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Guerra comercial entre Trump e China: como o agro brasileiro ganha ou perde
Oportunidades para o setor brasileiro podem se concentrar em produtos como soja, milho e no setor de proteínas, incluindo carne bovina, suína e de aves, afirma o banco
Publicado em 22/01/2025 às 11h07
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O retorno do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos oferece uma oportunidade — mesmo que limitada — às exportações do agronegócio brasileiro para a China, segundo análise divulgada pelo Santander nesta terça-feira, 21.

De acordo com o banco, as oportunidades para o setor brasileiro podem se concentrar em produtos como soja, milho e no setor de proteínas, incluindo carne bovina, suína e de aves. Esses são segmentos nos quais a China já é uma grande compradora do Brasil, mas que podem ganhar mais força diante de uma nova guerra comercial entre EUA e China.

Além da China, outros mercados também podem se beneficiar do fortalecimento do comércio agrícola brasileiro. Para José Luiz Pimenta Júnior, diretor de Comércio Internacional e Relações Governamentais na BMJ Associados, o Brasil assume uma posição estratégica para países que buscam reduzir sua dependência de fornecedores tradicionais, como os EUA.

“A diversificação das fontes de importação cria uma oportunidade para o agronegócio brasileiro expandir sua participação de maneira seletiva e direcionada”, afirma Pimenta.

Segundo o Santander, no entanto, será necessário acompanhar as respostas da China diante de possíveis medidas tarifárias adotadas por Donald Trump. O banco aponta que o impacto dessas ações dependerá de como o país asiático reagirá a eventuais aumentos de tarifas sobre produtos agrícolas.

O agronegócio brasileiro, por sua vez, precisa estar preparado para aproveitar as oportunidades enquanto busca estratégias para fortalecer sua presença em mercados globais.

Soja brasileira

No caso da soja, principal commodity do Brasil, as atenções estão voltadas para o potencial de exportação do grão brasileiro. Segundo analistas, o cenário atual pode emular, de maneira bem mais comedida, o que ocorreu durante o primeiro mandato de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos.

Na época, a política de protecionismo contra a China adotada por Trump trouxe benefícios significativos para a soja brasileira.

O mandatário implementou medidas, como o aumento de tarifas, que prejudicaram a relação comercial entre Estados Unidos e China. Em resposta, o país asiático intensificou as importações do grão brasileiro, consolidando o Brasil como seu principal fornecedor.

As ações protecionistas resultaram em um declínio nas exportações agrícolas dos Estados Unidos, enquanto o Brasil registrou um crescimento expressivo nos embarques de produtos do agronegócio, especialmente da soja.

Para a safra 2024/25, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta um novo recorde: a produção de 169 milhões de toneladas de soja.

No entanto, apesar da previsão de recorde no volume produzido e exportado, os analistas do Santander alertam que os preços baixos da soja no mercado internacional podem limitar o crescimento do valor total das exportações brasileiras.

“Embora o Brasil possa se beneficiar de um possível agravamento da relação comercial entre Estados Unidos e China, os preços baixos podem neutralizar parte desse impacto positivo”, avalia Felipe Kotinda, analista do Santander.

Milho para a China

Enquanto as tarifas chinesas podem trazer um impacto positivo para a soja brasileira, o relatório do Santander aponta que o cenário para o milho é mais complexo.

Em 2018, as tarifas impostas pela China aos Estados Unidos tiveram impacto insignificante no mercado de milho. Isso porque o país asiático representava apenas cerca de 2% do mercado de exportação americano. Além disso, o Brasil, na época, não exportava o cereal para a China.

Outro fator que contribuiu para a estabilidade do mercado americano foi a forte demanda doméstica por milho nos EUA, principalmente para a produção de etanol, que compensou a redução nas exportações para o mercado chinês.

Foi apenas em 2022 que o Brasil começou a ganhar relevância como fornecedor de milho para a China, marcando uma mudança importante no mercado global do cereal.

Em 2023, o Brasil exportou 17,4 milhões de toneladas de milho para o país asiático, o que representou 31% do total exportado pelo Brasil no período. Com isso, a China se tornou o principal destino das exportações brasileiras de milho, consolidando a posição do Brasil como um player importante para o mercado chinês.

Em 2024, no entanto, o cenário é menos otimista. De acordo com o Santander, a demanda futura da China pelo milho brasileiro pode não atender às expectativas. A superprodução local na temporada atual deve reduzir a necessidade de importar grandes volumes do cereal nos próximos anos.

Exportações de carne

O caso da pecuária brasileira, segundo o Santander, difere de outras commodities agrícolas. O aumento das exportações de carne nos últimos anos não está diretamente relacionado às tarifas comerciais, mas sim a fatores como sanidade animal e mudanças na demanda global.

Em 2018, a China enfrentou uma grave crise em seu rebanho suíno, causada pela Peste Suína Africana, que dizimou 45% de sua produção. A situação obrigou o país a buscar proteínas alternativas, como a carne bovina, para atender à demanda local. Esse movimento provocou um choque de oferta que impulsionou as exportações brasileiras ao longo dos últimos anos.

A carne bovina brasileira já conta com espaço significativo para expansão no mercado global. Em 2023, a China representou apenas 2% dos embarques de carne bovina dos Estados Unidos, segundo o Santander, e um eventual acirramento da guerra comercial entre EUA e China não deve alterar esse cenário.

Um dos grandes diferenciais da carne bovina brasileira é sua competitividade de preços, principalmente em relação a concorrentes como Argentina e Austrália.

Em 2024, a China consolidou-se como o principal destino da carne bovina brasileira, com 1,33 milhão de toneladas exportadas. O volume gerou um faturamento de US$ 6 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Além da China, os Estados Unidos ocuparam a segunda posição entre os maiores compradores, importando 229 mil toneladas de carne bovina brasileira em 2024. O valor desse comércio foi de US$ 1,35 bilhão, reforçando a importância do mercado americano para a pecuária nacional.

"A competitividade da carne bovina brasileira, associada à alta demanda em mercados estratégicos como China e Estados Unidos, posiciona o Brasil como protagonista no comércio global de proteínas", diz o Santander.
César H. S. Rezende
Fonte: Exame
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