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Hidrogênio verde pode adicionar R$ 61,5 bi ao PIB brasileiro em 2050, aponta estudo
Relatório ainda não publicado enxerga alto potencial de aplicação de hidrogênio nas indústrias de combustível sustentável de aviação e siderurgia
Publicado em 31/10/2024 às 16h04
Foto Notícia
Dário Durigan, governador Eumano de Freitas, Lula e Alexandre Silveira durante sanção de marco do hidrogênio, em agosto de 2024, no Porto do Pecém no Ceará
Foto Ricardo Stuckert/PR
Estudo elaborado pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), revela que a transição para o hidrogênio verde no Brasil tem potencial de incrementar o Produto Interno Bruto (PIB) em R$ 61,5 bilhões em 2050 — representando 0,3% do PIB projetado daquele ano — e criar cerca de 177 mil empregos no mesmo período.

O relatório ainda não publicado enxerga alto potencial nas indústrias de combustível sustentável de aviação (SAF) e siderurgia, que responderiam por 80% do uso do energético em meados do século.

São considerados dois cenários, com hidrogênio verde (cenário A) e sem (cenário referência), traçando projeções para os anos de 2030, 2040 e 2050.

A introdução do gás obtido a partir da eletrólise com renováveis é vista como uma oportunidade de neoindustrialização do Brasil. 

Markus Franke, diretor do Programa H2Brasil da GIZ, aponta que o país tem potencial para se tornar um líder global na produção de produtos derivados, como fertilizantes, aço verde e SAF. 

“Não é só um setor novo, porque quando falamos de hidrogênio verde, falamos de muitos produtos, metanol verde, fertilizante verde, e muitos outros. É uma possibilidade para a neoindustrialização do Brasil”, afirmou à agência eixos. 

Franke ainda destaca que há uma grande oportunidade para o desenvolvimento do Nordeste do país, com impactos socioeconômicos positivos.

E00m 2023, a proporção de pessoas em situação de pobreza na região foi estimada em aproximadamente 47,4%, o que corresponde a mais de 27,5 milhões de pessoas. Esse valor é equivalente a 45% da população em situação de pobreza no Brasil.

Como a exportação direta do hidrogênio verde é cercada de desafios, as recomendações são para que o Brasil utilize o energético para produzir aço e fertilizantes verdes, por exemplo, e comercializar commodities de maior valor agregado no mercado internacional.

Franke avalia que esse modelo poderia impulsionar a competitividade internacional do país, além de beneficiar diretamente o agronegócio brasileiro, que já está de olho em fertilizantes sustentáveis.

Adaptação da indústria

Apesar do incremento, serão necessários altos investimentos na indústria para mudar suas tecnologias de produção de forma a incorporar o hidrogênio em suas atividades, o que, em um cenário amplo, pode ter um impacto negativo de R$ 3,1 bilhões no PIB, o que representa uma queda de 0,016%, calcula a GIZ. 

Os especialistas destacam que essa perda é compensada, no entanto, pela criação de empregos e pela mitigação dos impactos ambientais.  

Além disso, a manutenção do consumo de fontes fósseis poderia resultar em uma contração do PIB em 2050 muito superior. 

“Se não fizermos essas adaptações [adoção do hidrogênio verde] teríamos externalidades negativas para o clima também, como vemos agora, como chuvas no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia, ou chuvas mais intensas na cidade de São Paulo. Isso também tem um custo e levaria a uma contração do PIB”, explica Luciano da Silva, consultor técnico da GIZ. 

Vale dizer que não foram consideradas possíveis penalizações a produtos brasileiros que não reduzirem sua pegada de carbono, a exemplo do aço, cimento entre outros, que estarão sujeitos ao mecanismo de ajuste de fronteira de carbono (CBAM, em inglês), da União Europeia – um imposto para precificar as emissões dos produtos importados pelo bloco. 

O que as projeções da GIZ consideram?

Desafios ambientais e sociais

A produção de hidrogênio verde depende da eletrólise, um processo que utiliza grandes volumes de água e energia renovável. Os pesquisadores estimam que, até 2050, o Brasil precisará de 22 bilhões de litros de água para os projetos que entrarão em operação.

Fatores como a expansão da geração de energia solar e eólica poderiam ter impactos significativos no uso da terra e nas comunidades locais, especialmente no Nordeste do Brasil, que concentra o maior número de anúncios de projetos de eletrólise.

A ocupação de áreas para a construção de parques eólicos e solares também poderia gerar conflitos e restringir o acesso a locais turísticos e impactar atividades extrativistas.

“Tais impactos reforçam a importância de inclusão das comunidades locais nas etapas de licenciamento e construção das plantas no sentido de mitigar os impactos e aumentar a aceitação social”, diz o estudo. 

“Quanto à implementação de plantas de produção de H2V, os dados levantados mostram que o maior potencial de geração de empregos ocorre na fase de construção dos complexos, mas esse montante é consideravelmente reduzido na fase de operação”, completa. 

Além disso, a pesquisa aponta que o uso de água de reuso e a dessalinização seriam alternativas para reduzir o impacto ambiental da eletrólise.
Gabriel Chiappini
Fonte: AGÊNCIA eixos
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