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Plano estratégico da Petrobras gera dúvidas entre analistas
Publicado em 27/11/2023 às 12h07
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O primeiro plano estratégico da Petrobras com ênfase maior na transição energética foi bem recebido por analistas e especialistas, mas há dúvidas sobre se a estratégia vai ser bem-sucedida. O maior volume de investimentos na descarbonização é inédito e preocupa parte do mercado, que olha para o retorno dos projetos a curto e médio e prazos. Ao mesmo tempo, o plano reduz proporcionalmente os investimentos na exploração e produção (E&P) de petróleo e gás, principal negócio, e que garante a forte geração de caixa da companhia.

Os planos anteriores já previam aportes na descarbonização, mas esta edição do plano estratégico é o primeiro da atual gestão da companhia, que sempre indicou que teria mais assertividade na transição energética, a ponto de criar uma diretoria específica para este fim. O plano 2024-2028 da Petrobras prevê investimentos de US$ 102 bilhões (R$ 500 bilhões) entre 2024 e 2028, 31% acima do projetado pelo atual (2023-2027). Uma das novidades é a realização de 11% do investimento total, ou US$ 11,5 bilhões em projetos de baixo carbono, quase o triplo dos US$ 4,4 bilhões do plano atual.

O plano inclui iniciativas de geração eólica e solar, nas quais a empresa projeta aportar US$ 5,2 bilhões. "Vamos fazer transição energética de forma gradual, responsável, sem abrir mão da produção de petróleo", disse o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Na visão do BTG Pactual, o novo plano marca uma mudança estratégica, enfatizando o crescimento além do seu negócio principal, após anos de desinvestimentos e foco em E&P, sem interferir na sua perspectiva otimista para a empresa. "Esta estratégia parece abaixo da média para a criação de valor de longo prazo, uma vez que, historicamente, a diversificação da carteira muitas vezes não conseguiu produzir retornos adequados", escreveram os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, em relatório.

A XP Investimentos também avalia que o plano veio ligeiramente pior em relação ao anterior, que previa menos investimentos e mais dividendos. A casa encara com cautela o espaço para fusões e aquisições. "Se esse resultado for confirmado, o mercado poderá reagir negativamente", dizem André Vidal e Helena Kelm em relatório.

Para uma fonte do setor, os investimentos mais expressivos em projetos de energias renováveis é um passo inicial para se ganhar conhecimento, porém, segue na contramão de petroleiras que mudaram o rumo por causa da menor rentabilidade desses ativos. A fonte destaca que companhias europeias reduziram a aposta nesses projetos, especialmente de eólicas offshore, por causa da baixa rentabilidade. Ao mesmo tempo, empresas americanas aumentaram os investimentos em projetos de captura e armazenamento de carbono. "A arte vai estar na dosagem [dos investimentos]", disse.

Edmar de Almeida, pesquisador e professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, avalia que o maior volume de investimentos pela companhia é natural nas atuais circunstâncias e está dentro da capacidade da estatal. Para ele, os números não indicam uma guinada na condução da empresa, que ainda tem a maior parte dos recursos destinada para projetos de exploração e produção (E&P). No plano, a Petrobras direcionou US$ 73 bilhões para E&P.

"Vamos fazer a transição energética de forma responsável" --- Jean Paul Prates

Percentualmente, o valor para os próximos cinco anos é 72% dos aportes totais, mas menor do que os 83% do atual plano (US$ 64 bilhões). Porém, em termos nominais, o volume é 12% superior ao do plano 2023-2027. Porém, para Almeida, ainda não está claro se o aumento nominal corresponde à inflação de custos ou se é real. Para o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), chama a atenção o aumento da participação do pré-sal nas operações da companhia durante o período, ainda que a produção projetada ainda se mantenha a mesma ante o atual plano.

Também saltou aos olhos do CBIE a previsão de expansão do parque de refino em 515 mil barris por dia, contra redução de 700 mil barris/dia pelo plano 2023-2027.

Magda Chambriard, especialista da FGV Energia e ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), satisfazem os investimentos maiores nos próximos cinco anos, mas longe do estimado em tempos anteriores. Ela ressaltou a falta de destino para o polo Bahia-Terra, de cuja venda a Petrobras desistiu, mas sem sinalização do que fará com o ativo. Outro ponto é a falta de maior detalhamento para a área de gás, que apesar de investimento 475% superior ao previsto no atual plano, ainda está aquém dos investimentos transversais em baixo carbono. "Nós queremos mesmo investir em gás?", questiona Chambriard.

Entre os bancos, alguns analistas sustentam que a estatal dá continuidade ao que vinha sendo anunciado, enquanto outros observam aparente mudança na visão estratégica. Gabriel Barra e Andrés Cardona, do Citi, afirmam em relatório que já era esperado aumento de investimentos em renováveis, pois a Petrobras anunciou várias parcerias. Além disso, o banco considera positiva a inclusão no plano de potenciais fusões e aquisições.

O Santander destaca que a produção prevista para 2024 aumentou 5%, enquanto os investimentos na área foram mantidos em US$ 18 bilhões, movimento que deve apoiar forte geração de caixa e distribuição de dividendos no curto prazo.
Fonte: Valor Econômico
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