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Banco do Brasil prevê juros mais altos no próximo Plano Safra
Mesmo assim instituição projeta um crescimento entre 5% e 9% em sua carteira do agro
Publicado em 25/02/2025 às 07h51
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A elevação recente da taxa Selic, que pressionou os gastos do governo para subsidiar o crédito rural e levou o Tesouro Nacional a suspender novas operações equalizadas na semana passada, e os novos aumentos já contratados para os próximos meses fizeram o Banco do Brasil, maior financiador do setor agropecuário, ver como certa a elevação do patamar de juros para o próximo Plano Safra 2025/26.

O cenário vai exigir criatividade e habilidade do grupo técnico do governo para encontrar soluções assertivas na definição das condições do crédito rural subvencionado no ciclo que será iniciado em julho, disse Luiz Gustavo Braz Lage, vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do BB, em entrevista exclusiva ao Valor.

“O Plano Safra será lançado entre junho e julho. Todos os cenários que se têm da economia é que serão patamares de juros, comparativamente com a safra anterior, maiores. Isso está dado”, disse, sem indicar possíveis índices.

O executivo afirmou que o desenho do próximo Plano Safra será mais “engenhoso”. No ciclo 2024/25, as taxas do crédito controlado variam de 3% e 12%. A Selic está em 13,25% com projeções para ultrapassar a marca de 15% em 2025. “Esperamos que haja uma reacomodação dessa curva de juros”, acrescentou.

A definição das fontes de recursos será um debate importante, sinalizou. Ele concordou que um eventual corte no prazo de resgate das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), atualmente em nove meses, pode animar os investidores e favorecer novas emissões. O uso de valores captados pelo título em linhas com equalização, possibilidade que deve ser autorizada novamente em julho, também pode diminuir custos ao Tesouro.

Mesmo nesse cenário, o BB projeta crescimento. A carteira de agronegócios do banco aumentou 11,9% no ano passado e chegou a R$ 397,7 bilhões. Neste mês, a instituição já ultrapassou a marca de R$ 400,4 bilhões. A meta é expandir entre 5% e 9%, um ritmo mais comedido de elevação.

“É um ritmo compatível com o momento, não é desaceleração”, garante Braz Lage. O ambiente, de fato, é diferente de julho de 2024, quando o Plano Safra 2024/25 foi lançado, com Selic em 10,5% e projeções de queda para um dígito. “O custo ficou mais alto para o produtor, que tem feito mais contas”, explicou.

Mas ele não acredita em impacto no crescimento do agronegócio em si. O dado avaliado pelo BB é de expansão de 6% do PIB agrícola, puxada pela boa performance da safra de grãos, o comportamento satisfatório do clima, os preços em recuperação e a bonança de setores mais bem posicionados, como café e laranja.

“Estamos animados, mas com cautela, é um ano mais promissor depois de um período mais adverso”, indicou o executivo. O otimismo só não é maior pelo nível de endividamento e inadimplência, cujo índice saltou de 0,96% em dezembro de 2023 para 2,45% no fim de 2024, influenciado principalmente pelos atrasos nos pagamentos de custeio agropecuário. No período, foram mais de 150 mil operações prorrogadas, incluindo números do Rio Grande do Sul, afetado por secas e a enchente de 2024.

“Existe um segmento que se alavancou muito nos últimos anos, quem foi além em termos de arrendar terra. Já vimos esse filme antes, o agro é cíclico e resiliente. Os bons anos são para reforçar balanços e o colchão de liquidez para estar preparado”, destacou Braz Lage.

Ele aposta no arrefecimento das recuperações judiciais, que impactaram em 0,5 ponto percentual a inadimplência do banco, índice que deve se estabilizar durante o ano. “Quem fez gestão prudencial tem oportunidades. Quem se alavancou além do ponto, tende a sofrer mais nesse cenário”, completou. Segundo ele, o cenário “inspira cuidados”, principalmente com gestão de riscos com seguros, travas de preço e margem e investimentos em armazenagem e irrigação.

Plano Safra

Braz Lage considera superado o episódio da suspensão das operações com recursos equalizados do atual Plano Safra 2024/25 na semana passada. No aguardo da publicação da medida provisória com mais R$ 4,1 bilhões de orçamento para autorizar a retomada dos financiamentos, o executivo afirmou que não houve impactos na rotina e prevê aumentar os valores com subvenção ainda neste ciclo, a partir do remanejamento de limites de outros agentes, e emprestar tudo até o fim de junho.

O BB tem cerca de R$ 60 bilhões de recursos equalizáveis nesta safra, quase a metade dos R$ 133,6 bilhões distribuídos entre 25 instituições financeiras. Cerca de 65% dos valores do banco já foram emprestados e outros 15% estão comprometidos, ou seja, são propostas já autorizadas e que estão “na esteira” para liberação.

A perspectiva é ter reforços com a realocação de limites de outros bancos, cuja performance está aquém do planejado, em linhas como custeio de pequenos e médios produtores, disse Braz Lage. A reserva de recursos equalizados para este primeiro semestre do ano é estratégica para atender as feiras agropecuárias, já que há apetite para investimentos diante da previsão de alta nos juros em 2025/26, completou.

Segundo Braz Lage, os R$ 4,1 bilhões vão se somar aos R$ 14 bilhões previstos no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para bancar a equalização em 2025 e será feito monitoramento constante para eventuais atualizações, a depender do ritmo de avanço da Selic. “Como vai ser o manejo, o governo vai indicar depois, se vai realocar entre outros itens do orçamento, para caber esses R$ 4 bilhões e outros valores se forem necessários”, acrescentou.

A presença maior forte do BB na partilha dos limites equalizáveis, aliás, é um ponto destacado pelo vice-presidente para a ampliação da carteira, além de apoio a projetos específicos, como para etanol de milho e outros biocombustíveis. “A carteira crescerá em toda a cadeia. Essa maior robustez em relação a ter abocanhado uma fatia maior do Plano Safra nos possibilitou um trabalho de reconquista de clientes”, afirmou.

O share de mercado do banco apenas entre as linhas do Plano Safra passou de 39% para 44% nos sete primeiros meses da temporada. A explicação é que os desembolsos na instituição caíram menos que a média do mercado na comparação com a safra 2023/24. Enquanto a retração nas liberações foi de 23% nos demais agentes financeiros, de R$ 170,1 bilhões para R$ 130,6 bilhões de julho de 2024 até janeiro de 2025, no BB o recuo foi de 12%, saindo de R$ 111,4 bilhões para R$ 98,4 bilhões. O financiamento via Cédulas de Produto Rural (CPRs) avançou 20% no período e chegou a R$ 22,7 bilhões.
 
Por Rafael Walendorff — Brasília
Fonte: Globo Rural
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