União Nacional da Bioenergia

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A agrônoma tcheca que revolucionou a agricultura brasileira em 1960 -- e ´fixou´ sua marca no solo
Johanna Döbereiner desenvolveu a fixação biológica de nitrogênio (FBN), técnica essencial para o cultivo de soja e cana-de-açúcar, duas das principais commodities que o país produz
Publicado em 16/09/2024 às 11h09
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(Embrapa/Divulgação)
Uma das grandes inovações para a agricultura brasileira vem da antiga Tchecoslováquia e chegou ao país em 1960. Trazida pela engenheira agrônoma, Johanna Döbereiner, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) é uma técnica essencial para o cultivo de soja e cana-de-açúcar, duas das principais commodities que o Brasil produz.

Na década de 1960, em um período em que a agricultura brasileira ainda estava em fase de modernização, Döbereiner iniciou seus estudos sobre a fixação biológica de nitrogênio, uma alternativa sustentável ao uso de fertilizantes químicos.

A fixação biológica de nitrogênio é um processo natural em que o nitrogênio da atmosfera (N?) é transformado em uma forma que pode ser utilizada por plantas e outros organismos vivos, como os seres humanos – o processo é realizado por certos tipos de bactérias, que podem ser encontradas no solo ou em simbiose com as raízes de algumas plantas.

Dessa forma, a FBN permite que algumas plantas, especialmente oleaginosas como a soja, capturem o nitrogênio do ar e o utilizem diretamente no solo, reduzindo a necessidade de adubos nitrogenados.

"O programa brasileiro de melhora­mento da soja desenvolveu-se no sentido inverso ao da orientação dos EUA, que elaborava tecnologias de produção apoiadas no uso intensivo de adubos nitrogenadas. Os estudos da Dra. Johanna permitiram que a fixação do nitrogênio pelas plantas fosse feita pela bactéria rhizobium. Dessa forma, a soja gerava seu próprio adubo", disse a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Graças ao trabalho de Döbereiner, o Brasil se tornou líder na aplicação dessa técnica, que hoje é fundamental para o cultivo de soja – uma das principais commodities exportadas pelo país e da qual o Brasil é maior produtor mundial.

A expectativa é de que o Brasil produza 169 milhões de toneladas do grão na safra 2024/25, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Cana-de-açúcar e o etanol

A cana-de-açúcar é outro produto agrícola que também foi beneficiado pela pesquisa da agrônoma. Suas contribuições foram vitais para o desenvolvimento do Proálcool, o programa nacional que promoveu o uso de etanol como biocombustível no Brasil.

O Proálcool surgiu no contexto da crise do petróleo dos anos 1970, quando os preços do petróleo subiram drasticamente e a dependência do Brasil em relação aos combustíveis fósseis tornou-se uma preocupação.

Nessa época, o país buscava maneiras de reduzir sua vulnerabilidade às flutuações dos preços do petróleo e promover uma forma de energia mais sustentável e renovável. Atualmente, o Brasil é um dos principais produtores de biocombustível do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e Indonésia.

Um dos desdobramentos mais recentes do Proálcool foi a aprovação do PL Combustível do Futuro. A nova legislação, que altera os percentuais de mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel, também traz incentivos ao diesel verde e ao combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês).

O projeto aprovado pela Câmara estabelece que o percentual de mistura de etanol na gasolina será fixado em 27%, com o Poder Executivo podendo ajustá-lo entre 22% e 35%, de acordo com as condições de mercado – atualmente, a mistura pode chegar a 27,5%, com um mínimo de 18%.

No caso do biodiesel, a mistura atual de 14%, que está em vigor desde março deste ano, será aumentada gradualmente a partir de 2025, com acréscimos de 1 ponto percentual ao ano, até atingir 20% em 2030

O avanço das técnicas agrícolas lideradas por Döbereiner resultou em ganhos significativos de produtividade, fazendo do Brasil um dos maiores produtores e exportadores de soja e etanol do mundo.

Ao longo de sua carreira, Döbereiner foi amplamente reconhecida por suas contribuições à ciência e à agricultura. Ela foi premiada tanto no Brasil quanto no exterior e, em 1997, seu trabalho de vanguarda a levou a ser indicada ao Prêmio Nobel de Química, uma das mais altas honrarias no campo científico.

Ainda que não tenha vencido a premiação, a indicação solidificou sua posição como uma das mais importantes cientistas de sua época. Döbereiner passou grande parte de sua carreira trabalhando no Centro Nacional de Pesquisa em Agrobiologia da Embrapa, onde liderou pesquisas de ponta que até hoje moldam as práticas agrícolas no Brasil.

"O trabalho da Dra. Döbereiner permitiu o desenvolvimento de parcerias nacionais e internacionais com a Alemanha, os Estados Unidos e a Bélgica, assim como com outros países no qual a Embrapa Agrobiologia é considerada centro de excelência", afirmou a Embrapa.

Sua contribuição para a ciência, combinada com sua visão de um sistema agrícola mais sustentável, continua a impactar a agricultura no Brasil e no mundo. Além disso, seu trabalho foi fundamental para popularizar a agricultura de baixo carbono, colocando o Brasil na vanguarda da produção sustentável.

O sucesso das safras de soja e cana-de-açúcar, duas culturas centrais para a economia do país, é seu principal legado para a agricultura do Brasil. Johanna Döbereiner morreu em outubro de 2000, aos 75 anos, de insuficiência respiratória.
César H. S. Rezende
Repórter de agro e macroeconomia na Exame
Fonte: Exame
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