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Queda no preço dos grãos dita resultados de agroindústrias
Queda de milho e soja afeta desempenho de empresas agrícolas no trimestre
Publicado em 03/12/2024 às 08h41
Foto Notícia
A queda dos preços dos grãos, reflexo da oferta global elevada, apertou o desempenho operacional e financeiro das companhias agrícolas no terceiro trimestre de 2024, mas ajudou a reduzir os custos e a melhorar as margens dos frigoríficos.

Com isso, num cenário de alta de juros que pressionaram os custos das companhias brasileiras de forma generalizada, os frigoríficos reduziram a alavancagem, enquanto aquelas empresas afetadas pelos preços das commodities viram sua relação entre dívida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) piorar.

Levantamento do Valor Data com 26 empresas do agronegócio — a maioria com ações na B3 — mostrou que 15 delas tiveram aumento na alavancagem e dez registraram recuo. A Heringer, de fertilizantes, não teve a alavancagem calculada porque o EBITDA em 12 meses até o fim de cada trimestre foi negativo.

Todas as companhias de grãos tiveram piora na alavancagem, com destaque para a BrasilAgro, que teve aumento de 1,01 ponto percentual no índice.

A empresa com a alavancagem mais elevada foi a FS, de etanol de milho, cujo indicador avançou 1,83 ponto, para 4,91 vezes. O resultado é fruto de um Ebitda em 12 meses que ainda reflete os resultados ruins do ano passado. No entanto, a queda dos grãos já ajudou o Ebitda da FS no último trimestre, que saltou sete vezes, para R$ 169,4 milhões.

“Estamos em um ambiente de ampla oferta que está levando a preços mais baixos dos grãos e deixando a rentabilidade desafiadora [para produtores de grãos]. Esse é o pano de fundo do terceiro trimestre”, disse Guilherme Pedroni Palhares, analista sênior do banco Santander, ao Valor.

Uma empresa de grãos que teve ajuste nas margens foi a SLC, particularmente pelo aperto em milho e caroço de algodão, agravado pela queda de produtividade. Além de encerrar o trimestre com recuo de 99% no lucro, sua alavancagem cresceu 0,66 ponto, para 2 vezes.

A BrasilAgro, por sua vez, só teve lucro por causa de venda de terras. Do contrário, teria tido prejuízo de R$ 10,5 milhões. Ainda assim, sua alavancagem cresceu em 1 ponto, para 1,29 vez, com o aumento do endividamento e dos juros.

Outro segmento que sentiu o efeito do baixo preço dos grãos e do atraso nas chuvas foi o de insumos. Essa conjuntura fez o produtor atrasar compras de sementes, fertilizantes e defensivos, afetando a receita e o Ebitda de Heringer e Boa Safra Sementes e o Ebitda da Vittia. No caso da Vittia, a queda nas vendas de biológicos teve maior impacto nas margens.

Não foi possível avaliar o impacto no Agrogalaxy, que está em recuperação judicial, porque a divulgação do balanço foi adiada para 19 de dezembro.

Para Gabriel Barra, analista do Citi, o resultado melhor dessas empresas no terceiro trimestre pode “escorregar” para o quarto trimestre, já que as chuvas voltaram, estimulando o plantio da soja da nova safra. “O próprio risco de atraso do milho foi diminuindo”, ressaltou.

Impacto da queda dos grãos

Por outro lado, o trimestre voltou a mostrar que as empresas expostas à queda nos custos dos grãos se saíram muito melhor que as demais, segundo Palhares. “Isso vale para os frigoríficos e produtoras de biodiesel, por exemplo, como a 3tentos”, acrescentou.

A JBS foi a que conseguiu reduzir sua alavancagem de forma mais intensa. O indicador, em reais, caiu para 2,24 vezes, menos da metade das 4,84 vezes registradas um ano antes. Essa melhora refletiu, sobretudo, o aumento do resultado operacional. O Ebitda da JBS mais que dobrou, com salto de 120,7%, para R$ 11,94 bilhões.

O Bank of America avalia que a companhia foi o grande destaque do setor de proteína animal em função da plataforma diversificada de produtos, diz relatório dos analistas Isabella Simonato, Julia Zaniolo e Fernando Oliveira.

Outro destaque foi a BRF, que mais do que dobrou seu Ebitda e lucro líquido. Com isso, a alavancagem caiu para 0,71 vez, e a empresa anunciou a distribuição de R$ 946 milhões aos acionistas em juros sobre capital próprio (JCP).

Bioenergia

No setor de bioenergia, os resultados variaram conforme a estratégia de cada companhia. Enquanto a alavancagem da Raízen Energia (que reúne os segmentos de Açúcar e Renováveis da Raízen) subiu 1,04 ponto, para 3,15 vezes, a da CerradinhoBio baixou em 2,05 pontos, para 2,96 vezes.

Na Raízen Energia, receita e Ebitda cresceram por causa da estratégia de aumentar as vendas, com mais volume próprio de açúcar, com margens maiores. Porém, o aumento das despesas com juros, que chegaram a cerca de R$ 300 milhões, levaram a empresa ao prejuízo. O resultado consolidado da Raízen também ficou mais apertou, com alta de 0,7 vez na alavancagem, para 2,6 vezes, e prejuízo de R$ 158,3 milhões.

A companhia vem de anos de fortes investimentos, tanto nos canaviais para melhorar a produtividade, como em indústrias de etanol de segunda geração. No mercado, a aposta é que a nova gestão deve rever os níveis de Capex para aliviar a pressão sobre a dívida.

Já a alavancagem da São Martinho, que era de 1,51 vez em setembro de 2023, encerrou o segundo trimestre da safra em 1,35 vez, refletindo a melhora de suas vendas de etanol, com preços maiores. Sua planta de etanol de milho passou a operar a plena capacidade e começa a se beneficiar da queda do preço do grão.

Os resultados da CerradinhoBio também melhoraram com a concretização de seus investimentos de ampliação da planta de etanol de milho de Maracaju (MS) e a nova fábrica de açúcar. O aumento das vendas permitiu uma forte geração de caixa, e a alavancagem caiu de 5,01 vezes para 2,96 vezes.

Para Barra, do Citi, os resultados dos próximos trimestres devem melhorar para as empresas de grãos e insumos com um câmbio mais favorável e uma recuperação dos preços da soja. Já para as empresas de carne bovina, Palhares, do Santander, avalia que o terceiro trimestre deve ter sido o último com margens confortáveis, visto que o valor do gado bovino subiu e a expectativa é de uma oferta mais restrita de animais com a virada de ciclo da pecuária em 2025.
Por Nayara Figueiredo e Camila Souza Ramos — Chicago (EUA) e São Paulo
Fonte: Globo Rural
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