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USDA contraria mercado e prevê safra recorde de soja no Brasil
Estimativa para o milho não foi alterada; órgão espera maior exportação de algodão brasileiro
Publicado em 11/04/2024 às 14h10
Foto Notícia
Por mais um mês, as estimativas de produção de soja para o Brasil contrariam as expectativas de agentes de mercado, que estavam certos de uma redução para a colheita do país na temporada 2023/24.

Em seu mais recente relatório de oferta e demanda, divulgado nesta quinta-feira (11/4), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou uma colheita de 155 milhões de toneladas, mesmo número divulgado um mês antes.

A estimativa vai na contramão das apostas de analistas consultados pelo “The Wall Street Journal”, que esperavam por um volume de 151,7 milhões de toneladas.

As exportações de soja do Brasil foram mantidas em 103 milhões de toneladas.

Para a safra dos EUA, que está praticamente consolidada, a principal mudança ocorreu nos estoques finais do país, que cresceram 8,1% em comparação com o mês passado, para 9,26 milhões de toneladas. A previsão de exportação do país caiu 1,2%, para 46,27 milhões, e a produção americana mantida em 113,34 milhões de toneladas.

Em meio a um desencontro nas projeções, os preços da soja caem 0,24% na bolsa de Chicago, negociado a US$ 11,62 o bushel.

Também havia expectativa com ajustes para a safra de soja argentina. Enquanto a aposta do mercado era para um volume médio de 50,2 milhões de toneladas, o USDA manteve estável a estimativa em relação ao mês passado, em 50 milhões.

Sobre a safra mundial da oleaginosa, o USDA reduziu em 0,3% sua projeção, agora de 396,73 milhões de toneladas. O consumo mundial caiu 0,21%, para 381,08 milhões de toneladas, enquanto os estoques permaneceram praticamente estáveis, em 144,22 milhões, redução de 0,04%.

Estimativas de produção e exportação brasileiras de milho foram mantidas em 124 milhões de toneladas e 52 milhões de toneladas, respectivamente — Foto: Wenderson Araujo/CNA

Milho

O USDA realizou pequenos ajustes para baixo na oferta global de milho da safra atual (2023/24) no relatório divulgado nesta quinta-feira. A projeção para a produção global foi reduzida em 0,2%, para 1,23 bilhão de toneladas, enquanto a estimativa para as exportações globais foram reduzidas em 0,4%, a 218,3 milhões de toneladas.

A principal alteração foi na perspectiva para a produção da Argentina, 1 milhão de toneladas abaixo do projetado no mês passado.

Os produtores argentinos devem colher 55 milhões de toneladas de milho nesta safra, segundo a projeção do USDA. Apesar do ajuste, ainda é um aumento expressivo, de 53% em relação à safra passada.

O órgão não alterou sua estimativa para a colheita americana, de 389,7 milhões de toneladas, nem das exportações do país, de 53,34 milhões de toneladas. Os EUA também estão aumentando sua produção nesta safra, o que lhes garantiu reocupar o posto de maior exportador de milho do mundo.

Por ajustes nas estimativa de estoques iniciais, os estoques de fim de safra foram reduzidos para 53,9 milhões de toneladas - acima do que era esperado pelos analistas.

Já o Brasil caiu para segundo principal exportador de milho. O USDA manteve suas estimativas de produção e exportação brasileiras do grão em 124 milhões de toneladas e 52 milhões de toneladas, respectivamente. O órgão americano reduziu levemente sua projeção para os estoques de passagem para 6,24 milhões de toneladas, devido a ajustes nos estoques iniciais.

Dentre outros grandes exportadores, o USDA elevou sua estimativa para os embarques da Rússia em 300 mil toneladas, para 5,3 milhões de toneladas.

Se confirmada a previsão do USDA, o Brasil superará os EUA em volume de produção de algodão — Foto: Ampasul/Divulgação

Algodão

O USDA elevou em 4,5% a sua previsão para a exportação de algodão do Brasil em 2023/24, para 2,55 milhões de toneladas. Com uma perspectiva de produção estável em relação ao estimado no mês passado, de 3,17 milhões de toneladas, o órgão também reduziu em 8,6% as perspectivas para estoques finais do país, agora de 1,16 milhão de toneladas.

Se confirmada a previsão, o Brasil superará os EUA em volume de produção. A previsão do USDA é de que o país colha 2,63 milhões de toneladas nesta temporada, com exportação de 2,68 milhões de toneladas e estoques finais de 54,43 mil toneladas - mesmos números apontados no mês passado.

Para a China, maior produtor e consumidor mundial, o órgão americano também manteve suas estimativas de produção e exportação em 5,99 milhões de toneladas e 1,09 mil toneladas, respectivamente. Já os estoques finais esperados para o país foram elevados em 2%, para 8,94 milhões de toneladas, acompanhando uma importação 10% maior, de 3,09 milhões de toneladas.

No caso da Índia, segundo maior produtor mundial, o USDA manteve previsão de produção em 5,55 milhões de toneladas, mas elevou em 5% a perspectiva para exportação do país, para 45,72 mil toneladas. Com isso, os estoques esperados pra o final da safra 2023/24 na Índia ficaram em 2,66 milhões de toneladas, 0,8% abaixo do apontado há um mês.

USDA elevou previsão de safra e de exportação mundial de trigo — Foto: Carly Whitmore / USDA

Trigo

Em relação ao trigo, o USDA elevou sua previsão de safra mundial para o ciclo 2023/24. A perspectiva de produção passou de 786,70 milhões para 787,36 milhões de toneladas. As exportações globais do cereal foram revistas de 212,13 milhões para 213,47 milhões de toneladas. E os estoques finais, de 258,83 milhões para 258,27 milhões de toneladas.

No relatório, o Departamento justifica o cenário no aumento de estimativas de produção na União Europeia, além de países como Moldávia e Paquistão. Já o aumento nas previsões de consumo se justifica na expectativa de elevação no uso industrial do cereal por parte da Índia. O país, lembra o USDA, tenta conter a inflação de alimentos.

“A projeção de comércio global em 2023/24 foi elevada em 1,3 milhão de toneladas, principalmente pelo aumento das exportações de Rússia e Ucrânia compensando, em parte, a redução na União Europeia”, ressalta o relatório.

O USDA manteve em 49,31 milhões de toneladas a estimativa de safra dos Estados Unidos na temporada 2023/24. Não alterou também a previsão das exportações, de 19,32 milhões de toneladas. A expectativa de consumo interno, no entanto, caiu de 31,14 milhões para 30,32 milhões de toneladas. E a de estoques finais aumentou de 18,3 milhões para 18,98 milhões de toneladas.

A estimativa de estoques finais ficou acima da média dos analistas consultados pelo jornal americano The Wall Street Journal. A aposta era de reservas finais da temporada em 18,64 milhões de toneladas do cereal nos armazéns americanos.

Para a Argentina, o órgão do governo dos Estados Unidos também manteve a previsão de safra, em 15,9 milhões de toneladas. Reduziu, no entanto, a estimativa de exportações do cereal argentino, de 10,5 milhões para 10 milhões de toneladas. O país deve terminar a safra 2023/24 com estoques de 3,32 milhões de toneladas. No relatório de março, o USDA previu 2,82 milhões.

O Brasil deve colher 8,1 milhões de toneladas de trigo, avalia a USDA, que manteve a previsão anterior. O número é menor que o da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que, também hoje, projetou uma safra de 9,73 milhões de toneladas do cereal.

Na avaliação dos técnicos do governo dos Estados Unidos, o Brasil deve consumir internamente 12,1 milhões de toneladas de trigo e exportar 2,5 milhões. Com uma produção ainda menor que a demanda, as importações devem somar 5,7 milhões de toneladas. Ao final da safra, o país deve ter 1 milhão de toneladas em estoque.

O relatório de oferta e demanda do USDA referente a abril aponta ainda uma produção de 91,5 milhões de toneladas de trigo por parte da Rússia, mesma previsão de um mês atrás. A previsão de consumo interno caiu de 43 milhões para 42 milhões de toneladas e a de exportações subiu de 51 milhões para 52 milhões de toneladas. Os estoques finais da Rússia devem ser de 12,44 milhões de toneladas.

A Ucrânia deve produzir 23,4 milhões de toneladas, de acordo com o USDA, também mantendo a previsão de um mês atrás. Os técnicos do governo dos Estados Unidos estimam ainda que os ucranianos devem exportar 17,5 milhões de toneladas e encerrar a temporada com estoques de 1,58 milhão, bem abaixo dos 3,28 milhões de toneladas previstos em março.
 
Por Camila Souza Ramos, Cleyton Vilarino, Paulo Santos e Raphael Salomão
Fonte: Globo Rural
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