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Pioneira em etanol de milho no país, FS diversifica na exportação
Empresa de capital brasileiro e americano deu seu primeiro passo no comércio internacional de DDG com o embarque de três lotes para a Indonésia
Publicado em 15/07/2024 às 09h39
Foto Notícia
Brian Mike, gerente de vendas: FS adiou exportação para ter produção em escala para atender clientes interancionais
Foto: Divulgação
Pioneira na produção de etanol de milho no Brasil, a FS Fueling Sustainability, de capital americano e brasileiro, deu seu primeiro passo no comércio internacional de grãos secos de destilaria (DDG na sigla em inglês). Neste ano, já foram embarcados três pequenos lotes para a Indonésia.

O DDG é um coproduto da fabricação de etanol a partir do milho e é usado na ração animal. Segundo Brian Mike, gerente de vendas dos produtos de nutrição animal, a companhia já comercializa o DDG (ou farelo de milho) no Brasil, mas adiou o início das exportações porque precisava aumentar a produção a fim de ter escala para atender os clientes estrangeiros.

O plano inicial é exportar de 10% a 12% da produção anual, que hoje é de 1,8 milhão de toneladas.

O Brasil já exporta DDG desde 2021, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem). Mas, até 2023, os embarques dos grãos secos destilados com solúveis (DDGS) eram feitos exclusivamente pela Inpasa, que tem três usinas.

A FS tem três unidades — em Lucas do Rio Verde, Sorriso e Primavera do Leste — todas em Mato Grosso, e capacidade total de moer 5,1 milhões de toneladas de milho por ano. A empresa, que teve receita de R$ 7,6 bilhões na safra 2022/23, planeja construir mais três plantas no Estado, em Querência, Campos Novos e Nova Mutum.

A expansão visa dobrar a produção de etanol em 2026 para 5 bilhões de litros e chegar a 4 milhões de toneladas de DDG.

Segundo a companhia, os terrenos foram comprados e as licenças de construção já foram expedidas. Mas a FS não revela o valor do investimento. Como no caso das unidades já existentes, as cidades foram escolhidas para receberem as novas unidades por estarem a uma distância média de 150 km dos principais fornecedores de milho.

O diretor comercial da FS, Victor Trenti, afirma que além de elevar a produção do insumo, a empresa também investiu em tecnologia para desenvolver um DDG premium voltado à exportação, o HPDDG (DDG com alta proteína), com 53,7% de Profat — taxa de proteína bruta combinada com a taxa de gordura.

"O HPDDG é um produto novo, que garante uma redução de custos de 15% em relação ao farelo de soja. Além de atender à demanda crescente do mercado brasileiro, achamos importante exportar o farelo porque a produção vai crescer muito”, diz Mike.

Segundo ele, a FS é a primeira empresa brasileira a utilizar a tecnologia da americana ICM de separação das fibras para a produção de três diferentes produtos para nutrição animal. Além do HPDDG, produz os grãos de destilaria FS Ouro (farelo de milho seco com solúveis) e o FS úmido (farelo de milho úmido com solúveis).

Os produtos são vendidos a criadores de bovinos, suínos, aves, tilápias e pets. Um grande cliente é a unidade de aves e suínos da BRF em Lucas do Rio Verde, que usa há seis anos o DDG nas rações distribuídas para seus produtores integrados.

Segundo Jordana Tonial, coordenadora de gestão da unidade da BRF, as vantagens do DDG em relação a outros componentes da ração, como o farelo de soja, são uma conversão alimentar maior e mais digestibilidade pelos animais.

A planta de Lucas do Rio Verde recebe 12,5 mil toneladas de milho por dia em seus três armazéns. Antes de entrar nos armazéns, o milho passa por um monitoramento de umidade, pragas e avarias. A indústria tem capacidade de produzir 619 milhões de litros de etanol por ano e 449 mil toneladas de farelo. Já a unidade de Primavera do Leste produz 672 milhões de litros de etanol e 528 mil toneladas de DDG.

A maior unidade da FS, inaugurada em 2020, fica em Sorriso, e tem capacidade de produção de 982 milhões de litros de etanol e 837 mil toneladas de DDG.

A companhia é resultado de uma joint venture entre a americana Summit Agricultural Group — que tem em seu guarda-chuva a segunda maior usina de etanol de milho dos Estados Unidos — e a Tapajós Participações, do empresário e agropecuarista Marino Franz, de Lucas do Rio Verde.

Grande produtor de milho, soja, algodão, gado, suínos e aves em Mato Grosso, Marino Franz foi a Iowa, nos EUA, em 2015, tentar convencer os americanos a investirem na produção do etanol usando a oferta da segunda safra de milho mato-grossense. E conseguiu.

Além dos planos para elevar a sua capacidade de produção de etanol e DDG, a FS tem dois novos projetos em desenvolvimento para aumentar a sustentabilidade da produção do biocombustível em suas unidades.

O mais disruptivo prevê injetar o gás carbônico resultante do processo de produção em poço de até 2 quilômetros de profundidade, para tornar a empresa a maior produtora de etanol líquido do mundo com pegada de carbono negativa. O outro prevê o uso de bambu como biomassa na operação.

Sustentabilidade

O projeto de captura de carbono, chamado Beccs (Bioenergy with Carbon Capture and Storage ou Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono), está em andamento na unidade de Lucas do Rio Verde há 18 meses. O plano é injetar no solo 423 mil toneladas de gás carbônico ao ano (equivalente à emissão atual de carbono das três unidades) de forma líquida por 50 anos.

No total, serão 12 milhões de toneladas de carbono estocadas no subsolo. A estratégia é considerada uma das soluções para a mitigação do aquecimento global.

Segundo Dirceu Turco, gerente industrial da planta de Lucas do Rio Verde, esse projeto vai trazer para a FS um alinhamento com a estratégia de sustentabilidade alinhada com o propósito de transição energética. O CO² é gerado no processo fermentativo do etanol, mas esse gás não tem nenhuma destinação atualmente. Ele é lavado e retirado do etanol.

“Nossa tecnologia para inserção do CO² na atmosfera visa pressurizar com compressores a uma pressão suficiente para alcançar 2 quilômetros de profundidade e estocar o gás numa rocha porosa, com outra rocha acima de proteção, garantindo uma selagem desse carbono no solo e evitando a sua volta para a atmosfera ou qualquer contaminação de aquíferos.”

O gerente afirma que testes geológicos já comprovaram há dois meses que há porosidade suficiente nas rochas da planta de Lucas do Rio Verde para absorver o CO². Já a unidade de Primavera do Leste não tem essa condição. Um poço já foi aberto ao lado do buraco para monitorar a inserção do gás.

Mas falta a regulamentação no Brasil dessa tecnologia que já é usada em indústrias de etanol americanas.

“Os processos estão em andamento e a FS como protagonista está trabalhando com os órgãos reguladores do Brasil para desenvolver. Logo em breve, começamos a implantar. Acreditamos que no final deste ano ou início de 2025 começaremos as aquisições para entrar em operação em 18 meses”, diz Turco.

Em maio, a empresa anunciou que o investimento anunciado para construir a planta do Beccs é de R$ R$ 360 milhões, além dos R$ 100 milhões aplicados nos estudos.

Bambu para biomassa

Para elevar a disponibilidade de biomassa, considerado o principal gargalo para a expansão do setor de etanol de milho, a FS plantou 5 mil hectares de bambu como teste-piloto em uma fazenda em Nova Mutum (MT) ao lado de uma floresta de 5 mil hectares de eucalipto.

No Estado, a empresa tem uma área plantada de 40 mil hectares de eucalipto e 15 mil de bambu e planeja avançar para 80 mil e 20 mil hectares, respectivamente.

Com corte a cada dois anos, o bambu oferece vantagens competitivas na comparação com o eucalipto, que demanda seis a sete anos para o corte. Entre as vantagens está o custo 20% menor, mais resistência à seca, e várias rebrotas — ou seja, o bambu não precisa de nova muda após o corte e produz até 50 anos.

Mas, por ser uma tecnologia nova e ter pouca pesquisa na comparação com os 100 anos do eucalipto, é considerado um plantio de risco. O maior desafio, segundo Leonardo Pacheco, gerente executivo de biomassa, é como dominar a técnica da colheita de bambu.

Há três meses, a indústria comprou uma automotriz alemã que está sendo testada na colheita. Ela colhe, pica e já transforma o bambu em cavaco, pronto para virar matriz energética na usina. Se a tecnologia da máquina for validada, o plano é comprar mais quatro unidades e aposentar o equipamento usado hoje, um feller da colheita de eucalipto com o arraste substituído por uma pá carregadeira.

Hoje, o custo de produção de 1 m³ de bambu com essa adaptação é de R$ 45. Com a máquina alemã, o custo cai para R$ 28 por m³.
Eliane Silva
Fonte: Globo Rural
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