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Sem reajuste de combustíveis, Petrobras renuncia à fatia bilionária do faturamento e pode afetar acionistas
Além dos efeitos diretos no caixa e na cadeia dos produtos, defasagem acentuada dos combustíveis pode levar a ajustes súbitos, o que gera volatilidade nas ações da empresa, dizem analistas
Publicado em 29/01/2025 às 11h44
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João Abdouni, analista da Levante Inside Corp
Após mais de um ano desde o último reajuste do preço do diesel e de seis meses para a gasolina e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o tema da defasagem dos combustíveis voltou a ser pauta. Os rumores são de uma possível correção do diesel, após reunião da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira (27). A proposta de reajuste, no entanto, é de magnitude desconhecida e pode não ser tão relevante para o caixa da empresa que, embora ainda gordo, é menor do que poderia ser devido à defasagem.

Segundo dados recentes divulgados pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para o diesel, a defasagem nos preços está em aproximadamente 17%, enquanto na gasolina fica perto de 7% abaixo dos preços internacionais. “Vale ressaltar que essa defasagem recentemente chegou a 28% para o diesel (17/01/2025) e 16% para a gasolina (16/01/2025), de acordo com a Abicom”, comenta Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Essa disparidade, inclusive, está em níveis históricos, afirma Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). “Ela está em um nível muito elevado. Gosto de falar que, quando chega nos dois dígitos, significa um provável sinal de alerta para a companhia, se ela estivesse seguindo a política de preço da paridade de importação (PPI)”, diz.

Segundo o executivo do CBIE, a política de preços da Petrobras acabou se tornando uma incógnita após o fim da adoção da política do PPI, que considerava as cotações internacionais e o câmbio, em maio de 2023. “Não sabemos como ela é, esse abrasileiramento do preço. Apesar de existir uma regra divulgada pela Petrobras, o fato é que ninguém consegue entender qual é a regra, e as variáveis levadas em consideração são incalculáveis do ponto de vista numérico”, diz Rodrigues, do CBIE. “Se compararmos com a PPI, sim, podemos dizer que a defasagem está muito alta.”

Monique Greco, analista de Óleo e Gás do IBBA, afirma que a defasagem dos combustíveis da Petrobras tem sido um tema frequente de discussão nas interações da instituição com investidores, e que é importante notar que a estratégia comercial da companhia, válida desde maio/2023, não considera apenas a defasagem para o preço de paridade de importação como referência. “A atual política considera uma faixa de referência de preços, que tem como limite superior o preço de paridade de importação, e como limite inferior o valor marginal, que é uma espécie de custo de oportunidade para a Petrobras”, comenta.

Segundo Monique, desde o início dessa estratégia comercial, é a segunda vez que vemos os preços de diesel e gasolina se posicionando fora da faixa de referência de preços.

“Como a estratégia comercial preza pelo não repasse imediato da volatilidade do mercado internacional aos preços domésticos, usualmente vemos que a Petrobras aguarda pela estabilização dessas tendências antes de tomar uma decisão de reajuste”, opina Monique.

O que ocorre com essa defasagem dos preços é que a Petrobras deixa de ganhar um montante extra. “Os custos de produção da companhia seguem parecidos, com a alta do petróleo. Neste sentido, em bases anuais, a Petrobras deve ter R$ 120 bilhões de lucro com a atual política de combustíveis. Em caso da adoção integral do PPI, o lucro da companhia poderia girar entre R$ 135 e R$ 150 bilhões”, calcula João Abdouni, analista da Levante Inside Corp.

A Petrobras extrai 2,2 milhões de barris de petróleo, refina 1,7 milhões de barris, e vende/exporta 500 mil barris de petróleo bruto diariamente, segundo os cálculos de Abdouni. Sem os reajustes nos combustíveis, a companhia acaba abrindo mão de recursos que poderiam ser empregados na própria empresa ou até convertidos, em parte, em benefícios aos acionistas, como na distribuição de proventos.

Lima, da Ouro Preto Investimentos, comenta que essa situação afeta diretamente as ações da Petrobras e, por extensão, o Ibovespa, dado o peso significativo que a companhia tem no índice. “Historicamente, defasagens acentuadas nos preços dos combustíveis podem levar a ajustes súbitos, o que gera volatilidade nas ações da empresa e, consequentemente, no índice”, diz o analista. “Vale lembrar, que a manutenção de preços defasados impacta negativamente a percepção de investidores sobre a governança da estatal e sua capacidade de gerar valor, podendo levar a uma desvalorização das ações.”

Um cálculo que mensure o impacto nas ações, no entanto, é impossível, tendo em vista que existem variáveis como influência política, percepção de risco setorial, cotação futura de petróleo, relação oferta x demanda, dentre outros pontos que não são mensuráveis, lembra Lima.

Os efeitos são muitos, desde a falta de transparência e de previsibilidade que assola o mercado e o próprio consumidor, até o risco de desabastecimento (o intervalo entre o abastecimento dos postos aumentaria). “E o último agente que sofre é a própria Petrobras, na figura do seu acionista minoritário. Vimos na segunda que o presidente Lula fez uma reunião com Magda Chambriard e o ministro Rui Costa e, na minha cabeça, isso vira um absurdo, porque o governo, como agente controlador, não pode usar a companhia a bel-prazer para realizar uma política pública lesando o minoritário, o que está acontecendo”, opina o executivo do CBIE.

A reunião levantou, inclusive, rumores sobre uma possível alteração no preço do diesel, combustível que acumula a maior defasagem. A magnitude do aumento, no entanto, ainda não é conhecida. O tema deve ser pauta da reunião do Conselho de Administração da Petrobras, que estava prevista para esta quarta (29).

“A magnitude do aumento é a pergunta de um bilhão de dólares, porque, como a política de preço é indeterminada, não sabemos dizer se vai aumentar 10%, 5%, 20%, 15%”, opina Rodrigues, do CBIE.

A Petrobras trabalha entre uma banda do PPI e PPE (Preço de Paridade de Exportação). Em tese, na conta da Petrobras, os preços estão muito próximos do limite mínimo do PPE, o que faz com que a empresa precise reajustar, lembra Abdouni, da Levante. “Não é exatamente um problema essa metodologia. Ela não maximiza o lucro, mas deixa a empresa ainda muito rentável”, aponta.
Fonte: Capital Aberto
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