União Nacional da Bioenergia

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Nordeste tenta retomar a produção de cana e de biocombustíveis
Mecanização e reaproveitamento de dejetos estão nos planos das empresas do setor na região
Publicado em 02/09/2024 às 15h15
Foto Notícia
Fórum em Recife (PE) debateu os desafios e oportunidades nos setores de biocombustíveis, etanol e energias limpas
Foto: Valdenio Vieira/SEAUD-PR
Produção de cana-de-açúcar mais mecanizada, reaproveitamento de dejetos como vinhaça e investimento para geração de biocombustíveis e etanol são os principais desejos da indústria sucroalcooleira do Nordeste, segundo abordaram especialistas no 10º Fórum Nordeste, evento que reúne a cadeia de todo o Brasil, realizado nesta segunda-feira (2/9) em Recife (PE).

Para isso, empresários e autoridades vêm na reforma tributária uma solução para maior arrecadação do Nordeste e, consequentemente, recursos para uma gradual industrialização. Em Pernambuco, o maior desafio da cana-de-açúcar ainda é a colheita majoritariamente manual devido ao relevo nada plano da Zona da Mata.

De acordo com Eduardo Queiroz Monteiro, presidente do grupo EQM, um dos maiores com três usinas e capacidade de moagem de 4,7 milhões de toneladas em média, nos últimos anos houve uma desaceleração das usinas em Pernambuco, que saíram de 38 para 13 em operação atualmente. Por outro lado, o volume produzido não caiu tão bruscamente, acrescenta ele, e saiu de 20 milhões de toneladas para 14 milhões na safra 2023/24.

“As usinas que restaram tem uma situação muito consolidada, que resistiram e tiveram resiliência, foi um processo bem duro e selvagem de centralização e concentração [das usinas no Centro-Sul do país]. No fim, sobrevivemos e estamos perto dos portos, das grandes cidades, temos infraestrutura para exportação privilegiada que estão perto das usinas e, ao mesmo tempo, estamos discutindo com o Centro-Sul uma pauta comum”, falou à reportagem.

Para ele, rediscutir um salto no Nordeste e, ao mesmo tempo, uma retomada dessa produção em Pernambuco é olhar para a instalação de indústrias verdes, de olho em biocombustíveis, como biogás, biometano a partir de resíduos como a vinhaça, além de etanol para contribuir com a descarbonização. “Nós dependemos muito ainda do corte manual da cana, porque o desafio é nas áreas de topografia acidentada”, destacou.

Segundo ele, a mecanização da colheita da cana está melhorando, mas ainda todas as usinas do Estado têm apenas 40% das áreas plantadas em terreno plano, o resto fica no relevo de encosta o que nos obriga a procurar máquinas adotadas a esta realidade. Essa cana que é cortada a 500 anos no facão tem sido motivo de buscas na biotecnologia, na genética e na mecanização de encosta que é o maior desafio do Nordeste”, ressaltou.

O grupo responde atualmente por três usinas - a Cucau, em Rio Formoso (PE), outra em Rio Largo (AL) e a mais recente em Arês (RN). Segundo Monteiro, os investimentos nas três unidades estão voltados à produção de biocombustíveis. Inclusive, a localizada no Rio Grande do Norte, a Estivas, será a primeira a fabricar biometano de alta pureza em parceria com a ZEG Biogás, da Vibra Energia, com 50% de participação Grupo EQM.

Reestruturação nordestina

O debate não é novo, como pontua o empresário, mas na região Nordeste está em reestruturação e implementação, por isso que o evento ajuda a reunir representantes da cadeia brasileira para trocar ideias e "convergir projetos", acrescenta.

"Para um passo de expansão de biogás, de biometano, de hidrogênio (que ainda está longe) nós estamos buscando em grupos que investem para que possamos ser fornecedores desses grupos, seja através da vinhaça ou da fermentação do etanol. O grande desafio é que para dar esse salto nós vamos precisar que grupos importantes abram o capital, ter acesso a linhas de créditos, temos que pensar no mercado de capitais até mais do que no mercado financeiro”, avaliou Monteiro.

Atualmente, o grupo investiu na construção de três plantas para produção de biocombustível que estão anexadas às áreas das usinas. Sem falar números, já que o projeto recente, Monteiro aposta na indústria verde como o maior salto do Estado para a industrialização, já que o desafio da produção de cana no Estado, acrescenta ele, é que a colheita ainda é manual em muitas das propriedades.

A cultura da cana-de-açúcar está relacionada à colonização de Pernambuco. Na cena cultural da capital Recife, teatros ocupam o lugar de armazéns do açúcar. No entanto, o Estado foi perdendo força na produção ao longo dos últimos 50 anos. O setor, porém, vê impulso em investimentos industriais para produção de energia renovável e etanol a partir da commodity e se organizam para tentar saltar na verticalizarão do produto e na melhora da cadeia, destinando o que é resíduo, como a vinhaça, para biocombustíveis.

O presidente do grupo Ouro D’água, Gilberto Tavares, também considera as condições de relevo muito difíceis para mecanizar e o índice pluviométrico oscilando muito, com anos de secas e anos de chuvas, o que atrapalha muito o crescimento. "Hoje, estamos no limite máximo da produção e todas as áreas estão ocupadas pelas usinas que restaram”, falou à reportagem.

A capacidade do grupo é de moagem de 5 milhões de toneladas ao ano. Na safra 2023/24, o resultado foi de 4,7 milhões e a expectativa é repetir a safra anterior devido aos custos e ao clima, ao passo que o empresário não prevê incêndios como os de São Paulo. "Como convivemos muito com a seca, a nossa prevenção com brigadas e caminhões-pipa é constante, e quando acontecem, as queimadas são pontuais”, afirmou.

Projetos verdes

Em relação aos projetos verdes, Tavares contou que o grupo está analisando os investimentos em biometano, pois o aporte é milionário e precisa de muito estudo, situação da maior parte das indústrias de Pernambuco, que, segundo ele, está na transição verde. Ele contou que é necessário não investir errado e na safra 2024/25 já foi investido 200 milhões para custear uma fábrica de açúcar em Pedra de Fogo (PB), que foi uma forma de verticalizar a produção no varejo e, como próximo passo, é tentar investir em sustentabilidade através de energias renováveis.

Durante o encontro, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil (MDIC), Geraldo Alckmin, ressaltou que o avanço das usinas associado à produção de biogás, biometano, hidrogênio de baixo carbono também vai depender de como é feita essa produção.

"Temos muita oportunidade e o Brasil é um dos principais países a oferecer segurança energética limpa no combate a mudança climática. Para isso, a reforma tributária vai ajudar e o Nordeste será muito beneficiado com o aumento da arrecadação ao longo do tempo, ajudando a indústria, inclusive da cana, a agregar valor”, disse Alckmin.

Atualmente, Alagoas, Pernambuco e Paraíba são os principais produtores de cana-de-açúcar do Nordeste.
Isadora Camargo
Fonte: Globo Rural
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