava expressar as diferenças em organismos multilaterais. O atual Green Deal europeu é o avesso dos esforços pós II Guerra Mundial e uma ação unilateral a ser combatida.
 
A Acordo de Paris, festejado em prosa e verso, vem sendo foco de competição entre entidades internacionais e posições diferentes (exemplo: AIE – Agência Internacional de Energia e OPEP+ – Organização dos Países Exportadores de Petróleo) com relação à transição energética. Em síntese, ao mesmo tempo que se percebe menor investimento nas energias renováveis e bons investimentos nas fósseis, os discursos são contrários e mostram hipocrisia e uma forma óbvia de desacelerar os interesses na busca de efetivas ações de descarbonização: carros elétricos movidos a energia de carvão mineral? Subsídios e suportes legais (regulação) privilegiando uma metodologia que não considera as emissões do “berço ao túmulo”?
 
Enquanto o combustível fóssil conta com o mercado, oferta competitiva e objetivos claros em larga escala, o renovável contaria com política pública (que não sai do papel) e com a subjetividade e custos elevados, sem o suporte formal global/nacional de valorização das suas externalidades, sem políticas de estímulos via carbono, e por aí vai...

O Congresso brasileiro antecipou-se em 2024 e aprovou a Lei do Combustível do Futuro, que prepara o caminho para a bioenergia de diferentes matérias-primas que ajudarão o país a reduzir as suas emissões de carbono, gerando empregos, tecnologias disruptivas e agroindustriais como verdadeiras biorrefinarias ofertando alimentos e energias renováveis. O seu Banco de Desenvolvimento (BNDES) terá a missão de ajudar a financiar e divulgar esse esforço nacional, abrindo espaço ao capital externo e ao fomento das modernas tecnologias tropicais.

Recente estudo da McKinsey mostra que, para os próximos anos (até 2030), serão necessários, em cenário conservador, novos 77 milhões de hectares no mundo (um novo Brasil produtor), sendo 56 milhões de hectares para nutrição animal, 15 milhões para alimentos e 6 milhões de hectares para biocombustíveis. As alavancas fundamentais para isso seriam o aumento da produtividade, um comércio global aquecido e a conversão de pastagens degradadas.

O Brasil está na vanguarda, com práticas de agricultura sustentável, agregando valor e, constantemente, conquistando automação, tecnologia e analítica avançada no campo.

Simplesmente esperar que o mercado resolva isso é exatamente continuar com o que se faz hoje, com um “charme” de novidades em plantas piloto, ou grandes números de futuras demandas em transportes aéreos e marítimos, além dos caminhos traçados em direção ao hidrogênio verde.

Em 2025, ocorrerá a COP30 em Belém (PA), onde o Brasil terá reais oportunidades de mostrar o que se faz em integração de lavouras, em biocombustíveis, bioeletricidade e as novidades impactantes do biogás e do biometano. Será preciso estar preparado e coordenado para isso, pois a não proatividade poderá levar a que seja uma COP para narrativas negativas sobre a floresta amazônica.

Aliás, é sempre bom lembrar da frase espirituosa do falecido Roberto Campos, de que “por amor ao passado o Brasil perdeu o presente e comprometeu o futuro”. 

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Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio
Presidente da ABAG e Diretor da Canaplan
Fonte: Revista Opiniões
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