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Incêndios em carros da Tesla reforçam temores da indústria automotiva
Veículos elétricos não têm se mostrado mais propensos a pegar fogo do que carros a gasolina, mas quando se incendeiam, queimam por mais tempo e a temperaturas mais elevadas
Publicado em 28/09/2021 às 08h57
Foto Notícia
Yogi e Carolyn Vindum ainda dormiam quando seu Tesla Model S emitiu um alerta informando que o carregamento da bateria havia sido interrompido, no fim do ano passado. Doze minutos depois, eles foram despertados por um estridente alarme de carro, em meio a um incêndio que consumia sua casa, em San Ramon, Califórnia. O fogo começou em um dos dois veículos elétricos estacionados em sua garagem e avançou para o outro.

"Se vivêssemos no andar de cima dessa casa, estaríamos mortos", afirmou Yogi Vindum, um engenheiro mecânico aposentado.

O incêndio, que não foi relatado anteriormente pela imprensa, é um entre uma série de exemplos recentes que demonstram o que pode acontecer quando carros elétricos ficam parados em garagens para carregar suas baterias durante a noite. O tema causa crescentes preocupações, enquanto vários fabricantes de veículos elétricos têm alertado clientes para não deixar os carros carregando sem supervisão sob certas circunstâncias, nem estacionados com a bateria completa dentro de garagens.

Fabricantes de automóveis, incluindo General Motors, Audi e Hyundai fizeram recalls de veículos elétricos em razão de riscos de incêndio nos anos recentes e alertaram a respeito de perigos associados.

No ano passado, a Chevrolet aconselhou clientes a não deixar seus veículos carregando da noite para o dia e a não manter veículos totalmente carregados dentro de garagens. A empresa fez recall de mais de 60 mil unidades de seus veículos elétricos Bolt em razão de preocupações a respeito de os carros poderem entrar em combustão espontânea se ficarem estacionados com a bateria completa ou enquanto são carregados, após relatos de cinco incêndios ocorridos em veículos sem impactos nem danos anteriores. A empresa realizou um novo recall no mês passado, dos mesmos modelos, após dois relatos de incêndios em baterias de carros que sofreram reparos.

"Não achamos que todos os veículos tenham esse raro defeito de fabricação", afirmou o porta-voz da General Motors, Dan Flores. "Mas não podemos arriscar, então, estamos fazendo o recall de todos os veículos."

A Tesla, que não costuma atender a pedidos de informações da imprensa, não respondeu ao pedido de comentário da reportagem. Um porta-voz da Hyundai, que recentemente fez recall dos carros elétricos Kona e Ioniq - e aconselhou clientes a estacionar os veículos fora de casa - não respondeu a um pedido de comentários. A Audi não comentou imediatamente.

Fabricantes de automóveis enfrentam vários desafios em sua corrida para levar carros elétricos aos consumidores antes dos prazos definidos pelas autoridade e pelas empresas para desviarem seus esforços de produção dos veículos movidos a combustíveis fósseis. Eles enfrentam ceticismo em relação à disponibilidade de postos de carregamento de baterias, preocupações a respeito do alcance dos veículos e apreensão em relação ao preço. Incêndios têm chamado a atenção por causa dos notórios recalls e por ocorrerem logo após o lançamento dos produtos, afirmam analistas, complicando ainda mais as previsões dos fabricantes.

No passado, a Tesla argumentou que seus carros têm dez vezes menos chance de pegar fogo do que veículos a gasolina, com base em dados da Associação Nacional de Proteção contra Incêndios e da Administração Federal de Estradas dos EUA.

Ainda assim, especialistas em segurança notam que os incêndios de veículos elétricos podem ser mais intensos e muito mais duradouros.

"Chamas em baterias podem levar até 24 horas para se extinguir", afirma o website da Tesla no guia para respostas a emergências do Model S. "Considere deixar que a bateria queime enquanto evita se expor."

Donos de Teslas relataram inúmeros incêndios em veículos de modelos mais antigos, mas nem todos sob as mesmas circunstâncias. O Washington Post documentou pelo menos cinco incêndios envolvendo o Model S, incluindo o que destruiu, em 30 de dezembro, grande parte da casa dos Vindums em San Ramon. Yogi Vindum lembra que pelo menos seis caminhões dos bombeiros foram ao seu endereço naquele dia.

Também no fim do ano passado, chamas começaram a consumir um Tesla Model S de cinco anos de fabricação em Frisco, Texas, e os bombeiros tiveram dificuldade para entrar na cabine porque as portas automáticas travaram. Em 2019, a Tesla afirmou que mandou investigadores ao local de uma explosão que envolveu um Model S em um estacionamento de Xangai. Uma câmera de segurança registrou fumaça saindo do carro estacionado antes de uma explosão de fogo. Em 2018, um Tesla Model S pegou fogo "do nada" em uma rua de Los Angeles, afirmou a atriz Mary McCormack, cujo marido era dono do veículo. A Tesla reconheceu que as chamas se originaram na bateria.

No fim de junho, um Tesla Model S "Plaid", modelo de topo de linha, novo em folha, foi destruído por chamas pouco após o proprietário receber o veículo.

Enquanto isso, a Administração Nacional para Segurança de Tráfego em Estradas (NHTSA) investiga o sistema de gerenciamento de baterias da Tesla desde 2019. A agência afirmou na terça-feira que não comenta investigações em andamento.

A Tesla foi investigada a respeito de suspeitas de que teria manipulado softwares que controlam baterias em veículos mais antigos para diminuir o risco de incêndios. A empresa propôs um acordo para encerrar o caso, e Elon Musk tuitou, "Se estamos errados, estamos errados. Nesse caso, erramos".

A NHTSA abriu investigação a respeito dos incêndios nos Chevrolet Bolt em outubro de 2020, antes do primeiro recall desse veículo.

Veículos elétricos não têm se mostrado mais propensos a pegar fogo do que carros a gasolina, mas quando se incendeiam, queimam por mais tempo e a temperaturas mais elevadas, com chamas superalimentadas pelas baterias de lítio, afirmam especialistas. A Associação Nacional de Proteção contra Incêndios informa que, incluindo carros a gasolina, houve 189,5 mil incêndios de veículos em estradas nos EUA em 2019, entre veículos de passageiros e de outros tipos.

O caso que envolve os carros dos Vindums é peculiar porque envolveu dois carros elétricos estacionados lado a lado em uma garagem, o que demonstra a força explosiva que pode se desprender quando esses veículos se incendeiam.

Um relatório pericial do incêndio, obtido pelos Vindums em julho, apontou o sistema de gerenciamento térmico do Tesla Model S como uma entre duas possíveis causas para as chamas, a segunda poderia ser uma falha no sistema elétrico do carro durante o carregamento da bateria.

A Tesla não respondeu a um pedido de comentário a respeito de detalhes do caso dos Vindums, que incluiu um curto relato dos eventos e a visão dos Vindums a respeito da resposta da Tesla ao incêndio.

Yogi Vindum, que se descreveu como um fã da Tesla, não ouviu o primeiro alerta em seu iPhone, às 5h25. Na garagem, onde o Tesla Model S 85 fabricado em 2013 tinha passado a noite carregando a bateria, começou um incêndio que se espalhou rapidamente. O outro Tesla Model S estava estacionado ao lado. A garagem foi tomada pelas chamas, e explosões poderosas arrancaram as portas metálicas, afirmaram eles.

Um estridente alarme de carro os despertou. A casa estava repleta de fumaça, e alarmes disparavam enquanto eles escapavam, afirmou ele.

Do lado oposto da rua, os Vindums viram sua casa ser consumida pelas chamas. A câmera de uma residência vizinha registrou o barulho das explosões.

Os Vindums não puderam voltar para casa desde o incêndio de 30 de dezembro, que resultou num prejuízo de mais de US$ 1 milhão, de acordo com um relatório do Departamento de Bombeiros de San Ramon Valley a que o Post teve acesso.

"Os bombeiros afirmaram que o calor era tão intenso na frente da casa que eles não conseguiam entrar", afirmou Vindum.

Vindum acabou substituindo os Teslas por um Audi a gasolina com o valor do seguro, que cobriu os valores de tabela dos carros. Ele ficou desapontado, segundo afirmou, com o que descreveu como uma falta de interesse da Tesla após o incêndio. As carcaças carbonizadas dos carros permaneceram na entrada da casa por semanas "esperando que a Tesla viesse ver o que houve de errado".

"Eles nunca apareceram, pelo que sei", afirmou Vindum.

O fogo em sua casa mudou a perspectiva dele a respeito do risco singular que incêndios em veículos representam para donos de carros elétricos.

"Carros a gasolina não pegam fogo na garagem enquanto estão estacionados. E essa é a diferença", afirmou ele. "Não me preocupo que Audi possa pegar fogo lá embaixo, quando está parado." / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL


Faiz Siddiqui
Fonte: The Washington Post
Texto extraído do portal O Estado de S. Paulo
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