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O que, de fato, esperar da safra 25/26? - Por: Luiz Carlos Corrêa de Carvalho e Nilceu Piffer Cardozo
Publicado em Revista Opiniões, ano 22, número 83, divisão C, Fev-Abr 2025
Publicado em 10/03/2025 às 09h46
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“Há que voltar a semear, mesmo depois de uma má colheita” - Sêneca

O agro brasileiro há muito tempo vem sendo o esteio da economia nacional. Destaque no mundo afora, os resultados exuberantes do agro acabam por sombrear as dificuldades que os agricultores passam no dia a dia. Preparar o solo, plantar, cuidar e acreditar que as chuvas serão bem distribuídas são verdadeira profissão de fé, o DNA do produtor. 

As safras de grãos, em dois pares de meses, são resolvidas seja para o bem, seja para o mal, em um curto período. Iniciam durante a primavera e se definem durante o verão. Claro que a safrinha é um pouco mais complicada, mas também é rápida. 
 
Mas, acima de tudo, se iniciam do zero em safra, ou seja, após um ano tudo começa novamente, sem o impacto do ciclo anterior (ressalva para o crédito nos bancos). Assim sendo, as diferentes agências de projeção de safra estão, sempre, próximas do real resultado da safra. 

Mesmo assim, ainda há os efeitos de um mercado deveras especulativo, com muitas supersafras definidas do escritório, o que pode gerar confusão no mercado e frustração no momento da colheita.

Essa condição complexa é ainda mais acentuada quando se trata de culturas perenes e semiperenes, as quais estão expostas a mais longas e maiores oscilações das condições ambientais. A cada estação uma nova canção. E, é claro, vale lembrar Einstein: “raros são aqueles que olham com os próprios olhos e sentem com a própria sensibilidade”. 

A cana-de-açúcar é um exemplo dessas dificuldades de plantas semiperenes: plantada e colhida em uma janela imensa (quase todos os meses do ano) e permanece no campo, colheita após colheita, em um ciclo de 5 a 6 anos, talvez 7 no melhor dos casos. Resiliente, permite extrativismo ou alta tecnologia e performance, mostrando enorme dispersão nos resultados.

Cultivada em área próxima aos 8 milhões de hectares no Centro-Sul brasileiro, os números escondem a diversidade dos impactos ambientais locais, já que o Brasil é um país imenso. Imenso e diverso, seja nas condições ambientais, seja nas práticas de cultivo.

As safras são diferentes de um ano para o outro, mas são fortemente conectadas. Apesar das chuvas volumosas e bem distribuídas (na maioria dos casos) desde o final de outubro de 2024, os impactos da restrição hídrica dos meses anteriores ainda permanecem nos canaviais
 
Canaviais irregulares, com falhas de população, baixo perfilhamento e atraso no desenvolvimento. Sim, as chuvas ajudam muito, mas infelizmente não são capazes de plantar (ou replantar) canaviais. A correlação milímetros de chuva versus produtividade agrícola, apesar de importante, nem sempre é direta. Ainda mais em uma cultura cuja produtividade média é fruto de uma imensa análise combinatória de épocas de plantio/colheita, estágios de corte, ambientes de produção, manejo agrícola e, é claro, condições ambientais. E, correndo por fora, mas sempre igualmente importante: a área de cultivo. 

Prever a safra 25/26 após a estranha 24/25 e para quem viveu muitas outras é trabalho rigoroso. De ponta a ponta, na 24/25, ocorreram surpresas que desafiaram o setor das mais diversas formas. Uma safra em que a produtividade é reduzida em 10 t/ha, 12% em relação ao ciclo 23/24, mas em que a produção total surpreende com 613 milhões de toneladas processadas até o final de dezembro.

Claro que a área de produção, conforme destacado aqui desde outubro/23, foi a grande responsável por tal compensação, a qual amenizou o cenário de 24/25. Mesmo que a quebra total de produção ainda seja alta, em torno de 9%, uma moagem de 613 milhões de toneladas já é a 3ª maior da história do Centro-Sul brasileiro, perdendo apenas para 15/16 (617,7 MM t) e 23/24 (654,5 MM t).

E se a moagem acumulada até o final de março/25, sempre um período de incertezas, superar 5 milhões de toneladas, 24/25 pode vir a se tornar a 2ª maior safra da história mesmo com todos os traumas vividos com seca e incêndios ao longo de 2024. E eis que entre as notícias aparentemente agradáveis se escondem os problemas: tais resultados, somados ao clima bom da primavera e início de verão, tendem a confundir o mercado sobre o potencial da próxima safra 25/26.

Os canaviais aparentemente verdes e vigorosos escondem um potencial reprimido às vésperas do início da nova safra. As condições climáticas de 2024, seja pela seca que atrasou o desenvolvimento dos canaviais, seja pelos incêndios que os reiniciaram quando atingiram áreas já colhidas, geraram um cenário em que, por exemplo, um canavial de 8 meses no ‘papel’ a prática apresenta desenvolvimento de 6 a 7 meses. Além disso, deve-se lembrar que as chuvas não recuperarão por si só as falhas dos canaviais e o baixo perfilhamento, tão pouco o aumento de área de reforma e do consumo de muda para o plantio de 2025. 
 
Assim sendo, o mercado deveria se conter e aprender com o passado: esse ciclo já ocorreu, deixou a todos boquiabertos e aflitos sobre suas próprias posições deveras otimistas. A posição otimista dos especialistas, que falam em 630 milhões de toneladas em 25/26, contrasta com a tensão vivida por aqueles que realmente entendem do negócio, os produtores.

Para esses, as estimativas de safra, em fevereiro/25, são pessimistas: o atraso no desenvolvimento dos canaviais provavelmente levará a um cenário inicial, moagem de abril/25, de baixa produtividade e baixa qualidade da matéria-prima. Canaviais verdes, jovens, com potencial de desenvolvimento, porém em tempo para tanto. Caso as chuvas se prolonguem ao outono (abril/maio), é possível que ocorram surpresas positivas em um cenário pessimista.
 
Ou seja, 25/26 pode ser menos pior do que se imagina, mas ainda assim deverá ser ruim frente aos resultados de 24/25. Os desafios, porém, não param por aí. Impactos do custo do dinheiro ao capital de giro, alavancagem e a pressão dos juros tão elevados no Brasil preocupam muito para a safra 25/26. 
 
Junto com os juros altos vem a pressão cambial que ajuda a quem exporta, mas gera inflação e custos de produção mais altos. Carregar estes juros pesará financeiramente, enquanto vendas mais rápidas resultam em queda dos preços. As exportações de açúcar, deve-se citar, não terão a mesma velocidade da safra 24/25, face ao aumento da oferta e das exportações de grãos em 2025.

Quanto aos preços, o açúcar ainda deve ser o grande destaque positivo. A visão de um novo governo norte-americano liderando, talvez, o Ocidente, com slogan MAGA (drill baby, drill), poderia levar a lógica de queda nos preços do petróleo, ruim para os preços das commodities. No entanto, a reação dos produtores de petróleo norte-americanos é manter margens positivas, não excedentes e preços baixos.

Oscilações externas e pressões internas podem prejudicar o etanol, porém, em um mundo de tantas surpresas, tudo parece possível. Os valores ainda desfavoráveis do etanol tendem a gerar uma nova safra de tendência açucareira: as fixações dos preços do açúcar já estariam acima de 60% para a safra 25/26 do Centro-Sul brasileiro.

E enquanto perdurarem as visões otimistas, que só tendem a ser reduzidas com o início da safra 25/26, com baixa e lenta moagem inicial, a tendência é que muitas vozes do setor continuem a ditar um caminho que, para aqueles que efetivamente o realizarão, parece extremamente improvável. 



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Luiz Carlos Corrêa de Carvalho e Nilceu Piffer Cardozo
Diretor da Canaplan e Diretor da Solucrop, respectivamente
Fonte: Revista Opiniões
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