União Nacional da Bioenergia

Este site utiliza cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Ao continuar navegando
você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade

Para Unica, EUA seguirão descarbonizando (e com sede de etanol) mesmo com Trump
Evandro Gussi, presidente-executivo da entidade brasileira, avalia que o líder norte-americano, mais ligado aos combustíveis fósseis, é só a ponta do iceberg e que o processo de redução de emissões tem o suporte fundamental de estados e do setor privado norte-americanos
Publicado em 29/01/2025 às 11h49
Foto Notícia
Evandro Gussi, presidente executivo da Unica
Os Estados Unidos seguirão o processo de descarbonização, independente do discurso do presidente Donald Trump para “perfurar e perfurar” em busca de combustíveis fósseis. E o etanol seguirá como parte fundamental desse processo de redução de emissões, na avaliação do presidente-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi.

Para o líder da entidade de produtores do biocombustível no Brasil, “o presidente dos Estados Unidos é a ponta de um iceberg” com várias camadas de competência, mas as principais decisões sobre a descarbonização da economia não são tomadas por ele.

“O presidente, até pela organização institucional, tem cinco ou seis competências. Atos são tomados pelos Estados e a Califórnia, por exemplo, seguirá comprando etanol do Brasil independente de Trump”, disse Gussi em evento realizado pela Unica em São Paulo nesta terça-feira, 28 de janeiro.

Na avaliação de Gussi, nem mesmo a ameaça de cortes de até US$ 300 bilhões em investimentos para infraestrutura verde naquele país freará aportes da iniciativa privada em operações dos Estados Unidos no setor.

“O grupo das 500 maiores empresas assinou o Acordo de Paris e seguirá com as metas de atingirem emissão zero”, afirmou ele ao comentar a ratificação, por Trump, da saída dos Estados Unidos do protocolo ambiental global.

As disputas entre Brasil e Estados Unidos no mercado de etanol são pela liderança global na produção do biocombustível - com os americanos na liderança e os brasileiros em segundo - e na questão tarifária. O etanol norte-americano paga 20% para entrar no Mercosul e há uma pressão dos produtores locais para que Trump force a redução dessa tarifa.

Para o presidente-executivo da Unica, além do fato de a tarifa ser imposta pelo bloco econômico, o combustível brasileiro tem maior redução de carbono do que o etanol norte-americano. Além disso, os Estados Unidos aplicam tarifas sobre o açúcar brasileiro, também produzido de cana.

“Temos uma contrapartida em relação ao açúcar, pois a tarifa lá é proibitiva para nossa exportação. Temos um país rico que fecha a barreira para o nosso açúcar. Não faz sentido mercadológico, social e ambiental reduzir a tarifa do etanol”, explicou Gussi.

Para Gussi, a missão de Trump de perfurar cada vez mais deve pressionar o preço do petróleo para baixo. Mas outras potências produtoras do combustível fóssil irão reagir até o mercado se regular.

De acordo com o executivo, a tendência do mercado de se descarbonizar abriu mercados produtores e consumidores para o etanol. Com o suporte do Brasil, a Índia, que divide com o País a liderança na produção de açúcar, criou um programa de mistura obrigatória de 15% de etanol à gasolina e já pensa em chegar aos 20% em 2026.

“A Índia está lançando 19 modelos de veículos flex-fuel e se consolida como um país consumidor de etanol. O Japão tem um processo para a mistura de 10% que deve gerar demanda de 4,5 bilhões de litros anual e chegará aos 20%”, afirmou o presidente da Unica.

Recorde

Dados divulgados pela Unica apontam que o Brasil teve a maior oferta de etanol da história em 2024, com 36,83 bilhões de litros, 4,4% acima do registrado em 2023. Do total fabricado em 2024, 7,7 bilhões de litros foram produzidos a partir do milho, o que representa um aumento de 32,8% em relação ao ano anterior e 29,1 bilhões de cana-de-açúcar.

Do total, 33,5 bilhões de litros foram destinados ao mercado interno de combustível. De etanol hidratado foram 21,6 bilhões de litros, 33% maior que os 16,2 bilhões de litros de 2023 e o restante de etanol anidro. O etanol representou 45,6% da energia consumida por veículos do ciclo Otto, ou seja, de veículos leves.

Ainda de acordo com a Unica, em 2024, a paridade de preços do etanol hidratado em relação à gasolina nos postos foi de 65,3%, a melhor competitividade registrada desde 2010. No último ano, o consumo de combustíveis no Brasil atingiu a marca de 59,3 bilhões de litros pela frota de veículos leves, com destaque para o aumento de 5,4 bilhões de litros no consumo de etanol hidratado no País.

Segundo cálculos da Unica, desde o lançamento dos veículos flex-fuel no Brasil, em 2003, mais de 710 milhões de toneladas de gás carbônico deixaram de ser emitidas, 48,6 milhões de toneladas somente no ano passado. A economia com o uso do etanol é estimada em R$ 130 bilhões desde 2003 e R$ 11 bilhões no ano passado.

A safra de cana-de-açúcar 2024/2025, de abril do ano passado a março deste ano, deve ser a segunda ou terceira maior da história e ficar em torno de 618 milhões de toneladas, atrás da safra 2023/2024, deu 654 milhões de toneladas de cana.

Com as chuvas abaixo da média histórica praticamente na safra inteira de cana, houve uma queda de 10,8% na produtividade até o momento e a produção de etanol, até a primeira quinzena de janeiro, caiu 1,8% no acumulado sobre igual período da safra passada. Já a produção de etanol de milho deve crescer 30% e responder por quase um quarto da produção total do biocombustível no Brasil.

O ano de 2024 também foi um marco para o setor com a aprovação e respectiva sanção de leis que refletem o novo momento do setor bioenergético brasileiro, entre elas o Combustível do Futuro e a reforma tributária. Entre as mudanças previstas no setor estão o aumento da mistura do etanol anidro à gasolina de até 27,5% para 30% em uma primeira etapa.

Segundo o diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues, um estudo de viabilidade sobre o uso de 30% de etanol nos veículos antigos e novos está sendo elaborado pelo Instituto Mauá e um relatório técnico está previsto para o início de março.

“O aumento na mistura geraria uma demanda de 1,2 bilhão de litros de etanol por ano, o que corresponde ao crescimento da oferta de etanol de milho, ou seja, não teríamos problemas de suprir”, afirmou

Ainda segundo ele, a reforma tributária prevê padronização na tributação no mercado de combustíveis entre 2027 e 2032. Para Rodrigues, um tributo uniforme entre todos os estados deve tornar o mercado de etanol mais pulverizado do que é hoje. Dados do setor apontam que 85% do consumo do biocombustível está restrito aos estados produtores do Centro-Sul.

Vai de Etanol

Além dos números, a Unica apresentou hoje a nova etapa da campanha “Vai de etanol” para incentivar o uso do biocombustível.

A campanha publicitária aposta no apresentador e jornalista Tadeu Schmidt. Nas peças publicitárias ele conversa, por exemplo, sobre os benefícios do biocombustível sobre a gasolina.
Fonte: AgFeed
Fique informado em tempo real! Clique AQUI e entre no canal do Telegram da Agência UDOP de Notícias.
Notícias de outros veículos são oferecidas como mera prestação de serviço
e não refletem necessariamente a visão da UDOP.
Mais Lidas