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Chuvas de outubro deverão reduzir ATR no Centro-Sul - Por: Mauricio Muruci
Modelos mais recentes de ATR relativos a primeira metade de setembro já apresentam reduções moderadas na qualidade da cana antes mesmo das chuvas que serão vistas ao longo dos meses de outubro, novembro e dezembro nos canaviais do Centro-Sul do Brasil
Publicado em 03/10/2023 às 09h28
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O mais recente relatório quinzenal da Unica com dados da primeira metade de outubro trouxe uma importante informação sobre a qualidade da cana que tem sido observada não somente ao longo desta safra, mas nas quinzenas mais recentes. Desde o início da safra corrente 2023/24 o mercado tem observado um nível menor de ATR em relação a safra anterior. Isto já tinha levantado claras preocupações quanto a capacidade de recuperação e a capacidade de manutenção dos níveis recentes de ATR que, mesmo abaixo da safra passada, eram em parte compensados por uma quantidade maior de cana esperada para esta temporada corrente.

Porém alguns problemas têm surgido no decorrer da safra. Primeiro é relativo a quase incapacidade dos níveis de ATR vistos até aqui conseguirem se fortalecer ao ponto de superar os da safra anterior de forma consistente. Segundo é relativo a tendência de redução destes níveis mais fracos de ATR em função das chuvas que devem ser vistas a partir de outubro. Terceiro é em função do atraso na moagem e do término antecipado da safra com a incidências destas mesmas chuvas que, além de reduzir o ATR também reduzem a quantidade de cana disponível para a moagem. Logo, a SAFRAS & Mercado alerta que nem mesmo o único alento produtivo em relação ao ATR fraco [que é a quantidade maior de cana] poderá ser visto no decorrer desta fase final da safra corrente 2023/24.

Desde o final de junho a SAFRAS & Mercado vem alertando neste mesmo espaço e em seu serviço de consultoria em reuniões diretas com as usinas sobre a incidências de chuvas fortes a partir de outubro que se prolongariam por novembro de dezembro. É sempre importante contextualizar que a estação de chuvas no Centro-Sul começa historicamente no início de novembro [quando muito antecipada na última semana de outubro]. Porém, nesta temporada 2023/24 as chuvas nos canaviais do Centro-Sul já eram observadas na quarta e última semana de setembro, com pouco mais de um mês de antecipação. Como este ano temos a incidência do El Niño, é fácil saber em quem colocar a culpa.

O resultado prático dela em um primeiro momento é o atraso na moagem de cana e a redução das atividades de colheita. Porém, assim que outubro se desenvolver, as chuvas deverão se aprofundar. Ainda na segunda-feira pela manhã o serviço de consultoria da SAFRAS & Mercado já colocou na plataforma SAFRAS o seu relatório semanal de mapas de chuvas mostrando que a primeira semana do mês deverá ser um período de precipitações moderadas mas constantes ao longo de toda a semana as quais de intensificarão na segunda e na terceira semana do mês, o que acaba confirmando as nossas expectativas de médio prazo também nos mapas de curto prazo.

Voltando ao ATR, vemos que os dados da Unica relativos a primeira semana de setembro mostraram níveis de ATR na faixa de Kg/ton 153,27. Este nível de ATR se mostrou 3,31% mais baixo que o padrão do mesmo momento do ano anterior em Kg/ton 158,52. Na margem, frente a quinzena imediatamente anterior temos uma baixa mais moderada, mas ainda sim presente ao redor de 0,43% contra o nível de Kg/ton 153,93 da segunda metade de agosto. Porém, a SAFRAS & Mercado chama a atenção sobre a média histórica do ATR. Isto porque frente a média dos últimos 5 anos para o mesmo período [primeira metade de setembro] o ATR atual apresenta uma defasagem de 1,76%.

Isto denota que a desaceleração dos níveis atuais de ATR não ocorre somente porque a safra anterior fora uma safra impactada por uma escassez de chuvas que provocou naturais níveis de concentração de ATR da temporada anterior. Isto sim explica parte da queda do ATR desta safra, mas, quando comparado com a média histórica vemos que o problema não está apenas correlacionado com a safra passada, e sim com o um nível baixo de ATR da cana como um todo. Isto ocorre mesmo com a queda da média de 5 anos do ATR no curto prazo na faixa de 1,26% entre a segunda metade de agosto e a primeira de setembro.

Ou seja, mesmo com uma queda de 1,26% na própria média de 5 anos de ATR o próprio nível de ATR da primeira metade de setembro apresentou um nível de defasagem muito elevado em 1,76%. Apesar disto temos alguns pontos positivos, visto que, se compararmos o ATR atual em Kg/ton 153,27 com o padrão da média geral da safra temos uma alta acumulada de 13,92% contra a faixa de Kg/ton 134,54. A própria média da safra apresentou uma variação positiva de 1,41% ao sair de Kg/ton 132,66 para Kg/ton 134,53 entre a segunda metade de agosto e a primeira de setembro.

É claro que isto aconteceu porque o padrão do ATR tem se mantido acima de Kg/ton 153 por suas quinzenas consecutivas até o momento [na segunda metade de agosto e mais recentemente na primeira de setembro] o que ajuda a elevar a média geral da safra no padrão que estamos observando diante dos números recordes da temporada que estamos vendo até o momento. Ainda assim a SAFRAS & Mercado alerta que isto ocorre pelo período prolongado de falta de chuvas de médio prazo que tem sido visto desde o início da segunda metade de junho.

De lá até o início da quarta e última semana de setembro os canaviais têm encontrado um clima seco, que beneficia muito o desenvolvimento da safra corrente 2023/24 além de possibilitar uma concentração dos níveis de ATR desta temporada sendo o motivo pelo qual os padrões atuais se mostram nos níveis recordes para a safra. Porém, como mencionamos no início deste relatório, as chuvas que se desenvolvem sobre os canaviais do Centro-Sul para os meses de outubro, novembro e dezembro [as quais já começaram na quarta e última semana de setembro] devem provocar uma inversão forte nesta curva de crescimento dos níveis de ATR que, quando comparamos com a evolução na margem [-0,43% entre a segunda metade de agosto e a primeira de setembro] até mesmo já começou.

Com isto a expectativa da SAFRA & Mercado é que os níveis de ATR do Centro-Sul que atualmente oscilam acima de Kg/ton 153,00 devem recuar para padrões na base dos Kg/ton 150 nas próximas três quinzenas e na faixa dos Kg/ton 148 a Kg/ton 145 até o final da temporada. Isto vai resultar em uma redução ainda mais dos padrões de ATR desta temporada em relação a safra anterior além de ser agravado pelo problema de interrupções e atrasos na moagem de cana da temporada atual que será prejudicada pelas chuvas no Centro-Sul. Logo, a região não poderá contar nem mesmo com o alento de uma quantidade maior de cana para compensar a queda no ATR a partir dos dados de produção da segunda metade de setembro e principalmente dos dados de outubro em diante.

Olhando para os dados de moagem de cana como um todo observamos que um breve alento na capacidade de oferta de açúcar para a safra atual vem pelo lado dos níveis de mix de produção que, por três quinzenas consecutivas vêm se mantendo acima de 50% para o açúcar, o que é muito raro no setor. É padrão que a produção de etanol mantenha sempre a primazia no mix de produção e sempre com um conforto em relação ao açúcar. Além disso vemos que os dados de produção de cana apresentam níveis de desaceleração na margem desde a primeira metade de agosto quando até então os níveis de moagem haviam recuado 9,70%. De lá para cá estes padrões de queda deram lugar a baixas respectivas de 3,16% na segunda metade de agosto e agora mais recentemente de 10,07% na primeira metade de setembro. Isto mostra que a desaceleração na moagem de cana já se mostra presente na safra corrente 2023/24 do Centro-Sul mesmo antes das chuvas de outubro atingirem estes canaviais, o que tende a agravar ainda mais as questões do ATR indicadas pela SAFRAS & Mercado neste relatório.
Mauricio Muruci
Analista pela Safras & Mercado, atua há 12 anos em análise econômica e de mercados agrícolas. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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