União Nacional da Bioenergia

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Calmaria adiante - Por Arnaldo Luiz Corrêa
Publicado em 28/10/2024 às 09h10
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O mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou a semana com o contrato de março/25 cotado a 22,10 centavos de dólar por libra-peso, registrando uma leve queda de 4 pontos em relação à semana anterior. Os vencimentos da safra 2025/26 do Centro-Sul, que compreendem os contratos de maio/25 a março/26, permaneceram praticamente estáveis. No geral, o mercado apresenta um cenário de calmaria, sem novidades relevantes no horizonte imediato, sugerindo que estamos entrando em um período de estabilidade que pode se prolongar nas próximas semanas.

A movimentação dos fundos especulativos trouxe um elemento de destaque. Esses agentes reduziram quase 40% de suas posições compradas. Segundo o relatório Commitment of Traders (COT), divulgado pela Commodity Futures Trading Commission (CFTC), com base nas posições da última terça-feira, os fundos mantinham 31.303 contratos em posição comprada. Essa redução indica que os especuladores estão assumindo uma postura mais cautelosa diante da ausência de novos fatores que poderiam influenciar os preços no curto prazo.

No campo da produção, os dados da UNICA publicados na última quinta-feira afastaram os temores de uma "morte súbita" da safra, que havia sido amplamente discutida em meses anteriores. A previsão atual sugere que a safra deve alcançar entre 595 e 605 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, um número que reflete o consenso entre os participantes do mercado. Com isso, eliminou-se a possibilidade de uma pressão altista significativa nos preços antes do início da próxima safra. No entanto, os spreads continuam mostrando firmeza, sinalizando que os agentes de mercado esperam atrasos no início da safra 2025/26.

Durante o tradicional evento da Canaplan realizado em Ribeirão Preto, foram divulgadas projeções iniciais para a próxima safra no Centro-Sul. Essas projeções consideram um leve aumento na área total de plantio de cana, uma redução na área de colheita – com o fim da cana bisada e maior uso de mudas para renovação dos canaviais –, além de um envelhecimento do canavial, o que pode impactar na produtividade. Outra informação relevante é a estimativa de que a moagem deve começar mais tarde, possivelmente em abril ou maio de 2025. Diante dessas variáveis, a Canaplan prevê uma safra entre 566,3 e 577,5 milhões de toneladas de cana, o que, se confirmado, poderá dar suporte a um viés altista nos preços do açúcar.

O cenário internacional também reforça a importância do açúcar brasileiro no mercado global. A Índia, um dos principais produtores mundiais, enfrenta desafios na produção e exportação do açúcar. A expansão de área agrícola no país é incerta, devido a fatores como a oscilação nos preços de grãos e outras commodities agrícolas. Ao mesmo tempo, o consumo doméstico de açúcar na Índia cresce mais rapidamente do que a produção, o que pode levar o país a se tornar um importador líquido de açúcar nos próximos três a quatro anos. Esse desequilíbrio poderá gerar um gargalo entre oferta e demanda globais, fortalecendo a posição do Brasil como fornecedor essencial no mercado internacional. A dependência excessiva de um grande fornecedor traz volatilidade aos preços.

A valorização do dólar frente ao real também impactou o mercado durante a semana, com uma alta de 0,33%. O contrato de março/25 em Nova York, convertido para reais por tonelada, aproximou-se dos R$ 3.000, o que motivou diversas usinas a revisarem seus estoques para verificar se ainda há açúcar disponível para comercializar até o final do ano, considerando que boa parte da produção já está fixada e comprometida. Essa movimentação é uma tentativa de aproveitar a alta nos preços e garantir receitas adicionais no curto prazo.

No mercado de petróleo, os preços permanecem relativamente estáveis, com o WTI sendo negociado a 72 dólares por barril e o Brent um pouco acima dos 76 dólares. Esse cenário abre margem para que a Petrobras possa ajustar o preço da gasolina em até 17 centavos por litro. No entanto, como parte dessa diferença se deve à volatilidade cambial, não há expectativas de correções nos preços dos combustíveis no curto prazo.

Os dados operacionais da safra em andamento confirmam uma boa performance até o momento. Na primeira quinzena de outubro, foram processadas 33,8 milhões de toneladas de cana, um volume 2,75% superior ao mesmo período do ano anterior. A produção de açúcar totalizou 2,4 milhões de toneladas, um aumento de 8% em relação ao mesmo período do ano passado. Já a produção de etanol anidro registrou um crescimento expressivo de 14,63%. A qualidade da cana também apresentou melhora significativa, com o ATR registrando uma alta de 10%. Apesar disso, o mix de produção voltado para o açúcar foi ligeiramente reduzido, passando de 48,12% no mesmo período do ano passado para 47,28% nesta quinzena.

No acumulado da safra até o momento, foram processadas 538,85 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e a produção de açúcar alcançou 35,59 milhões de toneladas. A produção de etanol anidro foi de 9,815 bilhões de litros, representando uma queda de quase 5% em relação ao ano anterior. Por outro lado, a produção de etanol hidratado apresentou um crescimento significativo, atingindo 17,391 bilhões de litros, um aumento de 16,81%. A ATR acumulada chegou a 142,23 kg por tonelada de cana, refletindo a boa qualidade da safra. O mix de produção está relativamente equilibrado, com 48,74% da cana destinada à produção de açúcar e 51,26% voltada para o etanol

Análise técnica (por Marcelo Moreira): O contrato de março/25 fechou a 22,14 centavos de dólar por libra-peso, próximo à média móvel de 9 dias, que está em 22,16 centavos de dólar por libra-peso. No curto prazo, as resistências estão em 23,00 / 23,33 / 24,47 centavos de dólar por libra-peso, enquanto os suportes importantes se encontram em 21,00 / 20,69 / 20,19 centavos de dólar por libra-peso. O mercado permanece invertido até o próximo vencimento em outubro/25! É importante ficar de olho no spread “julho/25 x outubro/25”, que também segue invertido, em -22 pontos.
Arnaldo Luiz Corrêa
Gerente de Riscos do mercado de commodities agrícolas, é o diretor da Archer Consulting. Graduado em Administração, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV.
Fonte: Archer Consulting
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