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Safra 2025/26 Deve Ser Menor Por Conta do Clima - Por: Marcos Fava Neves
BOLETIM CANA30: Reflexões dos fatos e números do agro em outubro/novembro e o que acompanhar em dezembro
Publicado em 27/11/2024 às 14h07
Foto Notícia
Na cana, a moagem acumulada na safra 2024/25 atingiu 566 mi de t até 1º de novembro, representando um aumento de 0,9% em relação ao mesmo período da safra anterior (561 mi de t). Os dados são da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia). 

Na última metade de outubro, 250 unidades estavam operando (eram 258 na safra anterior), sendo 231 processadoras de cana, 9 dedicadas ao etanol de milho e 10 usinas flex. Desde o início da safra, 38 unidades finalizaram as operações, um aumento em relação às 26 usinas no ciclo anterior.

O ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) acumulado subiu para 142,6 kg/t, sendo 1% acima do ciclo anterior. Na quinzena, o ATR foi de 149,5 kg/t, avanço de 2,3% em relação ao mesmo período de 2023/24 (146,1 kg/t). Enquanto isso, o mix de produção está direcionado 48,6% para o açúcar (queda) e 51,4% para o etanol (alta). 

A forte estiagem que atingiu a região Centro-Sul agravada por incêndios que devastaram cerca de 450 mil ha de canaviais, devem causar impactos além da atual temporada, de acordo com a Datagro. Os danos incluem atrasos no desenvolvimento fisiológico da cana-de-açúcar, falhas de brotação e perda de qualidade industrial, além de maior suscetibilidade a pragas, como a síndrome da murcha do colmo. Com cerca de 200 mil ha afetados em áreas já colhidas, muitas plantas foram perdidas, obrigando usinas a reiniciar o plantio. A retomada dependerá de chuvas regulares e da disponibilidade de mudas, que já é uma preocupação. 

A aprovação do projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil, atualmente aguardando sanção presidencial, é uma chance de ampliar a rentabilidade dos produtores de cana. Segundo a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), o mercado permitirá a venda de créditos de carbono, beneficiando quem já adota práticas sustentáveis ou planeja se certificar. O sistema, regulado pelo Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), criará um mercado formal e voluntário para negociar Cotas Brasileiras de Emissão (CBE) e Certificados de Redução ou Remoção Verificada de Emissões (CRVE).

No açúcar, o Brasil exportou 3,7 mi de t de açúcar em outubro, o que representa um aumento anual de 30%. Apesar da redução de 12% no preço médio de exportação, que ficou em US$ 473/t, a receita total alcançou quase US$ 1,8 bi (+14,5%). No acumulado de janeiro a outubro de 2024, 32 mi de t do adoçante foram embarcadas (+34,3%), esse volume é 2,4% acima do total alcançado em 2023 (31,3 mi de t). A restrição do mercado indiano elevou a demanda do produto brasileiro, porém, a seca prolongada dos últimos meses ainda é um ponto de atenção para o setor, podendo influenciar o volume de produção nos próximos meses.

A Organização Internacional do Açúcar (ISO) revisou sua estimativa de déficit global de açúcar na safra 2024/25 para 2,5 mi de t, ante a projeção anterior de 3,6 mi de t. A redução foi influenciada por uma revisão nas estimativas de consumo global, que caíram de 182,9 para 181,6 mi de t. Enquanto isso, a produção global foi ligeiramente ajustada para 179,1 mi de t, queda em relação à previsão anterior (179,3 mi de t). Para 2023/24, a ISO agora projeta um superávit global de 1,3 mi de t, em contraste com o déficit de 200 mil t estimado anteriormente. Essa mudança também reflete a redução no consumo, revisado de 181,5 para 180,0 mi de t.

A produção de cana-de-açúcar na Índia para a safra 2024/25 deve ser menor, passando de 453,2 mi na temporada anterior para 439,9 mi de t, devido às chuvas irregulares causadas pelo El Niño. Além disso, o país estendeu a proibição das exportações de açúcar pelo 2º ano consecutivo, priorizando o mercado interno. 

Em relação aos preços, em Nova York o contrato do açúcar bruto para março/2025 estava cotado em 21,36 centavos de dólar por libra-peso, enquanto em Londres, o açúcar branco estava em US$ 553/t. Nos últimos dias, os preços tiveram leve queda, após a revisão baixista da Organização Internacional do Açúcar (citada acima), e nova previsão de excedente global desta safra. No mercado interno, o cristal branco em São Paulo estava cotado em R$ 167/sc (50 kg), segundo o Cepea/Esalq, alta mensal de 2,1%.

No etanol, as vendas de etanol no mês de outubro alcançaram 3 bi de litros, um aumento de 4,6% na comparação anual. No mercado interno, as vendas do hidratado somaram 1,8 bi de litros (+6,3%), enquanto o anidro foi responsável por 1,1 bi de litros (+13,2%). No acumulado da safra, o volume comercializado atingiu 20,9 bi de litros, com crescimento de 14,4%. As vendas de hidratado foram de 13,5 bi de litros (+26,0%), enquanto o anidro somou 7,4 bi de litros (-2,1%). Em estados como São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná, a competitividade do biocombustível frente ao seu concorrente fóssil representa uma oportunidade de descarbonização e economia aos consumidores.

No mercado de CBios, até 11 de novembro, foram emitidos 36 mi de créditos de descarbonização, dos quais 29 mi estavam disponíveis para negociação. Este montante é suficiente para atender à meta de descarbonização de 2024.

Com a sanção da Lei Combustível do Futuro, o Brasil se prepara para produzir cerca de 1,6 bi de litros de Combustível Sustentável de Aviação (SAF) a partir de 2027 com investimentos de R$ 17,5 bi de grandes empresas como Acelen, Raízen, Petrobras e BBF a partir de matérias-primas como macaúba, etanol e óleo de palma. O SAF será crucial para cumprir metas de redução de emissões de gases do efeito estufa, começando com 1% em 2027 até 10% em 2037. Apesar das perspectivas, desafios como custo elevado, escassez de matéria-prima e necessidade de incentivos fiscais e regulações exigem atenção.

No etanol, os preços divulgados pela SCA Brasil, já considerando impostos e tendo Ribeirão Preto (SP) como referência, o hidratado estava em R$ 3,160/l e o anidro em R$ 3,050/l, ambos com preços iguais aos das últimas 4 semanas.

Valor do ATR: em outubro, o Açúcar Total Recuperável (ATR), divulgado pelo Consecana, fechou o mês em R$ 1,1716/kg, alta de 1,8%. No histórico da safra atual, os preços mês a mês são: abr/24, R$ 1,1879/kg; mai/24, R$ 1,1684/kg; jun/24, R$ 1,1635; jul/24, R$ 1,1759/kg; ago/24, R$ 1,1730/kg; set/24, R$ 1,1507/kg; e agora em outubro fomos a R$ 1,1716/kg. No acumulado da safra atual, estamos em R$ 1,1672/kg. Seguimos com nossa sugestão de preços entre R$ 1,18 e 1,19/kg até o final do ciclo.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em dezembro na cadeia da cana:

1.    Final da safra de cana na região Centro-Sul e consolidação dos números de moagem, produção de etanol e açúcar. O ciclo atual deve fechar entre 580 e 590 mi de t. Seguir acompanhando a previsão climática para a região Centro-Sul e seus impactos sobre a safra 2025/26. O Rabobank e a StoneX já estimaram queda na moagem (580 e 590 mi de t, respectivamente) em vista dos impactos na produtividade pelo clima e, ainda, efeitos das queimadas no meio do ano.
2.    Entender mais desta anunciada volta da Petrobrás ao etanol e ao setor. 
3.    No açúcar, momento de analisar as previsões para Europa, Tailândia e Índia, que devem entregar volume maior de produção do próximo ciclo. Após um ciclo bastante positivo, podemos ter momento de alta nos estoques. Vamos acompanhar.
4.    Analisar o mercado do petróleo e as atualizações relativas ao conflito no Oriente Médio. Após a eleição de Trump, que elevou os preços globais, a discussão de possível acordo de paz fez com que o barril voltasse a cair: Brent estava em US$ 73,41 (+ 3,3% no mês); e WTI em US$ 67,48 (+ 2,7%). Vale lembrar que eles chegaram a US$ 75,36 e US$ 72,36, respectivamente, após a eleição nos EUA.
5.    Analisar o consumo de etanol no mês de novembro e dezembro, após a recente alta nos preços, sendo um período de alta no consumo por conta das festas de final de ano, mesmo com a baixa na oferta, em virtude do término da moagem de cana. A oferta do etanol de milho tem equilibrado os preços na entressafra, mas vamos entender os efeitos da baixa do petróleo na precificação e consumo do biocombustível.


Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto–SP) da FGV (São Paulo–SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto–SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio.

Vinícius Cambaúva
Associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto–SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande
Consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.
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