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Brasil cogita baixar tarifa sobre etanol em negociação com Trump
Medida está sendo avaliada com duplo objetivo: negociar com EUA e atacar preço dos combustíveis no mercado interno
Publicado em 06/03/2025 às 11h36
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Fachada do Palácio do Planalto • Marcos Oliveira/Agência Senado
Pressionado por Donald Trump e sua promessa de adotar tarifas recíprocas nos Estados Unidos, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cogita reduzir a alíquota de importação sobre o etanol, o que pode acelerar a entrada no Brasil do biocombustível americano produzido a partir do milho e servir como um instrumento de negociação comercial com a Casa Branca.

A tarifa brasileira sobre o etanol está em 18% e já foi alvo de reclamações públicas da administração Trump.

Uma redução para zero — ou algo próximo de zero — passou a ser considerada como possibilidade de “matar dois coelhos com uma só cajadada”, conforme afirma um funcionário do governo brasileiro ouvido reservadamente pela CNN.

Explicação: de um lado, o Brasil colocaria a queda da tarifa sobre o etanol na mesa de discussões com os Estados Unidos, em vez de simplesmente baixar a alíquota como medida unilateral. Seria uma forma de extrair concessões comerciais também dos americanos.

De outro lado, a entrada de mais etanol de milho americano poderia forçar uma queda de preços no mercado brasileiro, inclusive da gasolina (por causa da mistura de 27%), em um momento de baixa popularidade do governo Lula, muito por causa da alta dos alimentos e dos combustíveis.

Uma sensibilidade é o desgaste político junto aos usineiros — público já bastante arredio a Lula e ao PT.

No passado recente, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Brasil diminuiu a alíquota de importação do etanol em uma tentativa de contar os preços dos combustíveis. Elas só voltaram para 18% no início de 2023.

Na avaliação de integrantes do governo Lula, o momento agora é diferente. O Nordeste, onde a produção é mais cara, inaugurou projetos importantes nos últimos anos e estaria mais preparado para enfrentar a concorrência sem tarifas do etanol de milho americano.

O Piauí, por exemplo, tirou do papel empreendimentos de grande porte para a produção de biocombustíveis a partir de cereais (milho e sorgo).

Ao mesmo tempo, o Brasil já vem estudando elevar de 27% para 30% a mistura de etanol anidro na gasolina.

O aumento do teor foi permitido pela Lei do Combustível do Futuro, sancionada em 2024, e as montadoras iniciaram testes – que deverão ser concluídos nos próximos meses – para verificar a capacidade de adaptação dos motores na frota de automóveis.

Se não forem constatados impactos relevantes, uma decisão pode ser tomada ainda no primeiro semestre.

A eventual elevação da mistura de etanol na gasolina geraria demanda adicional pelo anidro de 1,2 bilhão a 1,4 bilhão de litros por ano — o que atenuaria o impacto da abertura de mercado para os Estados Unidos.

Negociação

O governo Trump anunciou uma tarifa de 25% para o aço e para o alumínio importados — afetando diretamente exportações brasileiras de quase U$ 3 bilhões ao ano.

O vice-presidente Geraldo Alckmin — também à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) — tem um telefonema agendado para esta quinta-feira (6) à tarde com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.

Mesmo sem uma decisão sobre baixar a alíquota do etanol, essa mera possibilidade é objeto de visões diferentes dentro do governo brasileiro.

No MDIC, a prioridade é livrar o aço e o alumínio das sobretaxas. Portanto, caso a redução de tarifas sobre o etanol seja levada adiante, a tendência é usá-la como barganha nessas negociações.

Já o Ministério da Agricultura vê uma excelente oportunidade de aproveitar o aceno de queda da alíquota para o etanol americano como uma forma de cobrar concessões da Casa Branca também na área agrícola.

Duas prioridades são mencionadas nos bastidores: maior abertura dos Estados Unidos para o açúcar brasileiro, que enfrenta cotas muito restritivas, e a abertura do mercado para limões, que foi fechado há mais de duas décadas.

Em tese, lembram autoridades em Brasília, o potencial de negociação é alto por causa da sensibilidade eleitoral do etanol para Trump.

O “Corn Belt” (Cinturão do Milho) – principal região produtora de etanol nos Estados Unidos – tem base trumpista.

Dos seis estados que compõem o cinturão, cinco deram vitória para o republicano nas eleições presidenciais: Iowa, Nebraska, Missouri, Indiana e Kansas. A democrata Kamala Harris venceu apenas em Illinois.
 
Daniel Rittner
Fonte: CNN
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