União Nacional da Bioenergia

Este site utiliza cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Ao continuar navegando
você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade

Câmbio e Safra Brasileira Diminuem Preços do Açúcar
Reflexões dos fatos e números do agro em novembro/dezembro e o que acompanhar em janeiro
Publicado em 20/12/2024 às 15h51
Foto Notícia

Na canaa moagem acumulada na safra 2024/25 até 1º de dezembro atingiu 601 mi de t, uma redução de 3% frente às 620 mi de t processadas no mesmo período do ciclo anterior, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Na segunda quinzena de novembro, foram processadas 20 mi de t (-15%). Até o início de dezembro, 135 usinas haviam encerrado as operações, em contraste com 82 no ciclo anterior. Neste contexto, 196 unidades estavam em atividade, 177 de cana, 10 de etanol de milho e 9 flex.

Quanto à qualidade da matéria-prima, o ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) acumulado da safra alcançou 141,7 kg/t, ligeiramente superior ao mesmo período do ciclo anterior (+1%). No entanto, o ATR quinzenal registrou queda de 6%, atingindo 124,6 kg/t. Já o mix de produção acumulado, desde abril até 01/12, ficou em 48,3% para o açúcar (queda de 1,0% no comparativo anual) e 51,7% para o etanol (alta).

A safra de cana-de-açúcar 2025/26 no Brasil enfrenta desafios climáticos que ameaçam a qualidade e quantidade da produção, estimada em 580 mi de t pelo Rabobank. Apesar disso, o uso de tecnologias como maturadores químicos e irrigação tem ajudado a mitigar os impactos, aumentando o teor de açúcares totais recuperáveis (ATR) e garantindo maior produtividade. Com uma tendência de priorização da produção de açúcar, que deve atingir 52% da cana processada, o setor busca manter a liderança mundial.

Na visão da consultoria Safras & Mercado, a recuperação das chuvas no Centro-Sul do Brasil deve impulsionar a produção de cana-de-açúcar em 2025, aumentando a moagem de 592 mi para 608 mi de t. No entanto, essa melhora, somada às boas perspectivas de outros grandes produtores, como Índia, Tailândia, e Europa, pode pressionar as cotações globais do açúcar, já em tendência de queda desde setembro.

A safra de cana-de-açúcar 2024/25 registra uma queda acumulada de 11% na produtividade, atingindo 79 t/ha entre abril e novembro, em comparação a 88 t/ha no mesmo período da safra anterior, conforme dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Em novembro, a produtividade média na região Centro-Sul foi 19% menor, passando de 78,3 t/ha para 63,4 t/ha. As chuvas recentes impactaram negativamente a qualidade do ATR mensal, embora o acumulado da safra ainda apresente leve melhora.

No açúcar, a produção acumulada do adoçante até 1º de dezembro totalizou 39,3 mi de t, uma retração de 3,7% em relação às 41 mi de t do ciclo 2023/24. Apenas na segunda metade de novembro, foram produzidas 1,1 mi de t (-23%). Nesse período o mix de produção destinou 45% da cana para açúcar, contra 46,5% no mesmo período do ciclo anterior, refletindo a pior qualidade da matéria-prima.

Em novembro de 2024, o Brasil exportou 3,4 mi de t de açúcar, registrando uma redução de 7% em relação ao mesmo mês de 2023. Enquanto isso, os preços médios de exportação caíram 10%, atingindo US$ 481/t. Isso resultou em uma receita de US$ 1,6 bilhão para o setor sucroalcooleiro, representando 13,4% do total exportado pelo agronegócio no mês. A Índia foi um dos principais destinos do açúcar brasileiro, importando US$ 136 mi (+17%), enquanto o Iraque teve um crescimento expressivo, adquirindo US$ 135,7 mi (+127%).

O relatório Radar Agro do Itaú BBA destaca que o mercado de açúcar vive um momento singular. O preço atual do açúcar bruto é de USD 22/lb, 30% acima da média dos últimos 12 anos. Enquanto grandes países produtores como Brasil e Índia devem entregar produções próximas às máximas históricas na safra 2023/24, outros como União Europeia, Tailândia, México, Austrália e Guatemala registraram produções 20% e 40% abaixo das máximas da última década. Nos últimos 25 anos, os preços estiveram mais baixos em 90% do período.

Segundo o Itaú BBA, o custo total hoje do açúcar colocado no porto é de R$ 1900/t. Destes temos R$ 300 de fretes e R$ 1600 para os custos de produção agrícolas e industriais, o corte, carregamento e transporte.

Nos últimos 12 meses, a produção brasileira de açúcar foi responsável por ofertar 5,9 mi de t a mais de açúcar no mercado, enquanto o montante adicional da Índia foi de 3,6 mi de t. Quando estendemos para o período dos últimos 10 anos, o Brasil foi responsável por 56% do crescimento da produção mundial de açúcar.

O consumo global de açúcar tem crescido de forma consistente, com taxas de 0,66% ao ano nos últimos 10 anos e 0,93% nos últimos 5 anos, impulsionado principalmente por países asiáticos como Índia, Paquistão e Indonésia, responsáveis por 88% do aumento global na última década. A demanda deve alcançar 191,5 mi de t nos próximos 5 anos, exigindo que o Brasil produza 18,6 mi de t adicionais nesse período. Com o menor custo de produção mundial, o Brasil desempenha um papel estratégico, consolidando-se como fornecedor essencial para atender ao crescimento populacional e econômico, de acordo com a Archer Consulting.

Para o futuro, os olhares devem continuar apontados para Brasil e Índia, os únicos com produção máxima e que devem continuar guiando o crescimento. Apesar do açúcar indiano apresentar vantagens logísticas devido à proximidade com o principal mercado responsável pelo crescimento da demanda (Ásia), as exportações devem ser limitadas em 2 mi de t mediante ação governamental. Em paralelo, o açúcar brasileiro apresenta menores custos e respaldo internacional de qualidade, o que deve garantir fatia de mercado significativa.

As usinas brasileiras fixaram preços para 53,5% do açúcar exportável da safra 2025/26, equivalente a 16 mi de t, na bolsa ICE, conforme levantamento da Archer Consulting até novembro. Esse volume representa um avanço significativo em relação a outubro, impulsionado pela valorização do dólar frente ao real. O preço médio fixado foi de 19,25 cents/lp, ou R$ 2.496/t, refletindo as estratégias das usinas para garantir melhores margens de receita em um cenário de câmbio favorável e demanda internacional aquecida.

Em Nova York, os preços do açúcar seguem em queda com o aumento na moagem da cana-de-açúcar na safra atual e a perspectiva positiva para a próxima, com a melhoria da situação climática. O contrato para mar/2025 era negociado a 19,8 centavos de dólar por libra-peso. Já o contrato de out/2025 estava em 18 cents/lbp. Em Londres, o contrato de mar/2025 estava em US$ 513/t; e o de out/2025 em US$ 498/t. No interno, o açúcar cristal branco em São Paulo era cotado a R$ 160/sc (50 kg), queda mensal de 2,5%, dados do Cepea/Esalq.

No etanola produção acumulada alcançou 31,2 bilhões de litros, um aumento de 4,3% frente ao mesmo período do ciclo passado. Destes, 19,8 bilhões correspondem ao etanol hidratado (+12%), que cresceu em detrimento a queda do açúcar e etanol anidro (11,3 bilhões | -7%). Na última metade de novembro, a produção no centro-Sul totalizou 1,2 bilhão de litros, com destaque para o aumento de 43% na produção de etanol a partir do milho, que chegou a 369 mi de litros.

As vendas do biocombustível em novembro somaram 2,9 bilhões de litros, um aumento anual de 3,2%. O mercado interno respondeu por 1,8 bilhão de litros de etanol hidratado (+11%) e 979 mi de litros de anidro (+4%). No acumulado da safra, as vendas totalizaram 23,8 bilhões de litros (+13%), com 15,4 bilhões de litros de hidratado (+24%) e 8,4 bilhões de anidro (-3%). Mesmo com redução na moagem, a quantidade de etanol disponível no mercado interno segue crescendo.

Até 09/12, foram emitidos 39,8 mi de Créditos de Descarbonização (CBios) neste ano. Desse total, 28,3 mi de créditos já foram aposentados para atender às metas do Programa RenovaBio, superando o número de títulos necessários para atender integralmente a meta exigida. Os dados são da B3.

O estudo "Cenários de Oferta de Etanol e Demanda do Ciclo Otto: 2025-2034", da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), projeta uma oferta de etanol entre 42,9 bilhões e 54,1 bilhões de litros em 10 anos, com destaque para o etanol de milho, que poderá representar até 32% desse volume em 2034. Além de abordar o potencial da biomassa de cana-de-açúcar para bioeletricidade e biometano, o estudo estima que o uso de biocombustíveis poderá evitar emissões de até 74 MtCO2. Os biocombustíveis possuem um papel estratégico na transição energética e no cumprimento das metas climáticas do Brasil, além de fornecer subsídios para políticas públicas como o RenovaBio e o Combustível do Futuro.

No relatório divulgado pela SCA Brasil, os preços em Ribeirão Preto (SP) – já considerando os impostos – para o hidratado era de R$ 3,17/l; e o anidro em R$ 3,07/l, os mesmos preços das últimas 4 semanas.

Valor do ATR: em novembro, o Açúcar Total Recuperável (ATR), divulgado pelo Consecana, fechou o mês em R$ 1,2294/kg, alta de 4,9%. No histórico da safra atual, os preços mês a mês são: abr/24, R$ 1,1879/kg; mai/24, R$ 1,1684/kg; jun/24, R$ 1,1635; jul/24, R$ 1,1759/kg; ago/24, R$ 1,1730/kg; set/24, R$ 1,1507/kg; out/24, R$ 1,1716/kg; e agora em novembro em R$ 1,2294/kg. No acumulado da safra atual, estamos em R$ 1,1640/kg. Com o término da moagem, a tendência é de alta nos preços até o final da safra. Seguimos com nossa sugestão de preços entre R$ 1,18 e 1,19/kg.
 
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em janeiro na cadeia da cana:

1. Neste início de ano, muitas empresas divulgam seus resultados financeiros e/ou operacionais. Momento de avaliar o desempenho do setor, o que pode indicar segurança para investimentos e o status financeiro, parâmetros que interferem nos gastos com insumos/manejo e, consequentemente, a produtividade.

2.    Seguir avaliando as estimativas de moagem para 2025/26. A mais recente, da Safras e Mercado, indica uma moagem de 608 mi de t. Importante avaliar também o mix de produção, que está fechando 2024/25 em 48,5% para açúcar e 51,5% para o etanol. Com a queda nos preços do açúcar e alta no consumo do etanol hidratado, a tendência é de alta no mix em prol do biocombustível.

3.    Previsão climática para o Centro-Sul do Brasil (que está sendo mais positiva do que o esperado) e em nossos principais concorrentes da Ásia (Índia e Tailândia com chuvas na média e boas previsões; China e áreas da Europa, seguem a mesma tendência). 

4.    No açúcar, seguir avaliando os impactos do aumento da oferta global nos preços. Índia deve permitir até 2 mi de t exportadas em 2025, após proibição dos embarques neste ano. No Brasil, segundo a Archer, 55% da safra já foi fixada pelas usinas; e 10% da safra 2026/27. Avaliar como a valorização do dólar favorece a competitividade do açúcar brasileiro no mercado global; contraponto no mix em prol do açúcar.

5.    Por fim, no etanol, analisar como iniciamos o ano quanto ao consumo, especialmente do hidratado. Na safra atual, o hidratado cresceu 12%, em detrimento da queda do anidro, de 6%. No petróleo, o barril do Crude estava em US$ 70,72 e o Brent em US$ 73,46 no fechamento da nossa coluna; vale lembrar que no 1º semestre de 2024 tivemos preços que ultrapassaram os US$ 90. Será importante avaliar como o início do governo Trump e a menor expectativa de crescimento da economia global afetam estes preços.
 

Autores:

Marcos Fava Neves
é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto - SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto - SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.
 
Fique informado em tempo real! Clique AQUI e entre no canal do Telegram da Agência UDOP de Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não representando,
necessariamente, a opinião e os valores defendidos pela UDOP.