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"Admiração mútua" e "quem cozinha sou eu": o que dizem maridos de mulheres CEOs
Opinião machista do empresário Tallis Gomes repercutiu nos últimos dias. O g1 ouviu o que homens casados com CEOs têm a dizer sobre a polêmica, e mostra como a participação feminina impacta na gestão de negócios.
Publicado em 24/09/2024 às 09h26
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Maridos de CEOs rebatem críticas de Tallis Gomes sobre mulheres líderes
Foto: Maira Habimorad
"Deus me livre de mulher CEO." Foi assim que o empresário Tallis Gomes respondeu a uma pergunta nas redes sociais ao ser questionado se seria noivo de uma mulher em posição de liderança.

Para ele, "salvo raras exceções", mulheres em cargos de gestão passam por um "processo de masculinização". "O mundo começou a desabar exatamente quando o movimento feminista começou a obrigar mulher a fazer o papel de homem."

"Homem que tem condições de bancar sua mulher e não o faz, está perdendo o maior benefício de uma mulher, que é o uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família", disse.

Ao longo da semana, as críticas à fala machista do empresário vieram de centenas de mulheres em posições importantes no mundo corporativo. Mas o g1 também quis saber qual foi a reação dos maridos delas.

A reportagem conversou com dois casais em que as esposas chegaram ao cargo de CEO, para entender como equilibram suas responsabilidades profissionais com a vida pessoal, e qual a opinião deles sobre as declarações feitas por Tallis Gomes.

O que dizem os maridos de CEOs

Mari Achutti lidera uma escola de educação corporativa e já trabalhou em empresas como Google e Facebook. Ela tem um filho de três anos e é casada com Vinicius Facco, diretor de uma agência de publicidade.

Apesar da rotina corrida, o casal destaca que seus cargos oferecem flexibilidade, o que facilita na criação do filho e nos cuidados com o lar.

Vinicius afirma: "Tem momentos que a Mari, como CEO, está mais ocupada e eu nem tanto. Mas estamos alinhados. Não tem briga e competição. Eu também sou responsável e cuido do lar".

Para ele, historicamente, os homens foram desencorajados a se preocuparem com o cuidado e a demonstrarem sentimentos, resultando em comportamentos agressivos. "Agora, estamos criando um novo paradigma, no qual a responsabilidade é compartilhada e a liderança é mais inclusiva".

Mari acrescenta: "Meu filho sabe que a mamãe é feliz trabalhando. Hoje, mais do que nunca, o mundo dos negócios precisa da energia feminina".

Os comentários machistas também causaram revolta em Bruno Serapiao, CEO de uma empresa de bioenergia e casado com Maíra Habimorad, diretora de uma instituição de ensino e membro do conselho de uma instituição bancária.

"Esses comentários não cabem no mundo de hoje. Mulheres CEOs, como a minha, merecem respeito. Temos uma admiração mútua um pelo outro", afirma Bruno, que vê o cargo da companheira como vantagem, já que eles compartilham experiências profissionais.
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Bruno Serapiao e Maíra Habimorad têm cinco filhos
Foto: Maira Habimorad

Bruno também não vê problema em os homens ajudarem nos cuidados com o lar.

"Quem cozinha em casa sou eu. Maíra não gosta tanto. Faço feira, vou ao Ceagesp, e me divirto. Gosto de ser pai, é parte de quem eu sou, assim como ser CEO e parceiro da Maíra."

Com cinco filhos, o casal se desdobra para conciliar suas agendas de trabalho e garantir que não estejam ambos fora ao mesmo tempo. Maíra admite que a rotina entre ser esposa e CEO é cansativa, mas ter um parceiro que a apoie e compartilhe as tarefas de casa torna tudo mais fácil.

"A carreira é parte da minha identidade. Além de fonte de renda, é parte de quem eu sou. Eu o apoio muito no trabalho dele, e ele também me apoia muito. Isso faz muita diferença", conclui Maíra.

A 'energia feminina' no trabalho

Para quem acha que um cargo de liderança "não é o melhor uso da energia feminina", uma pesquisa feita pela Harvard Business Review com mais de 5 mil empresas ao redor do mundo apontou que a inclusão de mulheres em cargos de liderança traz benefícios significativos.

É que o estudo mostrou que a presença feminina na gestão:
 
  • Melhora qualidade das discussões e aumenta a responsabilidade;
  • Promove uma abordagem mais equilibrada e inovadora.

As empresas com mulheres em posições de liderança também tendem a ser mais abertas a mudanças, afirma Dhafyni Mendes, cofundadora do Todas Group, que oferece mentorias para mulheres que desejam ocupar cargos de liderança.

"Não é uma questão de quem é melhor, mas de como homens e mulheres podem se complementar para alcançar melhores resultados”, explica.

Desde sua fundação, o Todas Group já impactou a carreira de mais de 30 mil mulheres em cinco países: Brasil, Chile, Argentina, México e Colômbia.

"Espero que toda essa discussão potencialize o número de mulheres em cargos de liderança e que elas saibam que podem estar em qualquer lugar que desejarem", diz Dhafyni Mendes sobre os comentários machistas do ex-CEO.

Entenda a polêmica

Na quinta-feira (19), Tallis Gomes respondeu a um seguidor no Instagram que perguntou se ele estaria noivo se sua mulher fosse CEO de uma grande companhia. Ele disse: "Deus me livre de mulher CEO".

Após a publicação, o empreendedor foi criticado nas redes sociais e causou uma série de reações de executivas.

Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, por exemplo, escreveu em seu LinkedIn que "não concorda em nada com o posicionamento" de Gomes.

"Criei três filhos trabalhando muito, inclusive como CEO do Magalu. Soube cuidar deles e dos idosos da família", disse a executiva, destacando que mulheres podem ser aquilo que querem e optam ser.

"Às mulheres, peço que não deixem que posicionamentos como esse abalem seus desejos e opções. Quem te irrita, te domina. Não deixemos a irritação nos dominar. O que interessa é que juntas somos mais fortes", afirmou Trajano na publicação.

"Vou deixar um legado para as minhas netas. Elas saberão que lutei pela nossa igualdade, junto com muitos homens e todas as mulheres do Brasil. Estamos chegando lá", acrescentou.

A diretora comercial e de marketing da Reckitt, Renata Vieira, a general manager da VTEX no Brasil, Rafaela Rezende, a diretora de recursos humanos da Itaúsa, Claudia Meirelles, e uma série de outras executivas também se posicionaram sobre o tema em suas redes sociais.

Dois dias depois, Gomes veio a público para pedir desculpas, mas não resistiu à pressão e acabou renunciando à presidência executiva de sua empresa. Não deixou, contudo, de ser sócio da companhia.

No mesmo dia, a Hope também anunciou que Tallis havia deixado o conselho consultivo da marca.

O empreendedor já protagonizou outras polêmicas. Em entrevistas, assumiu que o faz para ser descoberto.

Em julho deste ano, por exemplo, Gomes chegou a afirmar que "não contratar esquerdistas" é a "base da cultura" de sua empresa. "Esquerdista é mimizento, não trabalha duro, fica com esse negócio que parece que todo mundo deve alguma coisa para ele", disse o empreendedor.

Ele também afirmou que quem não trabalha de 70 a 80 horas por semana, nunca vai "construir nada na vida". À época, as falas também repercutiram nas redes sociais.
Rafaela Zem e Júlia Nunes
Fonte: g1
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