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Preço dos Alimentos: Sem reconhecer origem da alta, governo Lula defende medidas que podem agravar cenário
Publicado em 29/01/2025 às 07h39
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O Governo Federal continua diagnosticando de forma equivocada o atual momento do preços dos alimentos e, enquanto isso acontece, o remédio eficiente para o problema não aparece. Mesmo assim, há quem ainda tente transferir a responsabilidade, cobrando de quem não deveria para tentar arrumar a casa. Nesta terça-feira (28), ventilam as informações de que há uma ala dentro do PT (Partido dos Trabalhadores) defendendo a taxação transitória das exportações do agronegócio. 

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, todavia, afirmou à Folha de S. Paulo que "essa proposta não deve prosperar" e que "o presidente Lula deixou claro que não vai tomar medidas heterodoxas". No entanto, a reportagem lembrou que, em 2022, enquanto deputado federal, Teixeira assinou o projeto de lei que pretendia taxar as exportações de grãos e carnes caso fosse necessário. 

A ala do partido de Lula que defende a taxação das exportações do agronegócio afirma que a lei poderia "forçar o agronegócio a direcionar uma maior fatia da produção ao mercado interno, com impacto imediato sobre os preços", sem saber, talvez, que a comida nas gôndolas dos supermercados brasileiros, respeitando as devidas proporções, é um dos mais acessíveis do mundo, justamente pelo fato de o país liderar globalmente a exportação de diversos itens. Quanto maior o nível de exportações, maior a produção e, consequentemente, a disponibilidade interna. Assim, países importadores têm preços dos alimentos mais altos, enquanto os exportadores, mais baixos. 

Seriam as "retenciones à brasileira". Menos competitividade para o agronegócio brasileiro, custos encarecidos, comida mais cara para a o população. O governo, no entanto, parece não fazer essas contas. Parece não fazer nem ao menos as suas próprias contas para diagnosticar o atual momento de forma correta, que elencoularanja, café, açúcar, óleo de soja e carne como suas principais dores de cabeça agora, como forma de travestir as preocupações crescentes com sua popularidade decaindo. 

O presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) se manifestou nas redes sociais pontuando as incongruências das últimas falas e ações do Governo Federal, que insiste em buscar um culpado, ao invés de entender que a solução estaria em ampliar o incentivo e melhorar o ambiente para quem produz. 

"Que este governo perdeu totalmente a credibilidade, que perdeu completamente a mão em relação à taxa de juros, ao câmbio e, principalmente, com o aumento e o aumento completamente descontrolado dos gastos públicos, isso você já sabe. O resultado disso é inflação, problema na economia, é economia desaquecida e, principalmente, a diminuição do poder de compra da população. Agora, eles querem jogar essa culpa em você", diz. 

Lupion dá sequência à sua fala analisando algumas medidas já ventiladas pelo governo, como a diminuição da tarifação da importação de gêneros alimentícios de outros países. "E quem paga essa conta somos nós, brasileiros, produtores rurais, principalmente, que trabalham muito, que produzem o suficiente para a população brasileira se alimentar e, principalmente, produzem com qualidade". 

O deputado reforça, como também já se manifestaram mais líderes do setor produtivo e político, que o Brasil não sofre um problema de desabastecimento ou algo semelhante, mas que amarga as decisões de um governo que ainda não atua para que o ajuste fiscal seja eficiente o bastante, fazendo com que "a resposta venha para a população brasileira". Do mesmo modo, Lupion critica ainda o cenário em que o produtor rural tem de otimizar sua produção, ainda enfrentando juros elevados, crédito restrito e uma persistente insegurança jurídica. 

"O que nós precisamos é valorizar nossa agricultura, valorizar nosso produtor. Achar maneiras do crédito ser mais barato, de crescer nossa produção, de vencer os gargalos logísticos e, principalmente, fazer com que o produtor consiga produzir cada vez mais, melhor, tendo rentabilidade e continuar tendo competitividade para continuar colocando alimento barato na mesa dos brasileiros", afirma. 

Esta deverá ser mais uma semana de incontáveis reuniões entre ministros do Governo Lula III com foco nesta pauta, reforçada diante da queda de aprovação do presidente de acordo com as últimas pesquisas. De acordo com o levantamento realizado pelo instituto Quaest e encomendado pela Genial Investimentos, a avaliação negativa do governo foi a 37%, ante 31% em dezembro, enquanto aqueles que têm uma visão positiva foram para 31%, em comparação com 33% no mês passado. A avaliação regular teve queda para 28%, ante 34%. A região que registrou a maior queda na avaliação positiva do governo doi o Nordeste, principal reduto eleitoral de Lula. Por lá, a queda na avaliação positiva do Governo Lula foi de 48% para 37% em um mês. 

"O que o governo deveria fazer é cuidar das suas próprias contas (...) Existe sim aumento de preço de produto, existiu há 5, 10, 15, 20, 30 anos, em função das condições do clima, de mais ou menos oferta de determinado produto. Então, não adianta trazer essa conversa para explicar o momento contemporâneo. O momento contemporâneo é causado por uma inflação fora de controle, resultado de gastos desenfreados de um governo incompetente", afirma o cientista político Christian Lohbauer em entrevista ao Notícias Agrícolas. Ele complementa dizendo ainda que não há outra maneira de explicar para o povo o que está acontecendo sem dizer que "isso está acontecendo porque a inflação está fora de controle, essa é a explicação que tem que ser dada". 

E se engana quem pensa que a tarifação sobre as exportações do agronegócio brasileiro estão distantes. Os governos do Pará e do Maranhão já aprovaram novas leis que trazem essas taxas ao setor - no caso do Pará se trata de R$ 4,32 por saca de soja comercializada para a exportação, que responde por mais de 90% do mercado da soja paraense - e agora os setor tenta revertê-las. Caso não seja possível, a legislação entre em vigor em março. 

"Tributar exportações só gera um resultado: a redução das exportações. Olha o que aconteceu com o trigo argentino em todos esses anos. Tributos de exportação fizeram com que o produtor parasse de produzir. Mas, esse pessoal nunca produziu nada vida, eles sempre viveram com o dinheiro dos outros. Então, essas medidas surgem na cabeça deles como se fosse algo muito normal, de ajuste fiscal. Eles estão condenando a produção. O resultado no curto e médio prazo é a redução da produção e exportação, é o crescimento da pobreza", complementa a análise de Lohbauer. 

O Brasil vive um momento de inflação de demanda, além de oferta, e isso é parte do cenário. Precisa ser considerado. "A população acaba recebendo os benefícios do governo, só que não tem toda a capacidade de produzir. E não são só os alimentos, há uma uma metástase de preço na economia. E muitas vezes o preço dos alimentos também sobe porque o valor do salário dos trabalhadores sobe. E como não temos mão de obra qualificada, isso acaba subindo". explica o economista e professor do Insper, Roberto Dumas Damas. "O salário vem subindo além da produtividade do trabalhador". 

Dumas destaca ainda o déficit fiscal do Brasil em 10% do PIB diante do descontrole dos gastos do governo somados a uma ausência de ajuste fiscal, sem contar o impacto no dólar e na taxa Selic, que vai chegar aos 14,25%, pelo menos, como sinalizado na ata do Copom (Comitê de Política Monetária).

"Então, estamos vendo que a economia em 2025 vai crescer no primeiro e segundo trimestres - ponto positivo para o agro -, mas, muito provavelmente, vai entrar em recessão no terceiro e no quarto (...) E esse crescimento é um vôo de galinha. Se crescer, teremos mais problema com a inflação e mais problema com o câmbio. E isso vai estourar em 2026, ano de inflação", complementa o analista. 

O momento foi pauta também no programa Conexão Campo Cidade, na edição desta segunda-feira (27). Antônio da Luz, economista chefe da Farsul, afirmou que não acha que o Governo esteja preocupado com a inflação dos preços dos alimentos, mas sim com as próximas eleições e com a decorrência daquilo que vem criando. Segundo ele, inflação não é o aumento dos alimentos, mas sim uma elevação generalizada dos preços. Isso ocorre há mais de 1.700 anos e atinge também outros setores, como transporte, saúde, serviços, etc.

“A inflação pode ser de oferta ou de demanda. De oferta é quando não tem produto e demanda é quando a gente estimula artificialmente a demanda, como é o caso do Brasil. Logo, atuar na oferta não vai adiantar nada”, explica o economista.

Apesar disso tudo, Lula ainda não entendeu. E por isso deve se reunir com os atacadistas, donos de supermercados e produtores para seguir a discussão nos próximos dias. O presidente declarou sobre as reuniões pelas redes sociais, em um vídeo gravado na Granja do Torto e afirmou também que são feitas "quantas reuniões forem necessárias para tomar as decisões". Ao mesmo tempo, Lula diz que precisa resolver a situação dos preços dos alimentos ou "corremos o risco de viver uma inflação". É preciso agora ter a certeza de que o presidente está no mesmo 28 de janeiro de 2025, como o restante dos brasileiros. 

 
Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas
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